Quilombo Rio dos Macacos: um filme sobre o Brasil, por Josias Pires

Reunião na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal

Quilombo Rio dos Macacos: um filme sobre o Brasil, por Josias Pires

O documentário registra movimento social entre 2011 e 2014 em favor da posse e da propriedade de parte da terra das antigas fazendas Macaco, Aratu e Meireles, na região da Baía de Aratu, entre as cidades de Salvador e Simões Filho. 

A luta pela terra dramatiza o conflito entre famílias de agricultores e pescadores e o Estado brasileiro, no caso, Estado dividido entre setores aliados dos quilombolas (Fundação Palmares, Incra, Seppir) e dos defensores explícitos de interesses da Marinha. 

O filme foi montado durante e depois do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e a mudança de rumos na política nacional produzia emoções e reflexões que interferiram, em alguma medida, em decisões da montagem. Como a  produção foi realizada no período anterior, havia um arco narrativo definido pela história do movimento. Arco de final inteiramente aberto,  cuja abertura foi amplificada nas últimas imagens do filme, as máquinas abrindo a estrada que garantiria o acesso independente ao quilombo, feitas em 2016. 

A ação do filme se desenvolve pela articulação de registros da luta quilombola em movimentos que adotam a perspectiva local e também a contextualização política. Nestes termos, o filme tenta ver Rio dos Macacos como metáfora do Brasil e da história do Brasil. Ali estamos diante da ação e da representação do fosso que continua a impedir que se consolide a nação brasileira. O conflito pela terra e por direitos fundamentais em todo o país e, inclusive, no interior do Estado, revela-nos o quanto somos ainda um país fraturado. 

As sequencias das reuniões entre movimento, Ministério Público Federal, Advocacia Geral da União e negociadores governamentais podem parecer para alguns cinéfilos e críticos como excessivas. Mas elas revelam diversas questões. Mostram a natureza e as condições do embate. Tudo seria mais emocionante se fossem filmagens de guerrilha urbana ou na selva. As negociações substituem a guerra, que se manifesta nas palavras e na postura dos combatentes, rotos batalhões avançando no território formal do “inimigo”.   

E mais: sucessivas reuniões jurídicas e políticas mostram que a força dos argumentos da Marinha respalda-se também numa decisão judicial liminar de um juiz federal que nunca se dispôs a ouvir o lado dos quilombolas. Neste aspecto, o filme Quilombo Rio dos Macacos favorece igualmente a reflexão sobre a passionalidade de juízes no interior do Estado e da sociedade brasileira.

Redação

1 Comentário

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  1. Imaginem num “militarismo”..

    Se  na  democracia,  os  caras da marinha oprimem  uma comunidade  inteira….imagine  se  eles  tivessem  a  “caneta”  na  mão !

    Já  estão  enrolados no RJ  com  uma  licitação  pra  compra  de 140 mil  latinhas  de cerveja  para  seus “evento internos” !

     

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