Informação é a única arma para não cair em golpes financeiros

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – A questão envolvendo a TelexFree é apenas a ponta de um iceberg. Outros tantos golpes da pirâmide estão sendo divulgados, e consumidores desatentos de legalidade e ávidos por ganhos altos, acabam por desembolsar dinheiro bom na troca por dinheiro ruim. O que parece ser, a princípio, um bom negócio, pode se tornar uma boa dor de cabeça e, caso entre nos estertores da pirâmide, certeza de prejuízos.

As autoridades e instituições comprometidas com a defesa do consumidor estão alertando sobre esses engodos há muito tempo. Pirâmide é um golpe que se sustenta por pouco tempo, já que precisa de um número crescente de incautos para se manter. O que se deve analisar antes de cair nestes contos do vigário? Quais elementos o consumidor tem em mãos para se precaver contra golpes?

Segundo a Nota Técnica elaborada pela Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) do Ministério da Fazenda, esses são os principais identificadores de um esquema de pirâmide:

– Vendas efetuadas em tom exagerado, que às vezes incluem brindes e promoções;

– pouca ou nenhuma informação sobre a empresa é fornecida, a menos que se queira comprar os produtos e tornar-se um participante;

– promessas vagamente enunciadas sobre rendimentos potencialmente ilimitados ou descolados da realidade;

– nenhum produto real ou um produto que é vendido por um preço ridiculamente acima do seu real valor de mercado. A descrição do produto feita pela empresa é bastante vaga;

– um fluxo de renda que depende prioritariamente da comissão recebida pelo recrutamento de novos associados ou produtos adquiridos para uso próprio, em vez de vendas para consumidores que não são participantes do esquema;

– a tendência de que só os inventores/primeiros associados tenham alguma renda real;

– garantias de que é perfeitamente legal participar.

As razões oferecidas pela Seae indicam o perigo em primeiro momento. Ao acessar o site de qualquer empresa de pirâmide, o interessado não obtém nenhuma informação sobre a empresa em questão, não se tem endereço ou telefone de contato, que é feito somente via e-mail.  Outra característica envolvida no esquema é a negação dos participantes em entenderem que, para a sustentação dos lucros propalados, seria necessário, num dado momento, toda a população mundial para que a pirâmide não ruísse.

O exemplo dá a dimensão do risco: 1 pessoa recruta mais 10 pessoas; essas 10 precisam recrutar mais 10 = 100, que recrutam mais 10 = 1.000, e assim sucessivamente até ser necessário arrebanhar um número maior de participantes do que os viventes no mundo todo.

1

10

100

1.000

10.000

100.000

1.000.000

10.000.000

100.000.000

1.000.000.000

10.000.000.000     à Mais que a população mundial

Mesmo que o participante não precisa arregimentar dez pessoas, e sim três, em algum momento, para a sustentação do esquema, o crescimento superaria a população do planeta.

A questão do reinvestimento, oferecido ao participante para realizar os lucros já conquistados, é outro grande problema, pois a estratégia expõe o investidor a um risco cada vez maior, pois o colapso é previsível e o participante alimenta o esquema investindo mais e mais.

E como conclui a Seae, mesmo durando algum tempo, um esquema deste tipo vai, inexoravelmente, ruir pois “a falência de uma pirâmide não decorre, como se observa nos negócios legítimos, de choques de demanda, concorrência com agentes mais eficientes ou outros fatores de mercado, mas do inescapável limite de pessoas propensas a aderirem a ela”.

Comissão de Valores Mobiliários

O Boletim de Proteção do Consumidor/Investidor, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC, do Ministério da Justiça), alertas contra os Investimentos Irregulares. Um tópico foi destinado às pirâmides, com o alerta de que não há, por trás, um negócio legítimo, sendo que o pagamento aos investidores proveem de novas aplicações. ‘Quando os ingressos não são suficientes para cobrir os resgates, estes começam a atrasar e são, finalmente, interrompidos, gerando perdas para os que investiram’, diz o boletim.

Este tipo de esquema, comumente, carrega características que envolvem a promessa de rentabilidade atraente, pouco detalhamento dos riscos, sentido de urgência e de oportunidade a ser perdida e período curto de investimento – o que permite que o investidor aplique um valor inicial pequeno e depois, tendo sucesso no resgate, ganhe confiança e aplique mais e mais.

O fim, segundo a CVM, carregam características a serem observadas: atrasos nos pagamentos, dificuldades de contato com os responsáveis, promessas de regularização ou mesmo assinatura de documentos reconhecendo a dívida e, finalmente, a perda das aplicações. Quem consegue perceber que se trata de esquema fraudulento tenta negociar, antes da derrocada total, os seus resgates. Assim, com a progressiva ampliação de desconfiança dos investidores, os pedidos de saque aumentam e a “bolha” estoura.

SERVIÇO

Como evitar ser vítima de golpes, segundo a CVM

– Investigue bem antes de investir: informação é defesa contra golpes financeiros.

– Desconfie de promessas de retornos elevados com baixo risco. Rentabilidade e risco andam de mãos dadas.

– Baseie suas decisões em questões objetivas. Golpistas normalmente são pessoas simpáticas e que estão habituadas a mentir, por isso tenha espírito crítico.

– Verifique sempre o OFERTANTE/INTERMEDIÁRIO.

– Tenha certeza de que entendeu os riscos e as características do investimento antes de investir. Faça perguntas e lembre-se que golpistas costumam questionar sua inteligência para compreender a proposta de investimento, na esperança de que você não faça mais perguntas. A CVM lembra que todos estão sujeitos a fraudes, mesmo aqueles mais bem informados.

– Se você não consegue explicar a alguém as principais características do investimento em questão, é porque não o entendeu. Insista na busca de informações antes de aplicar.

– Decida com calma, desconfiando de oportunidades apresentadas como imperdíveis que exijam decisão imediata. Pressa é amiga da falta de reflexão.

– Proteja suas informações e acompanhe suas operações.

– Enfrentando problemas, utilize os meios de defesa postos à disposição do investidor e, em não conseguindo, busque orientação com os órgãos do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (Procons, Ministério Público, Defensoria Pública e Entidades Civis de Defesa do Consumidor).

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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