O centenário de Elizabeth Bishop

Por MiriamL

Da Folha

Livros, filme e peça marcam centenário de Elizabeth Bishop

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Elizabeth Bishop, cujo centenário de nascimento se comemora nesta terça-feira (8), em foto de 1951
AP

Num dos seus mais celebrados poemas, “One Art”, Elizabeth Bishop (1911-1979) escreve: “A arte de perder não é nenhum mistério;/ tantas coisas contêm em si o acidente/ de perdê-las, que perder não é nada sério”.

Hoje, quando se completa o centenário de nascimento da poeta americana, os leitores brasileiros perdem um pouco de sua obra, que está fora de catálogo no país, sem previsão de reedição.

Livros de Bishop só se encontram em sebos.

Mas, lembra ela, não é nada sério.

Para o tradutor Paulo Henriques Britto, que verteu para o português boa parte da obra da autora (inclusive o verso que abre este texto), a ausência de Bishop das prateleiras não surpreende, dada a falta de interesse dos brasileiros por poesia.

Britto diz que “os leitores de poesia nesta terra são tão poucos que não compensa fazer reedições”. “Quantos leitores regulares de poesia haverá no Brasil? Creio que não chegam a mil.”

Os anos 90 do século passado apontaram para uma renovação do interesse por Bishop, quando a Companhia das Letras, a última editora a ter os direitos de publicação de sua obra, editou cinco títulos.

A poeta Elizabeth Bishop, cujo centenário de nascimento se comemora nesta terça-feira (8), em foto de 1951

LANÇAMENTOS

Nos Estados Unidos, onde o reconhecimento de Bishop como poeta fundamental do século 20 cresceu desde a morte dela, acabam de sair três livros: novas antologias de poesia e de prosa e a correspondência da escritora com a revista “New Yorker”.

Organizador da antologia em prosa e um dos principais estudiosos da obra de Bishop, de quem foi amigo, o poeta e professor Lloyd Schwartz se disse “chocado” em saber que a “excelente tradução” de Britto está fora de catálogo.

“De qualquer forma, a publicação, pela mesma editora [Companhia das Letras], de duas traduções de um grande poeta estrangeiro [a outra, anterior à de Britto, foi de Horácio Costa] no espaço de uma década seria algo inédito nos EUA”, afirmou Schwartz à Folha.

“Quem sabe o centenário não estimule a Companhia das Letras a reeditar a tradução de Brito?”

A Companhia diz que discute a reedição.

A Leya do Brasil promete publicar em junho o romance “The More I Owe You”, de Michael Sledge, baseado no relacionamento de Bishop com a brasileira Lota de Macedo Soares, no período em que a escritora viveu aqui, entre 1951 e o início dos anos 70.

No cinema, está em fase de produção “A Arte de Perder”, de Bruno Barreto, com Glória Pires no papel de Lota. O filme é baseado no livro “Flores Raras e Banalíssimas”, de Carmen Oliveira.

Outra obra nacional a respeito da poeta, a peça “Um Porto Para Elizabeth Bishop”, de Marta Góes, deve reestrear em maio.

Um dos destaques da nova edição americana da prosa de Bishop é a publicação do texto original de um livro sobre o Brasil escrito sob encomenda para a coleção Time Life World Library em 1962.

Segundo Schwartz, na época a editora edulcorou a versão da escritora. “Ela detestou a edição que fizeram. A versão original é muito mais positiva a respeito do modo como o Brasil encarava os seus problemas, em comparação aos EUA, especialmente em questões de raça.”

Mas a relação de Bishop com o país onde viveu seus dias mais felizes era ambígua. Deplorava o atraso e o provincianismo locais.

Numa carta ao amigo e poeta Robert Lowell, publicada em “Words in Air – The Correspondence Between Elizabeth Bishop and Robert Lowell” (Farrar, Straus and Giroux, US$ 26), escreve: “O Brasil é mesmo um horror”.

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/871798-livros-filme-e-peca-marcam…

Luis Nassif

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