Casa do Jornalista amplia diálogo com a cidade

Lançamento do Projeto de revitalização chega no momento certo e carrega mensagem para que jornalistas, trabalhadores e cidadãos enfrentem com coragem o difícil momento atual em que a democracia se vê novamente aviltada pelo golpe de 2016
 
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Foto: Da esquerda para a direita: Mauro Werkema, Thiago de Azevedo Camargo, Kerison Lopes, Ângelo Oswaldo, Laura Penna, Paulo Henrique Vasconcelos e Alessandra Melo, de pé, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG).
Crédito: Euler Jr.
 
Jornal GGN – Colhida no vocabulário popular por João Guimarães Rosa para mostrar que no Grande Sertão Veredas o importante não está nem na partida nem na chegada, mas no meio da travessia, a expressão ganhou força. Virou letra de música de Fernando Brant na voz de Milton Nascimento. E, agora, Travessia é o nome do Projeto de Revitalização da Casa do Jornalista e do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), lançado em 28/06, na sede da entidade.
 
Assim, o tradicional endereço ‘Avenida Álvares Cabral, 400’, ressurge como referência de cultura e liberdade em Belo Horizonte. “Regularizar a papelada da Casa do Jornalista e mudar o estatuto para virar fundação não foi fácil, mas valeu a pena”, disse o veterano jornalista Mauro Werkema, antes de passar o cargo ao seu sucessor, o jornalista Kerison Lopes, ex-presidente do SJPMG. Para isso, ele lembrou que contou com o apoio de muitas pessoas que não se curvam diante de ameaças contra a democracia e que defendem uma imprensa livre.
 
“Com o fim do imposto sindical fica cada dia mais difícil arcar com os custos de manutenção do sindicato e da Casa do Jornalista”, justifica a presidente do SJPMG, Alessandra Melo. Mesmo porque as empresas jornalísticas enxugam os quadros de pessoal em todas as redações. Diante de tempos tão difíceis, a busca por soluções virou meta para a atual diretoria do sindicato que tem se desdobrado para preservar a representatividade dos jornalistas mineiros. Daí a ideia de abrir uma passagem com lojas entre a Casa do Jornalista e o escritório de arquitetura de Gustavo Penna, uma casa centenária, da vizinhança ao lado.
 
Aliás, sugestão antiga do próprio Gustavo Penna, representado durante o evento, pela filha, Laura Penna, arquiteta e urbanista, que compartilha com ele a ideia.  “Queremos que a Álvares Cabral, 400 volte a ser a Casa da Liberdade”, disse Werkema, lembrando que o país está, novamente, em um difícil momento de travessia. E completou: “A Casa do Jornalista é importante pela parte cultural e da memória em defesa da liberdade”.  
 
Para o novo presidente, é importante reconstituir a Casa do Jornalista, entidade criada em 1965 pelo Sindicato dos Jornalistas, parceira e irmã, num momento em que a organização sindical é novamente atingida com o fim do imposto sindical e com as mudanças da legislação trabalhista recentes. Temos uma história. Desde bomba na porta como intimidação, passando por reuniões e eventos diversos, a formação de novos sindicatos, dos quais quatro deles nasceram ali dentro.
 
O projeto se tornou possível com o apoio do governo de Minas, por meio do empenho do secretário de Estado da Cultura, Ângelo Oswaldo, com recursos da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) para a primeira fase da obra que vai modernizar e ampliar a capacidade do local em 50%, pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura, e a adesão do empresário Paulo Henrique Vasconcelos, presidente da PHV Engenharia, animado pelas sugestões do arquiteto e amigo Gustavo Penna.
 
Para o diretor de Relações Institucionais e Comunicação da Cemig, Thiago de Azevedo Camargo, a Lei de Incentivo à Cultura de Minas Gerais é um mecanismo importante para que empresas possam contribuir com os projetos culturais no estado. “Sabemos que a Cemig sempre esteve engajada na promoção cultural e na preservação do patrimônio histórico e cultural mineiro. E a possibilidade de fazer repasses por meio de leis de incentivo é uma das formas pela qual a companhia participa ativamente desse processo”, comentou. 
 
A companhia apoia mais de 500 projetos em todas as regiões do estado. Thiago de Azevedo Camargo destacou a importância da imprensa para a democracia no Brasil: “A liberdade de imprensa é a base da democracia e por isso está resguardada pela nossa constituição. Quanto mais forte, mais soberana e plural a imprensa, mais protegida estará a sociedade em seus direitos. Todos nós temos responsabilidade nessa questão. É preciso apoiar e valorizar os jornalistas, que têm a responsabilidade de ajudar a sociedade a informar-se, garantindo o acesso e a democratização da informação”.
 
Quanto ao Projeto Travessia, não será complicado. Mas não vai faltar charme, como em Paris, com galerias que abrem espaço nas cidades e descortinam novos cenários do outro lado. Sempre surpreendentes, como a Rua Huchette, com apenas dois quarteirões, entre o Boulevard Saint Michel e Saint German, com as baguetes francesas recheadas com carne de carneiro no melhor tempero marroquino e queijos diversos. Ou os churros com chocolate quente do beco da Chocolateria Sant Ginés, em Madri, desde 1894, aberta 24 horas.
 
Ideias e negócios também não vão faltar. As reformas vão caber dentro da realidade atual. O projeto inclui a revitalização do Espaço Cultural Casa do Jornalista, reformado, com entrada independente, ar condicionado, palco e telhado novos, além de cobertura lateral. A capacidade instalada passará de 120 para 180 pessoas. E a travessia, uma passagem pública ligando a Avenida Álvares Cabral à Rua Espírito Santo, numa extensão de 150 metros vai incluir lojas e espaço cultural sem sacrificar a arquitetura da sede do sindicato.
 
A casa perde parte da entrada lateral em frente ao portão, onde já existe um pequeno estacionamento ao lado do jardim. “O entusiasmo do Gustavo Penna é contagiante”, disse Paulo Henrique Vasconcelos. O declive pequeno entre a Avenida Alvares Cabral e a Rua Espírito Santo facilita a realização do projeto, explica. Para ele, a escolha foi simples e adequada ao momento economicamente difícil para grandes projetos.
 
O espaço será integrado ao mezanino no novo prédio, que a PHV vai inaugurar em breve, na vizinhança, até a Rua Guajajaras, e que, no futuro, pode vir a se chamar Praça da Notícia. Já o escritório do arquiteto Gustavo Penna, uma casa em estilo neoclássico ao lado do sindicato será o vizinho da outra margem do Projeto Travessia e completará o conjunto arquitetônico. A cidade vai respirar um pouco mais cultura e conhecimento, ampliando diálogo com os moradores.
 
Segundo Ângelo Oswaldo, Gustavo Penna sonhou com a Casa do Jornalista desde que se formou em arquitetura. “O sonho se concretizou com a PHV e a Cemig”, destacou. Ele citou o livro “Paris, a capital do século XIX”, de Walter Benjamin, com passagens entre avenidas, espaço para comércio e cultura. No Brasil, algumas cidades como o Rio de Janeiro criaram as galerias, uma espécie de rua surpresa que se abria em outro lugar. Uma forma de reinventar a cidade, que o Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais redescobriu como o Projeto Travessia. Ganham os jornalistas, a cultura e a cidade.
 
O diretor de Relações Institucionais e Comunicação da Cemig disse durante o evento que estar ali, naquele momento, cercado de pessoas como o secretário de Cultura, jornalistas talentosos e a presidente do Sindicato, Alessandra Melo, com um entusiasmo especial, deu vida ao projeto, que vai transformar uma casa histórica em mais um espaço cidadão de Belo Horizonte. O projeto Travessia surge quando se vivencia dificuldades pelas quais é preciso atravessar. “A travessia vai ser dura e longa, mas é preciso consolidar a democracia. Nada é mais importante nesse momento do que garantir a mídia livre”, disse Thiago Camargo. 
 
A Casa do Jornalista é um espaço cultural multiuso, voltado para música, fotografia, artes visuais, literatura, artes cênicas, audiovisual e arte digital. Apesar do nome, o espaço não se restringe ao público ligado à imprensa. É utilizado pelos mais diversos grupos culturais.
 
Redação

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