Stephen Hawking e as teorias sobre os buracos negros

Sugerido por Lucio Vieira

Da Folha

Buraco negro não existe, diz Hawking

POR SALVADOR NOGUEIRA

O físico Stephen Hawking ficou famoso por dedicar uma vida estudando os mistérios dos objetos conhecidos como buracos negros. E agora ele afirma que provavelmente eles não existem.

Controverso? Bota controverso nisso. Nem tanto pela sugestão, que já foi feita antes e passa por uma certa efervescência em tempos recentes. Já abordei o assunto numa reportagem em 2003 e mais recentemente o Mensageiro Sideral falou sobre isso, apresentando outra teoria a respeito. (Aliás, se você quiser saber mais sobre buracos negros, sugiro a leitura desse último link.)

A grande controvérsia é que Hawking, dadas as suas limitações, apresenta um trabalho sem nenhuma fundamentação matemática que apoie suas conclusões. É evidente que as dificuldades impostas por sua doença (o físico sofre de esclerose lateral amiotrófica, e é atualmente o recordista de sobrevivência a essa condição degenerativa que causa a crescente paralisia do corpo) inviabilizam longos e detalhados trabalhos.

Ainda assim, a única coisa que impede Hawking de ser ridicularizado pelo trabalho é sua gigantesca popularidade. Note que ele não foi publicado em uma revista científica — foi apenas colocado no repositório arXiv, usado pelos cientistas para compartilhar artigos antes de sua publicação –, e dificilmente seria aceito se fosse submetido a revisão por pares. Só estamos falando dele porque se trata de uma figura maiúscula da ciência do século 20.

O britânico já usou desse expediente em 2004, quando enviou às pressas um trabalho para uma conferência sugerindo que havia resolvido um dos maiores enigmas da física de buracos negros: para onde vai a informação contida na matéria que cai lá? (Até hoje ninguém se convenceu de que ele de fato resolveu algo em 2004, e o fato de ele voltar a carga sinaliza que ele não havia resolvido mesmo.)

Se considerarmos que um buraco negro é um objeto tão denso (produzido via de regra pela detonação de uma supernova, com a subsequente compactação do núcleo da estrela morta que explodiu) que nada pode escapar dele, nem a luz, tudo que cai nele está virtualmente fora do nosso Universo. Ainda se eles ficassem na deles, negros para sempre, poderíamos dizer que a informação ainda está lá dentro, só que onde não podemos ver. O problema é que o próprio Hawking demonstrou, combinando efeitos quânticos e a teoria da relatividade, que os buracos negros emitem uma sutil radiação, até evaporar por completo. Como ela não teria como carregar para fora a informação que caiu lá dentro, e no final o buraco negro some, adeus, informação. Ela sumiu.

Físicos não gostam quando coisas somem. Suas teorias vivem de coisas como lei da conservação da matéria/energia e lei da conservação da informação. Daí eles chamarem esse problema dos buracos negros de paradoxo da informação. Foi o próprio Hawking, em 1975, que levantou essa lebre.

Agora (pela segunda vez) ele se propõe a resolver a questão, desta vez sugerindo que uma espécie de barreira se interpõe e impede que as partículas de fato atravessem o chamado horizonte dos eventos, fronteira matemática que indica o ponto de não-retorno do buraco negro.

“A ausência de horizontes de eventos significa que não há buracos negros — no sentido de regimes dos quais a luz não pode escapar para a infinitude”, afirma Hawking em seu miniartigo.

Entender a física dos buracos negros exige combinar relatividade e mecânica quântica

Entender a física dos buracos negros exige combinar relatividade e mecânica quântica

Bacana. Serve como ponto de partida para outros físicos pensarem no assunto e buscarem a solução para um paradoxo importante na física. Meu palpite é que o problema é insolúvel no nosso atual estado teórico. Somente quando tivermos uma teoria efetiva de gravidade quântica esse dilema terá solução. Enquanto tivermos poucas intersecções entre a mecânica quântica e a teoria da relatividade, trabalhos como esse permanecerão como especulações.

Uma contribuição que os astrônomos poderiam dar é a observação de horizonte de eventos de buracos negros. Se virmos que eles de fato são negros, poderíamos pelo menos discriminar entre diferentes hipóteses. Sem observação e sem uma teoria suficientemente abrangente, temos de viver de especulações. E em matéria de especulol, Hawking brilha como poucos.

 

Redação

16 Comentários

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  1. Como assim sem

    Como assim sem observações? Já existem imagens de buracos negros se alimentando e há coisas que escapam da fronteira.

    A tese aceita atualmente, de acordo com as observações, diz que buracos negros tem uma capacidade limitada de alimentação. O que excede é expelido. E é justamente isso que observamos. Os jatos de energia claros como a luz do dia e com anos luz de comprimento.

     

    O artigo nada disse a nada acrescentou. MAs, a idéia da radiação escapar é nova. Não sei não. Sem embasamento matemático não tem como mesmo.

    Buracos negros surgiram de uma formula matemática direto de uma trincheira na primeira grande guerra. Não tem como dispensar a matemática que é a base de tudo.

     

    PS> A imagem doa rtigo mostra justamente um buraco negro se alimentando. Mas não muito, hehehe. Só um poquim.

    A idéia é que a matéria, ao chegar na fronteira, e devido às grandes forças em ação, vire plasma.

     

    1. Acredito que o comentário de

      Acredito que o comentário de Salvador sobre a observação de buracos negros seja a observação de que horizontes de eventos não sejam escuros, mas sim luminosos. Até onde sei, não há resolução instrumental para observação deste tipo. O jato que vemos pronunciar-se de alguns candidatos a buracos negros supermassivos não provém do horizonte de eventos, mas de uma região ainda afastada deste. Os jatos são propulsionados pelos campos magnéticos. Por isso, não valem como observação de que o horizonte de eventos em si é ou não luminoso.

      1. Fótons, em princípio, podem

        Fótons, em princípio, podem se manter em órbita precisamente no horizonte de eventos, mas não podemos ve-los, pois nunca apontam em direção alguma de escape!

    2. Athos, a radiação realmente

      Athos, a radiação realmente não escapa do buraco negro, o que ocorre é que a forte curvatura do espaço-tempo perto do horizonte de eventos perturba o vácuo, materializa pares partícula anti-partícula e uma dessas do par cai no buraco negro e a outra “se salva”. Como partículas em existência carregam inevitavelmente energia, o campo gravitacional do buraco negro “paga esse pato”, ou seja evapora aos pouquinhos.

      1. Entendi mais ou menos. A

        Entendi mais ou menos. A parte do materializa ta difícil de entender pra leigo.

        Lógico que é difícil explicar por aqui em 5 linhas…

         

        Mas, um dos enigmas do Univeso não é justamente onde está a anti-matéria? Onde foi parar?

         

        Meu conhecimento sobre matéria e anti matéria e suas interaçoes é total, desculpe. Eu nunca entendi muito bem. Só sei que banana tem anti matéria , hehehe, e não faço a menor idéia de como nem porque. Algo a ver com Potássio..

         

        Por indução, posso concluir que existe então alguma teoria física, sobre  materia e anti matéria, que sirva de embasamento para a  interação que Hawking sugere.

        1. Banana tem antimatéria? Creio

          Banana tem antimatéria? Creio que esteja enganado. Antimatéria não pode estar com contato com matéria, do contrário se aniquilariam.

  2. É estranho!

    Com todo respeito ao físico Hawking, mas sem embasamento matemático o artigo dele fica no campo do achismo. Nos últimos séculos os físicos fizeram previsões com o uso das equações matemáticas e muitas foram comprovadas bem depois por meio de experimentos. Um exemplo disso foi a comprovação de que o espaço é deformado com a presença de um corpo com uma consideravel massa e esse corpo foi a Terra. A derformaçõ foi ínfima, mas comprovou. O resultado desse experimento não faz nem 15 anos que aconteceu  e foi um projeto da NASA que demorou mais de 40 anos para ser concluído.

  3. Em ciência, por vezes é a intuição o que empurra pra frente.

    Hawking sugere um modelo de buraco negro que dispensa a ideia da singularidade no núcleo, ou seja, o “ponto” sem dimensão e com massa infinita, que não pode ser descrito nem pela teoria quântica, nem pela relativística. Em vez desse ponto singular, Hawking desenha o buraco negro com um núcleo de certo modo difuso, mais ou menos limitado pelo horizonte dos eventos (o limite a partir do qual nem a luz retorna) e, abaixo dele, uma nova fronteira que ele chama de “apparent horizon” (horizonte aparente). Este horizonte aparente seria na prática o “fundo” do buraco negro. Toda energia e informação engolida ficaria flutuando nervosamente entre esses dois horizontes, mas nada estaria proibido de “espirrar” para fora do buraco. Quer dizer, filosoficamente, o buraco negro deixaria de ser um ralo inexoravelmente sem volta para tudo o que nele cair para ser um ralo em que não é zero a probabilidade de que alguma coisa possa dele ser cuspida. A rigor, não existe matemática para isso. Mas nada impede que, um dia, se faça uma. É bem-vinda mais essa viagem de Hawking. Em ciência, por vezes é a intuição o que empurra pra frente.

  4. Tem uma moça da Nasa que

    Tem uma moça da Nasa que comprovou por A mais B a existencia de uma mega buraco negro no centro da nossa galaxia. Vi isso na TV e fiquei impressionada com a qualidade do trabalho dessa moça. Ela mapeou as esctrelas que orbitam este buraco negro central e descobriu que elas  possuem uma trajetoria totalmente inusitada a velocidades inimaginaveis. O buraco negro não pode ser vitso. Jamais. Mas os objetos que eles engolem estão lá em plena queda…

    1. O que os astrônomos tratam

      O que os astrônomos tratam como buraco negro é um tanto diferente do que o buraco negro na concepção de Hawking. Das observações astroônomicas, podemos mostrar que há uma quantidade enorme de matéria num espaço diminuto. Esse objeto não é estável, segundo leis físicas, a não ser se for um colapsar (vulgo buraco negro). Hawking não sugere a inexistência desses estados de de matéria colapsada e degenerada. Ele está lidando com a existência da singularidade, que seria o centro desses objetos. Quando a matéria colapsa e cria-se um horizonte de eventos, o colpaso é interrompido ou continua sem cessar até formar uma singularidade? É essa a questão aqui.

  5. Pitaco

    Sempre achei esse Hawking um marqueteiro de marca maior. Li o livro dele “Uma breve história do Tempo” e achei uma obra de divulgação mais badalada do que boa de ler. Há astrofísicos muito mais interessantes. Sua “mídia”  de deve ao fato de que a ciência na Inglaterra precisava de um mito à la Newton, Einstein e outros magos. Separou-se da mulher depois muitas décadas alegando que ela era muito religiosa. Agora, obviamente, está a desdizer o que disse. É um pândego.

    1. Ele não é um marketeiro. É um

      Ele não é um marketeiro. É um físico com sérias limitações em sua interação com o mundo.

       

      A história da ciência está cheia de pessoas normais.Normais em inteligência com contribuições das mais relevantes para a humanidade.

      Meu conselho é, não despreze nada.

  6. Prezado Nassif
    O grande

    Prezado Nassif

    O grande problema é que não se sabe se é possível transportar os conceitos da Física Quântica relativística , como formulada no Espaço  Tempo de Minkowiski Einstein (os famosos sistemas inerciais da Física) para sistemas não inerciais-Espaços curvos -na presença de Aceleração clásica”  (na vizinhança do Sol , por exemplo) .Não sabemos se existem os elétrons , prótons , etc..(partículas quânticas) como conceitos primitivos se levarmos intrinsicamente a presença do sol (o seu campo clássico gravitacional deformando a métrica Minkwiskiana do Espaço Tempo ) -a noção de probabilidade quântica (unitariedade) é completamente perdida .. O que o Hawkings observou foi que na suposição de poder se transportar diretamente os conceitos da Física Einsteniana -Maxwelliana para estes sistemas “classicamente acelerados ” (em rotação Newtoniana , por exemplo ) , a noção de partícula quântica perde o seu sentido usual e aparece em uma forma “Termalizada-Geométrica ” (que não é o calor -radiação eletromagnética) .

    Eu prefiro acreditar que novos conceitos de uma mecânica quântica em sistemas de referenciais classicamente acelerados é preciso (uma Nova Física Quântica)

    Quanto as singularidades do espaço tempo Buracos Negros , acho que se você colocar cargas elétricas e correntes magnéticas na fonte dos buracos  , eles deixam de ser buracos negros ….

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