Como as redes sociais ajudam a entender os rolezinhos

Sugerido por Gunter Zibell – SP

Do IDGNOW

Redes sociais ajudam a entender o rolezinho pela ótica da cultura e do consumo 

Por Cristina de Luca

Tome como ponto de partida o desejo de compreender os reais objetivos e intenções dos jovens que têm protagonizado os “rolezinhos” nos shoppings da capital paulista. Junte a expertise de profissionais treinados a tentarem entender novos hábitos e comportamentos em todas as classes sociais. Acrescente o domínio de ferramentas de netnografia para análise  semântica e de sentimento, além de técnicas de pesquisas qualitativas, in loco. Dedique várias horas extras de trabalho ao longo de uma semana. E, por fim, promova um profundo debate dos dados e impressões coletados on e offline. O resultado é um retratado do fenômeno que mais tem movimentado a mídia nas grandes capitais brasileiras sob a perspectiva do comportamento, das marcas e da comunicação, que não só fornece um repertório grande para entender os “Brasis” em que vivemos, na opinião de Fernando Diniz, Head de Planejamento e Social Media da F.biz, como ajuda a agência a exercer o seu papel de radar e hub cultural que instigue o pensamento criativo e seja relevante, talvez até inovador, para o negócio do cliente.

Esta é a segunda grande imersão feita pelos profissionais da F.biz sobre manifestações que têm sacudido o país nos últimos meses. A primeira mergulhou nas manifestações de junho de 2013 e rendeu  muitos debates com clientes da agência. A segunda, sobre as diversas matizes dos rolezinhos _ especialmente os da semana entre 16 e 23 de janeiro _  desafia a ideia corrente de que o fenômeno esteja relacionado fundamentalmente na tentativa de ocupação de espaços elitizados com pretensões sociais.

Uma constatação importantíssima feita a partir das três frentes de observação abertas pela F.biz _ o trabalho semântico, a leitura de perfis nas redes sociais e a interação presencial nos rolezinhos do sábado, 18/1 _ é a de que o discurso político de movimentos de defesas das minorias, como o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e a União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os e Classe Trabalhadora (Uneafro), não está presente entre os reais motivos para a organização dos rolezinhos tradicionais.


Além disso, a imersão realizada pelo time de planejamento da F.biz revela aspectos pouco conhecidos sobre o consumo da periferia − seus valores, espaços e comportamento digital.

“Você vale o que tem”, refrão do funk ostentação de autoria do MC Guimê, é o que na opinião dos profissionais da F.biz melhor resume o que está por trás do polêmico rolezinho: a autoexpressão por meio do consumo.  “A garotada que deu início aos rolezinhos consome sem cerimônia. Não tem nenhum sentimento de culpa por ser consumista. Para eles, ter é muito mais importante que ser. O que eles têm diz muito mais sobre eles”, explica Diniz. Contrariando a lógica de target ou marketing, marcas desenvolvidas com o ideal de luxo dialogam − e muito bem − com a galera do rolezinho. Engana-se quem acha que elas são só para a classe A: a classe emergente também é um importante consumidor.

O desejo desses consumidores se volta para os produtos reconhecidamente caros e cujos modelos são facilmente identificáveis, seja por suas cores vibrantes ou logomarcas grandes, por exemplo. O foco desse tipo de consumo está no valor do produto em si, e não em sua funcionalidade.

Portanto, segundo a F.biz, na cabeça dos jovens da periferia, o rolezinho tem objetivos muito simples: encontrar os amigos, paquerar, cantar funk e comer um lanche. Tudo isso embalado por dois ingredientes fundamentais: uso de marcas e muita ostentação. Por oferecerem um ambiente seguro de lazer, os shoppings foram eleitos pelos jovens como um ponto de encontro. Além disso, os shoppings são palcos para a autoexposição. A Internet, idem. Usados para registrar o encontro com ídolos e amigos, máquinas fotográficas e smartphones são itens obrigatórios no rolezinho e o conteúdo produzido a partir deles alimenta os perfis dos frequentadores nas redes sociais, reforçando seu estilo de vida e consumo.

O uso das redes sociais também amplia o alcance da convocação para participação. Hoje, mobilizar o maior número de pessoas do espaço virtual para o espaço físico é um sinônimo de popularidade para os organizadores. “Rolê bom é rolê lotadão”.

Diniz ressalta que o estudo da F.biz não tem o rigor científico de uma pesquisa.  A ideia surgiu do interesse em fazer um retrato/provocação, e não um algo definitivo, dada a complexidade do tema e suas variáveis. Como provocação, funciona. Suscita vários questões. Entre ela, uma emblemática, a meu ver.

“Esses jovens têm dinheiro disponível para gastar com aparência e beleza e estão dispostos a consumir sem pensar no amanhã. Salários inteiros são utilizados em uma compra, que pode ser comparada a valores gastos pela classe A em um dia no shopping. Parcelado ou à vista, o importante é adquirir o produto original das marcas mais cobiçadas”, afirma a F.biz. Também estão começando a se tornar consumidores exigentes, mais críticos. As marcas que consomem precisam entregar meios para ajudá-los a realizar o que prometem. “Não podem ficar só na comunicação. Precisam ajudá-los a transformar as suas vidas”, afirma Diniz.

Do ponto de vista do consumo, será que expulsá-los dos shoppings, proibindo a realização dos rolezinhos, é a melhor estratégia? O que pode ser feito para que os rolezinhos não descambem para a violência e o vandalismo? Para que não sejam indevidamente apropriados também por baderneiros? Esse é um debate que os administradores de shoppings centers terão que fazer, mais cedo ou mais tarde.

PS: Não sei quanto a vocês, mas essa cultura do consumo me assusta, não pelo fenômeno dos rolezinhos, mas pelos outros fenômenos, previsíveis _ além dos muitos ainda imprevisíveis _ que pode provocar.

Redação

14 Comentários

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  1. Existe alguma lógica simples

    Devemos agregar como ingrediente, a “falta do que fazer” em que a juventude se encontra, hoje de férias e, quando estão em aulas, apenas parcialmente utilizam o seu tempo, pela falta de escola integral. Desejam brincar e paquerar.

    O fato de acontecer o rolezinho nos Shoppings obedece a várias razões: 1) Jovens são autorizados com maior facilidade pelas suas famílias, por causa da maior segurança do espaço; b) existem bebedouros gratuitos; c) existe onde sentar e d) existem bons banheiros. Ver vitrines e gente bonita é mais um atrativo.

  2. De tanto “entender” a baderna

    De tanto “entender” a baderna o Pais vai tolerando o caos nas ruas, Governo que não controla as ruas não governa.

  3. Vendo de longe a impressão

    Vendo de longe a impressão que tenho é a que está no texto, mas isso também me assusta. O consumir por consumir é indício claro que teremos uma geração profundamente materialista, superficial e ignorante, completamente incapaz de pensar e resolver os problemas do país. Se os meios de comunicação, políticos e instituição desejavam criar uma geração de retardados mentais, temo que conseguiram.

  4. JOSEPH FOUCHE E O CONTROLE

    JOSEPH FOUCHE E O CONTROLE DAS RUAS – O Imperador Napoleão Bonaparte entendia de poder. Usou dois personagens grandiosos e detestaveis para a politica externa, o Principe de Talleyrand e para a policia interna, Joseph Fouché. Este ultimo foi o criador da policia politica moderna e garantiu a retaguarda de Napoleão com um sistema de espionagem e fichamento que era quase perfeito. Fouché vigiava 100.000 franceses, sabia seus movimentos e tinha absoluto controle das ruas.

    A Revolução Francesa começou com manifestações de rua e os politicos que se originaram desse movimento social sabiam da importancia de impedir esses movimentos contra seu poder, conheciam o proprio veneno.

    Assim como com Talleyrand, Napoleão não confiava em Fouché mas precisava de seus talentos. Deu-lhe o titulo de Duque de Otranto e dizia que sem o controle das ruas seu Governo não duraria um dia.

    A longa biografia de Fouché é um romance de astucia, método, visão de poder, capacidade de organização.

    Recomenda-se seu estudo aos ineptos governantes que não percebem que as ruas podem depo-los com facilidade se não controlarem o poder de manifestações sobre a politica, a primeira incapacidade é combater a Policia e não os manifestantes, a Copa está chegando e o Brasil se prepara para um vexame mundial tolerando manifestações que não são de forma alguma democraticas, nenhuma democracia solida permite que um grupo se sobreponha ao interesse de toda a população, representada pelo Estado.

    Há uma caolha interpretação no Brasil de que toda manifestação é democratica. Nas democracias de verdade manifestação só pode fazer com autorização da Policia, com hora para começar e terminar e no local que a Policia designar. Essa é a unica manifestação democratica, as que fecham ruas e derivam para a violencia são absolutamente anti-democraticas porque uma minoria se impõe sobre a maioria da população.

    A tolerancia com as manifestações de rua é o resultado final de um longo processo iniciado com as Diretas Já, a rua fazendo o jogo do poder sem limites, Governo que não controla as ruas não governa. O maior erro que um Governo pode fazer é desautorizar a Policia e desprestigia-la, o Estado tem o monopolio da violencia e a Policia é o unico instrumento do Estado para defender a sociedade contra o caos.

    1. Mas será que um governo do PT

      Mas será que um governo do PT pode confiar na polícia? O que me parece que o governo federal não tem controle algum sobre as várias categorias de forças policiais. Até mesmo a Abin não é confiável.

      Dá para confiar que os mascarados são mesmo Black Blocs? Dá para confiar numa polícia como a de São Paulo que afrontou diretamente o prefeito no caso Cracolândia?

  5. PS:

    Esta cultura do consumo existe há anos e é o que faz o capitalismo funcionar.

    A inadimplência no Serasa é a menor em 14 anos.

    E não é somente jovem que gosta de consumir coisas de marca. Adultos também gostam, não fazem por precaução.

  6. E queriam o que? Se o jovem

    E queriam o que? Se o jovem para se afirmar no grupo tem que ostentar porque o jovem de periferia não pode fazer isso? Mas não são tão inconscientes assim pois ao se perceberem consumidores e não serem reconhecidos como tal organizaram uma ocupação a força. Não deixa de ser um movimento político.

    A luta ideológica por igualdade se esgotou com essa geração de esquerdistas que está no poder. O que vem pela frente … vai se saber. Com certeza os moldes de organização da sociedade atual não cabe no futuro. A luta de séculos para a valorização do homem foi perdida na vitória do capitalismo sobre o socialismo. O mundo ficou melhor? Não e o vazio pode ser visto na sociedade americana onde toda semana tem um atirador matando pessoas em locais públicos.

  7. Que análise rasa….

    Embora tenha sido interessante listar tópicos que merecem atenção, a análise é precária e rasa….  Bastaria um pouco de Bourdieu e a economia das trocas simbólicas para entender que não se trata, no fundo, de consumismo, mas de disputa de poder simbólico, o que a elite faz diariamente com Louis Vuitton & Cia sem ser incomodada…

  8. Tá bom então. E aonde é que o

    Tá bom então. E aonde é que o consumismo explica as “correria” e os “apavora” nos shoppings?  Se eles já consomem marcas famosas, e gastam mais que a classe media tradicional, conforme li em algum lugar, qual a razão verdadeira dos rolês?

  9. Ideia

    Mas então está fácil para os Shoppings acabarem com os rolezinhos: basta cada um contratar uma equipe de agitprops para se infiltrar no rolê. Broxa qualquer adolescente rolezista.

  10. Estão analisando muito e investigando pouco.

    Primeiramente devo dizer que fui criado na periferia de São Paulo. Trabalhei, estudei, sou aposentado graças ao meus esforço pessoal, continuo trabalhando e para te disso está relacionado ao Não ENVOLVIMENTO com pessoas que vejo dizendo que não tiveram sorte ou oportunidade na vida por isso estão numa situação difícil. É impressionante e absurda essa discussão. Os verdadeiros jovens pobres, trabalhadores e que tem educação, da periferia, não praticam este tipo de ato ou vão a “PANCADÃO”. É inadmissível e inaceitável considerar isso como movimento cultural. Que movimento cultural é esse? Que tipo de consumidor é esse que corre pelos corredores? O verdadeiro consumidor não precisa “informar” pela internet ou convocar DEZENAS OU CENTENAS de parceiros para acompanharem numa compra? E digo mais não existe essa coisa. Estes jovens são realmente diferenciados, mas de todas as classes existentes de uma SOCIEDADE CIVILIZADA. Tem muita gente em seus escritórios ou consultórios OLHANDO PARA A LUA e realizando suas analises. Analise o que presenciei num deste “rolezinhos”.  Estava eu e minha esposa realizando compra no Sábado no Shopping Tatuapé em meados de Novembro/2013. Havia um grupo feminino e outro masculino (entre os “participantes” brancos(as), negros(as), loiros(as) e morenos(as)), não eram crianças e sabiam o que desejam fazer e expressar. Corriam em grupos pelos corredores do Shopping. O grupo masculino andava pelos corredores, gritando em direção do grupo feminino – “Eu quero comer o seu c……” e o grupo feminino gritavam palavrões em direção ao grupo masculino. Gostaria que os ilustres comentaristas participassem de um “rolezinho”, (sem câmeras e microfones ou quem sabe com os mesmos escondidos),  mas vá com a família participar deste “EVENTO CULTURAL” e tenho certeza que todos vão ficar “ENVERGONHADOS” com o que as “CRIANÇAS, JOVENS E ADOLESCENTES” praticam e gritam. Ficar num escritório ou num estúdio de radio, tv e etc. analisando os fatos……………… é muito fácil e não é o correto. Srs. analistas e comentaristas convido a todos a participarem do “rolezinho”, eu presenciei o “movimento”, não é nada cultural. A sua participação deve ser sem qualquer combinação com os participantes. E depois de a sua opinião. E volto a afirmar,…. jovem, pobre, da periferia, que trabalha, estuda e tem dignidade NÃO PARTICIPA DESSES “MOVIMENTOS CULTURAIS”. PENSE BEM ……EXISTE ALGUMA COISA “NO AR” QUE DEVE SER INVESTIGADA (E NÃO ANALISADA PELO MENOS NESTE MOMENTO)………TEM ALGUMA COISA ESQUISITA………..NÃO SÃO NORMAIS ESSES “MOVIMENTOS CULTURAIS”.

  11. Li 3 x e não entendi nadica de nada……

    Rolezinho é coisa de vagabundos espertos que peceberam a ausência de autoridade em 3 níveis: Ministerio da Justiça (Eduardo Martins Cardoso), Governador Geraldo Alckmin e Prefeito Fernando Haddad. Foram eles que “afinaram” no enfrentamento dos arruaceiros em junho passado. Foram condescendentes com os baderneiros tolhendo a ação da polícia. Foi um erro político. Criaram um clima de insegurança. Governo precisa ter autoridade; seja ele de esquerda, de centro ou direita. Abrir mão dos “vinte centavos” (era só argumentar com a data do ultimo aumento e o índice de inflação do periodo decorrido)  foi a coisa mais imbecil que já vi em toda a minha vida. Os citados são para mim……………TRES BANANAS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  12. Cada país tem um modelo do

    Cada país tem um modelo do que significa sucesso. Este modelo geralmente é o modo de vida da elite do país, e a maioria da população se esforça por imitá-lo.

    Existem países, onde para ser elite, é necessário uma educação refinada e títulos de nobreza. Neste países, se alguém falar em tom de voz muito alto, ou ter costumes rudes, mesmo que possua muita riqueza será desprezado pela sociedade.

    Aqui no Brasil, ao contrário, ser elite é apenas ter riqueza material mesmo. Talvez pelo fato de a nossa elite não possuir muita educação, preferiu ostentar o que tinha a mão, as posses. Ir a um shopping e frequentar um local típico de classes sociais altas, parece ser algo deslumbrante para classes sociais mais humildes.

    Agora que as outras classes sociais resolveram revindicar os costumes de nossas elites, seria uma boa hora para a sociedade brasileira rever e discutir o que é ser “Elite”.

  13. O mais triste de tudo é que,

    O mais triste de tudo é que, enquanto essa molecada rolêzeira enxerga a camiseta, o tênis e o óculos de marca como trampolim social, gastando o que tem e o que não tem para reafirmar-se “nova classe média”, na classe média tradicional mesmo é “cool” e mais valorizado andar com camisetas básicas Hering a R$ 19,90. Não que o nosso setor médio também não faça patacoadas semelhantes: o equivalente aos Oakleys e Mizunos da vida é o carro importado, ou a viagem para os States parcelada em dez vezes para posar de rico.

    O que transparece neste fenômeno é uma falta de rumo e de perspectiva mesmo. Certamente a vida para esta rapaziada está melhor do que há 10 anos atrás, já que hoje podem comprar coisas que pareciam impossíveis outrora. Mas em termos de oportunidades, a estrada parece muito mais tortuosa. Primeiro, porque estudaram a vida inteira em uma escola básica inepta e que forma exércitos de analfabetos funcionais; segundo, porque o mercado fornece trabalho com pouca chance de ascensão social. 

    O aumento de renda e expansão do crédito permitiu o consumo a milhões de brasileiros. Mas ainda as barreiras sociais permanecem, e apesar de “nova classe média” serem chamados, ainda ocupam as mesmas funções e posição social de antes. Dizem que é difícil alguém evoluluir sem poupar. Como estes jovens nada vêem no horizonte, qual a solução imediatista para tudo isto? Consumir, consumir, consumir e consumir, até onde o crédito permita.

    Com um tipo de ideologia desta, parece muito pouco provável que consigam a transição completa para a classe média tradicional. Mas eles podem ser muito úteis, pressionando o Estado para garantir educação básica de qualidade para a próxima geração, a dos seus filhos, que quem sabe tenham a chance de competir de igual para igual ou em condições até melhores que os egressos do ensino privado.

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