Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Nota de Agradecimento, por Rui Daher

Por Rui Daher

Na sexta-feira, 10 de junho, quando anunciei intenção de ir ao ato na Paulista foram tantas as advertências que, no dia seguinte, achei justo usar a minha página na rede digital para tranquilizar familiares, parentes e amigos de que meu ponto final não ficou no Cemitério do Araçá, a parada nas Clínicas foi o tempo de as portas se abrirem e fecharem, e a chegada à Vila Madalena foi difícil apenas quando contrapôs o desejo de entrar num Dominó de Botequim para “mais uma” e o juízo de uma sopinha quente em casa. Postei uma “Nota de Fortalecimento”.

Pensando como consultor de gestão, poderia classificar em três planos os argumentos que tentavam obstar minha aventura:

O físico: Está velho, só anda de carro, meteu uma ação contra o seguro-saúde, diabético, cardiopata, troca os óculos pelas chaves de casa, fica nervosinho e tenta cutucar com o guarda-chuva garotões coxinhas burros, aos gritos de ‘vão ler, vão ler’, se engraça com moças bonitas e pode entrar fácil num ‘boa noite, Cinderela’. Mas se for, não beba muito, tome água, coma alguma coisa, cachaça te derruba, toma Cynar, fique de olho no celular.

O político: Fazer o que lá? Só você ainda não percebeu que eles voltaram para ficar. Mais uma vez a esquerda fez merda e eles fizeram renascer o poder das elites. Ainda que “a organização” propale lá estarem 3 milhões de pessoas, a Polícia Militar (PM) contará até cem, e a Globo e o Datafolha calcularão 3 – você, o Fernando Juncal e aquela estudante de Letras na USP que só sobrevive nas suas ficções.

O profissional: Agora, veja aonde pode chegar sua porra-louquice. Puta perrengue econômico, durango, mais pra protestado do que pra protesto, vai gritar “Fora Temer” do ladinho do prédio da FIESP, onde tomam o chazinho das cinco todos os caras que te acham inteligente, simpático, honesto, trabalhador, E DE DIREITA (!) ou, pelo menos centro. São sócios, patrões, clientes, investidores, reacionários, que circulam naquela região e apoiam o golpe. E você lhes oferece um “Rancho da Goiabada”, de pingentes, favelados e balconistas? Tu tá louco? Vai como? Adesivo ‘Dilma Coração Valente’, camiseta da CUT, boné do MST? Depois disso, como vamos viver? Com o que não te pagam para não escrever é que não vai ser.

NÃO três vezes sempre me faz chamar Yolanda, a Mamãe do Céu, para uma conversa. Suas ironias já me salvaram muitas vezes:

– Tu (ela era gaúcha) é bestinha desde criança. Sempre achando que o mundo te percebe. Mas desta vez te aconselho a não ir. Perigoso. Acabo de ler aqui, num jornal editado pelo Tarso de Castro, que o Sérgio Moro vai lá prender o Lula. Quer mostrar que é realmente paranaense.

Fomos em paz. Já ia longe, quando gritou: “E não deixe de agradecê-los”.

Certamente irei esquecer-me de muitos, mas não poderia deixar de agradecer a todos que construíram esse golpe. De Cunha a Temer, Gilmar a Janaína, às famílias Marinho, Frias e Mesquita, às revistas semanais Veja, Época, Isto É, economistas neoliberais, todos, mas todos mesmo, os milhares de famílias que enunciaram pérolas políticas vestidas de amarelo, como os patos do Skaf, e bateram em panelas.

Vocês me devolveram a gana de ser oposição e lutar contra o acordo secular de elites que tanto preservam. Preparem-se. Treinei muito para este momento. Foi o que percebi em 10 de junho. Hasta la muerte! De preferência, a de vocês. Estou entre usar a “Irene” ou a AK-47. 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

30 Comentários

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    1. Carlos Assis, Marco, Sérgio e Carlos Eduardo,

      Feliz em ter leitores como vocês. “Odiar política” e depois patos amarelos financiarem seus candidatos à política, é burrice, ganância e sem-vergonhice. Entre as vitórias das esquerdas e ditaduras, eles ficam com as últimas. Abraços   

  1. Não podemos simplesmente

    Não podemos simplesmente aceitar essa corja. Parabéns ao autor pelo texto, ao menos sabemos pelo erro e acerto que algumas coisas não tem jeito. A globo p ex. Ou aquele seu vizinho que dizia “odiar politica” ele não odeia, ele odeia é ter a esquerda no comando. Voltaremos, a Historia é um ciclo.

  2. Não podemos simplesmente

    Não podemos simplesmente aceitar essa corja. Parabéns ao autor pelo texto, ao menos sabemos pelo erro e acerto que algumas coisas não tem jeito. A globo p ex. Ou aquele seu vizinho que dizia “odiar politica” ele não odeia, ele odeia é ter a esquerda no comando. Voltaremos, a Historia é um ciclo.

      1. Hahaha,
        Se eu pudesse…Não

        Hahaha,

        Se eu pudesse…Não tenho nem prá mim. O jeito então é gemada e canjinha de galinha todo dia. Era assim o spa dos nossos avós.

  3. Antigamente, somente os que

    Antigamente, somente os que eram contra regime ditatorial protestavam, hoje, os que são a favor tambem reunem-se para apoiar. Antigamente, os chamados subversivos lidavam somente com um oponente: os militares. Hoje, são vários oponentes, sobressaindo-se dois: os militares e os enraivecidos coxinhas.

    1. Motoboy,

      as diferenças que você sugere são fundamentais para pensarmos as novas etapas no sentido de um país menos desigual. A elas acrescentaria os interesses externos, hoje, com a globalização, muito mais vulneráveis e explícitos quando o País ensaiou uma arrancada rumo ao crescimento. Abraços

    1. decrepitude….

      Caro Sr. Rui, não tem muito a ver com seu artigo, mas tem com o neoliberalismo em gerir o país. Abuso novamente do Face caboclo. Deixaram de lado o acidente de ônibus na Mogi Bertioga SP 98 (se fosse BR?!). Aquele caminho de tropa de mulas que um dia foi asfaltado e hoje chamam de rodovia PRIVATIZADA. Rochedos a 2 m da pista sem acostamento, sem defensas ou qualquer tipo de proteção. De um lado penhasco, do outro rochedos em pista extremamente simples, sinuosa, com declive acentuado . A RGT omitiu a manhã toda a noticia, até saber de algum “podre” sobre o ônibus, o motorista, a Cia, as licenças. Não existindo, começou a veicular a noticia insinuando defeitos sobre a conduta do motorista morto. Mesmo com vitimas atestando a baixa velocidade, o cuidado e o tacógrado atestando tais fatos. Como livrar a cara do Estado de SP, do governador, da politica de privatizações, da Concessionária, que até agora não ouvi o nome? Hipócrita está este país. Como em Mariana/MG, em Santa Maria/RS não houve acidente. Houve negligência. Houve omissão. Houve cumplicidade, O que houve foram assassinatos. O Estado, como maior culpado, sem ter como se livrar das suas responsabilidade e esfregar a cara de outros na mídia tenta se esconder, enquanto o Judiciário se omite. Abs.

      1. Caros Zé Sérgio e Maria de Fátima,

        Zé, a sua percepção sobre as mazelas e suas causas no Brasil é bastante ampla. Ainda assim, muito do que damos atenção é o que nos chega através de uma mídia viciada e voltada apenas aos interesses comerciais. Talvez, se pudéssemos explorar cada quilômetro de chão deste País, poucas as virtudes que encontraríamos. Com a lupa veríamos exploração dos ricos e “imploração” de pobres. Daí a grandeza da frase de Nietzsche sugerida pela Maria de Fátima. Vale muita reflexão.Abraços. 

  4. ;;belíssimo texto, exemplo

    ;;belíssimo texto, exemplo a

    ser seguido pelos resistentes históricos…

    posição dos que, na minha visão, não pretendem jogar

    uma vida em defesa da democracia na lata do lixo da história…

     

     

  5. Delícia de texto. Também

    Delícia de texto. Também somos da “melhor” idade e as advertências são muitas, as preocupações imensas. Mas vamos e encontramos muitos de nós. Valeu

    1. Reparei mesmo muitos

      da melhor idade. O que já passamos nos ensinou a ver rumos estranhos para um País de pobres que assim devem continuar. Abraços

  6. Muito inspirativo!

    Rui,

    Seu texto é muito inspirativo porque nos leva a refletir sobre o sentido de momentos únicos e emblemáticos que a vida nos dá.

    Parabéns e muito obrigado!

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