[re]encontros
por Zê Carota
recém lancei meu livro de estreia, Dropz – crônicas pop-proletárias e tostões de amor, que superou minhas expectativas mais otimistas tanto em vendagem quanto em repercussão – e tornar-me cronista do Jornal GGN, uma delas.
autor inédito e desconhecido, eu não esperava isso, que dirá estar preparado para o mais do que surpreendente retorno humano que Dropz me proporcionou, tendo meu falecido e saudoso pai como “ponte”.
toda a vendagem do livro deveu-se a meus quase 4 mil leitores no Facebook, dos quais conheço pessoalmente menos do que 100, o que não impede uma relação respeitosa e cordial com todos, e em alguns casos, pelo volume de afinidades – políticas, culturais e humanas –, mesmo sem o contato pessoal, a descoberta do que costumo chamar de minhas mais recentes amizades de infância – caso de Juliana.
somos conterrâneos [Sampa], ideologicamente alinhados à esquerda, gostamos de bichos, punk rock, cigarros – e ninguém tem abacate com isso –, e com encantadora surpresa descobrimos que nossos pais foram amigos desde os primeiros topetes lambuzados com Gumex, assistindo e cabulando aulas no Ginásio 7 de Setembro, no Cambuci em que seus pais de procedência italiana sentaram praça e criaram família, e tudo isso foi descoberto a partir da chegada de um dos exemplares de Dropz que Juliana comprou, especificamente o que deu como presente de Natal à sua mãe.
aberto o embrulho por Dona Leda, o marido, Seu Cláudio, reconheceu meu sobrenome na capa do livro, dizendo: “No 7 de Setembro, fui amigo de um Carota, o Euclides”, ao que Dona Leda, via Whatsapp [vide prints], pediu à filha assuntar se era meu pai, o que, via Messenger, Juliana fez, e, ainda surpreso, antes que eu confirmasse, Dona Leda repassou mais duas memórias ocorridas a Seu Cláudio, para checagem: se meu avô se chamava Angelo e morava na Lins de Vasconcelos, o que, às lágrimas de esguicho, confirmei à amiga, eliminando qualquer dúvida. mais de 50 anos depois, por meio de seus filhos, Seu Cláudio e meu pai se reencontraram.
a primeira reação de Seu Cláudio foi buscar fotos da época, que num caso desse são cromos dos filmes que entram em cartaz em nossas memórias e corações, quando nos sentimos como o já adulto Totó, em “Cinema Paradiso”, revendo os cromos das cenas proibidas pelo padre que o querido projetista Alfredo lhe deixou como herança.
de minha parte, após relatar o episódio para minha mãe, que conheceu meu pai no mesmo Ginásio 7 de Setembro, passei um café, acendi um cigarro, mergulhei em lembranças e pensamentos, e concluí: o tempo todo, estamos todos aí, faltando apenas os [re]encontros – e, pelos mais improváveis meios, eles sempre se dão.
Seu Cláudio, acho que nos devemos um abraço saudando a isso.
ps: até então, meu único aborrecimento com Dropz era a ausência de meu pai. não importando como, faltava a sua participação num dos momentos mais especiais de minha vida, daqueles que guardarei para sempre. não falta mais.
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Não conheço os envolvidos mas emocionei junto.
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