Celso Furtado, o filósofo social

Prezados geonautas,

O novo livro, “ESSENCIAL CELSO FURTADO”, Cia das Letras, 2013, é uma mudança de paradigma, pois a forma como foi pensado e elaborado por Rosa Freire D´aguiar, procura resgatar a dimensão desse grande pensador brasileiro. Meu post de 22/09/2012, “Celso Furtado: um economista ou filósofo social?“, está entre aqueles que cobraram uma mudança de postura nesse contexto, que ultrapassa de longe, o mero “homo economicus“. Eu tenho lado, Celso Furtado economista uma ova, cara pálida, como ele mesmo se define, em texto inédito no Brasil, escrito originalmente em francês, 1973:

(..) “Quando finalmente comecei a estudar economia de modo sistemático, aos 26 anos, minha visão do mundo, no fundamental, estava definida. Desta forma, a economia não chegaria a ser para mim mais que um instrumental, que me permitiria, com maior eficácia, tratar problemas que me vinham da observação da história ou da vida dos homens em sociedade. Pouca influência teve na conformação do meu espírito. Nunca pude compreender um problema estritamente econômico. Por exemplo: a inflação nunca foi em meu espírito outra coisa que a manifestação de conflitos de certo tipo entre grupos sociais; uma empresa nunca foi outra coisa que a manifestação do desejo do poder de um ou vários agentes sociais, em uma de suas múltiplas formas etc.” (pág. 45).

Tive a oportunidade de dizer ontem à Rosa Freire, no lançamento do livro na FGV-SP, que estava contente pelo fato, mas ainda não satisfeito, pois creio que este é um trabalho que deve ser perene e de longa data, numa coletânea que abrange vida e obra desse grande filósofo, aquela elite rara que pouco se houve no Brasil, porque pouco há. Diria que as elites no Brasil podem ser divididas, numa síntese, em dois grandes blocos, a elite euro-russa e/ou euro-francôfona, que tem em comum o prazer de comemorar a independência de 14 de julho, e a elite euro-americana, que tem o prazer de comemorar a independência de 4 de julho, mas o inusitado é que, nenhuma delas chegou ainda na independência de 7 de setembro, continuamos basicamente em pleno século XXI, com as definições do século XIX de Joaquim Nabuco e Euclides da Cunha, “a elite só sabe olhar para o outro lado do atlântico“, e “o povo é melhor que sua elite“. Um Brasil nação soberano é uma construção a perder de vista, em lento progresso.

Site da COMPANHIA DAS LETRAS (com trecho em pdf para download):

http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=85097

Até seu último texto, escrito duas semanas antes de morrer, o economista Celso Furtado viveu seis décadas de produção constante, que abrangeu um amplíssimo leque de reflexões. À problemática do subdesenvolvimento que esteve no centro de suas preocupações na Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), acrescentou, ao assumir funções de governo a partir de 1958, a questão regional nordestina e o planejamento. Em seguida, os anos do exílio foram os mais fecundos de sua produção acadêmica. Suas tarefas universitárias juntam-se ao desafio de entender os rumos do Brasil e de uma conjuntura mundial em plena mutação. A moldura conceitual se expande em direção às outras ciências sociais, à cultura e à filosofia. O retorno ao Brasil, depois da anistia, dá origem a trabalhos de política econômica, alguns muito combativos. Depois desse momento conturbado, Furtado aceita desfrutar de certo repouso para se dedicar a uma escrita mais amena, suas memórias. A partir desses múltiplos interesses, o propósito da antologia é destacar quatro linhas essenciais no pensamento do grande economista. O eixo “Trajetórias” reúne textos de cunho autobiográfico. O núcleo mais relevante de sua obra é, evidentemente, o “Pensamento econômico”, subdividido no Essencial em teoria e história, cobrindo um período que vai de 1961 a 1994. A problemática do subdesenvolvimento é seu fulcro. De seu livro mais conhecido, Formação econômica do Brasil, marcadamente de história econômica, se inclui o capítulo “Os mecanismos de defesa e a crise de 1929”. A esse núcleo se seguem “Pensamento político” e, por fim, o tema da cultura, que fecha o volume, e tem um lugar destacado no pensamento de Celso Furtado, preocupado a partir de meados dos anos 1970 com a dimensão cultural do desenvolvimento, ou melhor, o elo explícito entre cultura e desenvolvimento.


Luis Nassif

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