“Samba, presta esta homenagem…”

 

Postado originalmente: http://klaxonsbc.com/2011/11/29/samba-presta-esta-homenagem/

 

Samba, ó samba
Tem a sua primazia
Em gozar de felicidade
Samba, meu samba
Presta esta homenagem
Aos heróis da liberdade

Heróis da Liberdade (Silas de Oliveira / Mano Décio/ Manoel Ferreira)

Dias atrás conversava com um amigo e ele me contou, entusiasmado, que havia assistido uma apresentação do cantor Jorginho do Império na Lapa carioca. Jorginho sacara do repertório sambas enredos antigos e contagiou toda a platéia com as belezas. Forcei a barra para que ele lembrasse alguns. No esforço, a memória não veio. Deu pra entender no brilho do olhar que eram mesmo sambas bonitos. Letras e melodias ficaram ali de alguma maneira. Usei da imaginação (quando não se presencia algo, o recurso que temos é usá-la) e passei a cantarolar os versos:

“Já raiou a liberdade A liberdade já raiou

Essa brisa que a juventude afaga

Essa chama Que o ódio não apaga pelo universo

É a (r)evolução em sua legítima razão”

A ousadia de cantarolar me humilhava à luz da memória de Roberto Ribeiro, um dos maiores interprétes da música brasileira, que gravou posteriormente este samba. O samba de coragem, samba enredo do Império Serrano, composto e lançado no carnaval de 1969, às portas do AI-5, em plena ditadura militar, reinvidicando liberdade no asfalto da Presidente Vargas. Talvez, Jorginho tenha cantado esse, não importava mais, a lembrança já fez valer o papo.

A cultura popular tem mesmo coragem e pode ser tanta coisa. Por mais que seja vista de forma paternalista e maniqueísta pela elite (às vezes pela esquerda, outras pela direita) a cultura popular não passa pela história para ser interpretada com as cores determinadas pelo “outro”. Nem sempre é ingênua, nem sempre é espontaneísta.

Mas ao falar de cultura popular, samba e elite, corremos o risco de desafinar o samba. Melhor deixa o samba correr, a melodia bonita e a pegada da letra. A beleza.

Homenagem ao baiano Mano Décio da Viola e aos cariocas Silas de Oliveira e Manoel Ferreira que fizeram história e história não se apaga.

No vídeo, imagens do belo desfile em 1969.

 

Luis Nassif

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