Nova longa pausa (talvez) nesses acontecimentos futuros, por Sebastião Nunes

Faço então uma espécie de despedida, que sugere a ausência, com a participação dos amigos mortos e o fechamento de Sancho Pança, que me dá a necessária licença para sair de campo.

Nova longa pausa (talvez) nesses acontecimentos futuros

por Sebastião Nunes

Jair Messias, o vomitador de defuntos havia despencado no nada.

Meus amigos mortos podiam, assim, retomar o anúncio para vender o Rio de Janeiro, depois de longa pausa para divagações.

Não foi isso o que aconteceu.

De repente, foram se esvaindo um a um, a paisagem se tornando névoa branca, na qual começaram a sumir, sob os olhos de Sancho Pança, único que se mantinha firme e forte, com seu farnel recheado de bondades.

Primeiro sumiu Manoel Lobato, talvez por ser o mais velho da turma, mas que ainda teve tempo de contar uma anedota:

– Logo nos primeiros dias do casamento de Sebastunes Nião, escutei passos que subiam a escada de meu escritório, localizado no segundo andar da farmácia. Era o ex-poeta, que me apresentou sua mulher, Maria Zélia. Olhei-a longamente. Parecia tímida. Sentaram-se nas cadeiras dos visitantes e conversamos sobre literatura, nosso assunto comum e constante. No fim, ao despedirem-se, comentei: ‘Loura, bonita, de olhos azuis e ainda 20 anos mais nova do que você? É, Tião, você é um cara corajoso’.

E então desapareceu, substituído por Luís Gonzaga Vieira, que recordou sua mudança para o Rio de Janeiro:

– Vim com a turma do jornal de Minas, contratado para compor a nova redação de um jornal dos Diários Associados, que não ia bem das pernas, com uma tiragem mais do que ridícula: 10.000 exemplares. Frequentemente, o ex-poeta aparecia na redação para um papo ou para levar colaborações. Vivia duríssimo. Morava numa quitinete e, para sobreviver, quase toda semana me pedia 10 cruzeiros emprestados, que eu sabia que nunca seriam pagos.

Sumiu em seguida, surgindo Sérgio Sant’Anna em seu lugar, que disse:

– Na última visita que me fez, acompanhado de Maria Zélia, o editor fajuto se despediu: estavam de mudança para Portugal, para nunca mais voltarem, pois não suportavam a ideia de continuar num país dominado pela extrema-direita. Quando fui abrir a porta para saírem, dei uma topada e quebrei o dedão do pé direito. A dor foi quase insuportável. Fiquei 15 dias com o pé imobilizado.

Esvaiu-se então, aparecendo Adão Ventura e Otávio Ramos, que nada disseram. Simplesmente acenaram em despedida e foram-se, tímidos como sempre, nunca saberemos para onde. Janis Joplin e Jimi Hendrix nem apareceram para se despedirem, os grandes sacanas.

Sancho Pança tomou a palavra:

– Adeus, Sebastunes! Esta aventura foi boa enquanto durou. Infelizmente, talvez não tenha continuidade, mas estaremos esperando em algum lugar do Paraíso. Quem sabe você resolve nos fazer uma visita, temporária ou permanente? Seja como for, será recebido de braços abertos por todos nós. E esperamos, com toda a força da esperança mais esperançosa, que o genocida Jair Messias desapareça para sempre desse infeliz Brasil. Para todos os efeitos, continua valendo aquela sua frase: ‘Ou o Brasil acaba com Bolsonaro ou Bolsonaro acaba com o Brasil’.

Nada mais. Apenas brumas, sombra e fumaça. E dessa forma fica interrompida a novela, até que um dia quem sabe, talvez…

 (Pelo menos durante algum tempo não haverá próximo capítulo.)

Sebastiao Nunes

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