Globo detona bomba semiótica de canastrice política com série “Ilha de Ferro”

Uma das principais armas na guerra semiótica que levou aos bem-sucedidos impeachment e o golpe militar híbrido foi a “canastrice semiótica”: legitimar a agenda política através da ficção

Por Wilson Ferreira

No blog Cinegnose

Uma das principais armas na guerra semiótica que levou aos bem-sucedidos impeachment e o golpe militar híbrido (que ninguém viu) foi a “canastrice semiótica”: legitimar a agenda política através da ficção (novelas, minisséries e filmes) por meio da hiper-realidade: quanto mais os fatos políticos se pareçam com a ficção, paradoxalmente ficam mais verossímeis e aceitos pela opinião pública. Com produções como “O Brado Retumbante” e “Questão de Família”, a Globo cumpriu esse papel. E agora, com timing e sincronia com o cenário da agenda de privatização fatiada da Petrobrás, a Globo lança a série “Ilha de Ferro” na TV aberta como exemplar bomba semiótica. O mesmo “modus operandi”: ambientada numa plataforma de petróleo da “Companhia Nacional de Petróleo” reforça todos os estereótipos que justificariam a lendária ineficiência das estatais. Momento crucial em que a grande mídia tenta levantar o baixo astral da patuleia desalentada com medalhas nos Jogos Olímpicos e a campanha da Fundação Roberto Marinho: “Não Desista do Seu Futuro”.

No trepidante livro desse humilde blogueiro “Bombas Semióticas na Guerra Híbrida Brasileira (2013-2016): Por que aquilo deu nisso?” (clique aqui) é mostrado que uma das principais etapas no front das guerra semióticas que culminaram no impeachment de 2016 foi o investimento na teledramaturgia, em particular na TV Globo: séries como Felizes para Sempre (cujos capítulos se sincronizavam com as ações da Lava Jato), O Brado Retumbante (de cunho político cujo protagonista era a cara do Aécio Neves) ou Questão de Família (no qual o protagonista era um juiz justiceiro, alinhado ao imaginário do juiz Sérgio Moro – investiga, julga e pune) foram alguns exemplos.

A agenda política (Lava Jato, manifestações de rua e impeachment) foi legitimada através da ficção – glamourização de policiais federais, heróis justiceiros, numa sincronização perfeita da realidade com a ficção: o constante vazamentos das operações policiais pelo Judiciário permitiram a antecipação e planejamento e sincronização de episódios de novelas e minisséries.

Nesse trabalho de agenda setting, as notícias só passam a ter relevância para a opinião pública na medida em que são ficcionalizados. É o vetor da canastrice na política: o real só é legitimado porque, aparentemente, aproxima-se das imagens ficcionais.

Pois bem, tudo indica que a Globo mais uma vez volta para esse tipo de estratégia de canastrice semiótica. Mas dessa vez, não dentro de uma orquestração mais ampla como foi a guerra híbrida de 2013 a 2016. Dessa vez não é mais necessário, porque a PsyOp militar está dando completamente conta no seu objetivo de domínio total de espectro por meio da guerra criptografada – a gestão caótica das informações com três finalidades bem definidas:

(a) apagar os rastros do golpe militar híbrido consumado em 2018 com a vitória eleitoral de Bolsonaro; 

(b) simular a possibilidade de um golpe militar old fashion, criando a imagem de um Bolsonaro isolado, acuado e ameaçando a “democracia”;

(c) aprisionar esquerda e oposição na guerra cultural (a batalha contra o “negacionismo”, p. ex.), tirando de foco as discussões de economia política e agenda neoliberal de reformas e privatizações. 

O timing de “Ilha de Ferro”

Lançada inicialmente para os assinantes da plataforma Globo Play, a série Ilha de Ferro (2018-2019) agora terá os dez episódios da primeira temporada exibidos na TV aberta a partir de 9/08. Curiosamente, estava programado a reapresentação de outra novela: Verdades Secretas (2015) como um “esquenta” para a apresentação de Verdades Secreta 2, ainda em produção.

A reprogramação tem um interessante timing: é apresentada em TV aberta (ou seja, para um público bem mais amplo) no instante em que a privatização da Petrobrás, por meio do fatiamento, corre solta: venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam) para grupo financeiro dos Emirados Árabes; venda da totalidade da participação da Petrobrás no campo de produção de petróleo Papa-Terra para a empresa 3R Petroleum Offshore S.A.; venda da Gaspetro para uma joint venture da Shell, a Cosan, para ficar em alguns exemplos.

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