O discurso de Angela Davis na Marcha das Mulheres contra Trump

Sugerido por Vânia

Por JULIANA BORGES

Do Crônicas na Bela Vista

No dia 21 de Janeiro, centenas de milhares de mulheres mobilizaram-se em diversos países na Women’s March, por justiça social, direitos iguais e contra o avanço conservador no mundo sintetizado na figura de Donald Trump, agora Presidente dos Estados Unidos.

Abaixo uma tradução, livre, que fiz do discurso de Angela Davis, filósofa e feminista negra. Um dos mais marcantes de toda a Women’s March.

“Em um momento histórico desafiador, vamos nos lembrar que nós somos centenas de milhares, milhões de mulheres, transgêneros, homens e jovens que estão aqui na Marcha das Mulheres. Nós representamos forças poderosas de mudança que estão determinadas a impedir as culturas moribundas do racismo e do hetero-patriarcado de levantar-se novamente.

Nós reconhecemos que somos agentes coletivos da história e que a história não pode ser apagada como páginas da Internet. Sabemos que esta tarde nos reunimos em terras indígenas e seguimos a liderança dos povos originários que, apesar da massiva violência genocida, nunca renunciaram a luta pela terra, pela água, pela cultura e pelo seu povo. Nós saudamos hoje, especialmente, o Standing Rock Sioux.

A luta por liberdade dos negros, que moldaram a natureza deste país, não pode ser apagada com a varredela de uma mão. Nós não podemos esquecer que vidas negras importam. Este é um país ancorado na escravidão e no colonialismo, o que significa, para o bem ou para o mal, a real história de imigração e escravização. Espalhar a xenofobia, lançar acusações de assassinato e estupro e construir um muro não apagarão a história. Nenhum ser humano é ilegal!

A luta para salvar o planeta, interromper as mudanças climáticas, para garantir acesso a água das terras do Standing Rock Sioux, à Flint, Michigan, a Cisjordânia e Gaza. A luta para salvar nossa flora e fauna, para salvar o ar – este é o ponto zero da luta por justiça social.

Esta é uma Marcha das Mulheres e ela representa a promessa de um feminismo contra o pernicioso poder da violência do Estado. E um feminismo inclusivo e interseccional que convoca todos nós a resistência contra o racismo, a islamofobia, ao anti-semitismo, a misoginia e a exploração capitalista.

Sim, nós saudamos o ‘Fight for 15’. Dedicamos nós mesmas para a resistência coletiva. Resistência aos bilionários exploradores hipotecários e gentrificadores. Resistência a privatização do sistema de Saúde. Resistência aos ataques contra muçulmanos e imigrantes. Resistência aos ataques contra as pessoas com deficiência. Resistência a violência do Estado perpetrada pela polícia e através da indústria do complexo prisional. Resistência a violência de gênero institucional e doméstica, especialmente contra mulheres trans negras.

Direitos das mulheres são direitos humanos em todo o planeta. E é por isso que nós dizemos ‘Liberdade e Justiça para a Palestina!’. Nós celebramos a iminente libertação de Chelsea Manning e Oscar Lopez Rivera. Mas também dizemos ‘Liberdade para Leonard Peltier! Liberdade para Mumia Abu-Jamal! Liberdade para Assata Shakur!’

Nos próximos meses e anos nós estamos convocadas a intensificar nossas demandas por justiça social e nos tornarmos mais militantes em nossa defesa das populações vulneráveis. Aqueles que ainda defendem a supremacia masculina branca e hetero-patriarcal devem ter cuidado!

Os próximos 1459 dias da gestão Trump serão 1459 dias de resistência: Resistência nas ruas, nas escolas, no trabalho, resistência em nossa arte e em nossa música.

Este é só o começo. E termino nas palavras da inimitável Ella Baker: ‘Nós que acreditamos na Liberdade não podemos descansar até que ela seja alcançada!’ Obrigada.”

(Angela Davis, Women’s March. 21.01.2017. Washington/EUA)

***

We are on-fire

 

Redação

17 Comentários

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  1. Me pergunto em que galáxia

    Me pergunto em que galáxia estavam essas celebridades, ora enfurecidas com o presidente recém empossado, quando os EUA sob o “comando” de Obama deteeminava bombardeios que destruiam países e vidas, derrubava governos considerados hostis, promovendo o caos em muitas partes do planeta. E com a decisiva colaboração (no primeiro mandato) da candidata derrotada pelo odiado Donald Trump;. Pelo que lembro, não protestaram.

     O Trump, que aparentemente não agrada o estabilshment, mal começou o seu governo. E nem usou em seu discurso de posse o tom agressivo, belicista, de comandante em chefe da Terra, uma praxe nas falas de seus antecessores nas respectivas “inaugurations”. Isso pode ser um bom presságio ou mais um truque (como foi o Obama). Mas é preciso aguardar.

    1. Estava na “white

      Estava na “white house”

      cantando para o santo do pau oco, agora pegaram essa mania de ir puxar o saco de poderosos, hérois dos 60 e imbecis nos dias atuais……..

       

  2. um mundo de facções em guerra

    a grande guerra atual entre os 1%: a velha nova ordem mundial x um novo Breton Woods.

    seria melhor se abríssemos um fórum permanente de acompanhamento e discussão sobre as inevitáveis mudanças geopolíticas, e geoeconômicas, em curso no mundo.

    “Nós buscaremos amizade e cooperação com as nações do mundo. Mas o faremos compreendendo que é direito de todas as nações colocar em primeiro lugar seus próprios interesses. Não queremos impor nosso estilo de vida sobre ninguém.”

    Trump – discurso de posse 20/01/2017

    “Não foi um discurso presidencial, foi uma verdadeira declaração de guerra”.

    Gabor Steingart, Editor Chefe do Handelsblatt, principal jornal econômico da Alemanha

    vídeo: Trump – discurso de posse com legenda

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=kBC74X6rL8o%5D

    .

      1. um mundo de facções em guerra

        e a Esquerda sem bandeira, ainda agitando o diversionismo neoliberal da “política de identidade”, na qual a luta de classes é secundária. como se houvesse emancipação de mulheres, negros, LGBT que não passe prioritariamente pela oposição Capital x Trabalho.

        aí vai aparecer aqui no Brasil tb um populista nacionalista de Direita, como o Trump, e botar todos, Esquerda Lulista e Direita Financista, prá correr.

        o neoliberalismo global X o nacionalismo populista reacionário, do discurso de posse do Trump:

        “É hora de lembrar daquele ditado que nossos soldados nunca esquecerão, de que não importa se somos, negros, de outra cor ou brancos, todo sangramos o mesmo sangue vermelho dos patriotas. Todos desfrutamos das mesmas gloriosas liberdades e saudamos a mesma grande bandeira americana.”

        então, vem uma pergunta decisiva: existe “nacionalismo” de Esquerda? dito de outra forma: como a Esquerda assume a questão “nacional”?

        grande abraço

        .

  3. Acorda Brasil!

    O Temer está construindo um muro gigantesco e virtual / real para pobres com a PEC 55, e aqui quem pagará serão realmente os mais pobres e ninguém vai para a rua ou marca passeatas pelo face!

    O Trump vai cobrar imposto maior para as empresas que não produzirem no EUA, mas o Temer aqui quer dar empréstimos com lastro do suor brasileiro para empresas estrangeiras!

    Que brasileiros são estes que ficam falando em direito disto e daquilo sendo que até agora quase 100 pessoas foram DEGOLADAS nas prisões brasileiras, estamos com a barbárie aqui do lado e nos preocupamos com algo que é apenas possível e isso lá nos EUA?

    O Trump reduziu o Obama Care e aqui Temer vai privatizar parte do SUS e tornar a aposentadoria uma loteria!

    Só se aposentará quem tiver sorte…

    Alienação dos brasileiros é algo surreal!

    Os problemas nossos são superiores aos que enfrentarão os americanos!

    Vão vender o pré-sal – que tornarão os americanos mais ricos, as empresas de serviços de engenharia americanas certamente vão tomar o lugar das brasileiras!

    O Trump quer valorizar os americanos com melhor infraestrutura, aqui o Temer até agora o que mais fez foi RETIRAR dos brasileiros!

    Em tese o Trump não precisa de corrupção – já é bilionário e o Temer aqui?

    Quem coloca a mão no fogo por ele?

    Cadê os milhões de mulheres e a Angela Davis do Brasil?

    1. “Cadê os milhões de mulheres e a Angela Davis do Brasil?”

      Servem essas?

       

      Resultado de imagem para mulheres fora cunha

      Resultado de imagem para mulheres fora cunha

      Resultado de imagem para mulheres fora temer

      Resultado de imagem para mulheres fora temer

      Resultado de imagem para mulheres fora cunha

      Aos homens que estiveram dormindo nos últimos anos, sugiro uma pesquisa rápida no google. Eu ajudo e colo aqui o resultado:

       “mulheres fora cunha”

      https://www.google.com.br/search?q=mulheres+fora+cunha&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiSx9aA8tfRAhWCf5AKHRJKD-4Q_AUICCgB&biw=1396&bih=691#imgrc=LAKFvltxlKVnaM%3A

      “mulheres fora temer”

      https://www.google.com.br/search?q=mulheres+fora+temer&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwigt8f68dfRAhVCFJAKHVPqAgUQ_AUICCgB&biw=1396&bih=691#imgrc=wCVbUeACMj5ISM%3A

       

      1. Descupa-me se pareceu

        Descupa-me se pareceu ofensa…

        Mas, o colocado foi uma manifestação com origem no FACE!

        Que no Brasil seria algo sem Dilma, sem PT, sem Lula, sem os partidos que tradicionalmente apoiam causas da esquerda!

        Isso aconteceu no movimento dos 20 centavos, depois disto nunca mais!

        Onde até a Globo inicialmente meteu o pau…

        Isso, apesar de todos as violências impetradas pelo temer ainda não aconteceu…

        Ainda falta essa voz no Brasil!

        Que será ouvida e entendida…

        Regina Duarte tem várias…

        Cadê a nossa Angela Davis?

        1. Ofensa não, injustiça

          Houve milhares de manifestações de mulheres pelas cidades do Brasil desde a época do Cunha, “Fora Cunha”. Depois que ele saiu, houve mais um monte de outras “Fora Temer”. Sem falar nas ocupações muitas vezes lideradas por meninas. Vide Ana Julia que foi uma que se destacou.

          Você menospreza tudo isso, por outro lado, superestima as manifestações dos 20 centavos. Que a Globo e demais mídias do PIG tenha esse comportamento (de fato eles esconderam as manifestações que não interessava a eles) é esperado.

          Agora, o que surpreende (na verdade não surpreende mais) é ver os homens que passam dias a fio, anos a fio, lamentando e comentando nos blogs de esquerda (este incluso) não se darem conta ou não reconhecerem o valor dessas mulheres que foram pras ruas e deram a cara a tapa. Repito, o ano passado inteiro, aliás, desde o final de 2015, houve inúmeras manifestações de mulheres pelo país, começando com o “Fora Cunha”.

          Se você se desse ao trabalho ao menos de abrir e seguir os links que eu postei acima, veria a quantidade de fotos desses eventos. Clicando em cada foto você chegará a uma matéria sobre alguma dessas manifestações. Mas se você prefere ficar de mimimi e cobrando o que vocês mesmo não fazem… só posso lamentar (por você).

          Nós, mulheres do Brasil, estamos na luta há muito tempo.

  4. Em tempo: ontem (22) mesmo sugeri uma matéria que versa sobre

    as primeiras medidas do “revolucionário” governo Trump e ninguém comentou…

    Então redireciono a quem interessar possa:

    Em primeiro decreto, Trump flexibiliza a reforma de saúde de Obama

    (…)

    O decreto solicita que as agências “incentivem o desenvolvimento de um mercado aberto e gratuito” para os serviços de saúde e permite anular disposições da lei que imponham encargos fiscais aos Estados e a seus cidadãos.

    Sua equipe também removeu do site oficial da Casa Branca quase todas as menções sobre as políticas da mudança climática. A medida não surpreendeu. Dessa forma, cumpria sua promessa de reverter a política de Obama sobre o assunto. Além disso, a página foi remodelada: também eliminou os planos sobre os direitos dos gays, lésbicas, bissexuais e transexuais (LGBT) e outras páginas informavam sobre as políticas do presidente anterior, segundo o The New York Times.Logo após a cerimônia de posse de Trump, o site da Casa Branca destacava a lista de prioridades do novo presidente, que tem como objetivo uma retirada dos Estados Unidos para se concentrar mais em seus problemas domésticos: cortes de impostos, revogação dos regulamentos de energia que forçavam a redução de emissões de poluentes, aumento do protecionismo comercial, fortalecimento das Forças Armadas e da luta contra o crime e um muro na fronteira com o México contra a imigração ilegal. Na política externa, o novo presidente defende um plano “agressivo” contra o jihadismo. 

     

    1. um mundo de facções em guerra

      Vânia,

      Trump é a saída pela Direita do impasse gerado pela Crise de 2008. suas armas são o nacionalismo e o populismo, que Trump emprega com alta competência em seu discurso de posse. nacionalismo e populismo à Direita sempre vem acompanhados de reacionarismo.

      é o grande risco que corremos atualmente no Brasil. alguém com perfil semelhante ao Trump, no qual não se encaixam Bolsonaros, surgir como o “salvador da pátria”.

      o Obamacare não difere muito da mesma farra dos planos de saúde privados que os golpistas querem implantar no Brasil, muito longe de um SUS público e gratuito.

      ainda sobre Trump: os 1% estão rachados. Soros e os anglo-sionistas pretendem mergulhar o mundo numa brutal e selvagem “estratégia de redução populacional”. Trump, Putin e Xi vêem como única saída um novo Breton Woods.

      dito de forma simplista e esquemática, é este o dilema no grande tabuleiro de xadrez mundial.

      abraços

      .

  5. Muito oportuna a fala de
    Muito oportuna a fala de Davis.
    Para melhor contemplação faltaram as populações famintas do mundo inteiro, incluindo fortemente a mãe
    África. Hulda Vale.

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