Pesquisa analisa discriminação contra homossexuais em escolas

Da Agência Brasil

Pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo, mostrou que 32% dos homossexuais entrevistados afirmaram sofrer preconceito dentro das salas de aula e também que os educadores ainda não sabem reagir apropriadamente diante das agressões, que podem ser físicas ou verbais, no ambiente escolar.

Os dados, segundo os pesquisadores, convergem com aqueles apresentados em pesquisa do Ministério da Educação que ouviu 8.283 estudantes na faixa etária de 15 a 29 anos, no ano letivo de 2013, em todo o país, e constatou que 20% dos alunos não quer colega de classe homossexual ou transexual.

A professora do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE) da Ufscar, que é uma das autoras do estudo, Viviane Melo de Mendonça, afirma que o entendimento desse cenário e a busca por estratégias capazes de revertê-lo não são questões do movimento LGBT, mas sim uma questão da educação que deve ser defendida e compreendida por todos os educadores.

“A educação para a diversidade não é uma doutrinação capaz de converter as pessoas à homossexualidade, como se isso fosse possível. O objetivo é criarmos condições dentro das escolas para que professores e alunos possam aprender e ensinar o convívio com as diferenças que naturalmente existem entre todos”, disse a pesquisadora.

Segundo ela, este e outros estudos de gênero e sexualidade “contribuem para levantar questões e pensar em ações na escola em uma perspectiva da educação para diversidade e, desse modo, para uma educação que combata a discriminação e preconceitos, as violências de gênero, violência contra mulher e a violência homo, lesbo e transfóbica”. Para a pesquisadora, a escola tem que ser um espaço aberto à reflexão e de acolhimento aos alunos em sua individualidade e liberdade de expressão.

Para a promoção da diversidade e dos direitos humanos nas escolas, de acordo com a pesquisadora, é necessária a formação de educadores para a questão. “É necessário que a formação de professoras e professores tenham um debate mais aprofundado sobre as questões de gênero e sexualidade, com disciplinas obrigatórias que tratem do tema. É fundamental também que se desconstruam as resistências para se falar da diversidade sexual e das diferenças, bem como das desigualdades persistentes e estruturais em nossa sociedade que são, sim, produtoras das violências”, disse.

Plano Municipal de Educação

O tema da educação para a diversidade foi bastante debatido no ano passado durante a formulação dos Planos Municipais de Educação (PME), projeto que tem o objetivo de nortear o planejamento da educação para a cidade nos próximos 10 anos. Na capital paulista, após muitas discussões e protestos favoráveis e contrários, o projeto de lei que trata do PME foi aprovado pela Câmara Municipal de São Paulo, em agosto de 2015, mas o texto não incluiu questões de gênero e sexualidade.

Na época, o vereador Ricardo Nunes se referiu ao assunto como “ideologia de gênero” e justificou a retirada do tema do PME com referências a Deus e à religiosidade. Ele acredita que a educação relacionada à sexualidade cabe à família.

Já a vereadora Juliana Cardoso ressaltou os diferentes modelos de família que existem hoje. Algumas têm mulheres como chefes de família, pais homossexuais ou heterossexuais, somente pai ou somente a mãe, avós como referência materna e paterna, entre outros casos. “Essas famílias precisam ser visibilizadas na escola, porque refletem a realidade brasileira”, disse na ocasião.

Ela elencou ainda algumas mentiras, que estariam sendo disseminadas sobre a inclusão de gênero no PME, e disse que a exclusão de banheiros separados, os professores ensinando os alunos a serem transexuais e a destruição da família não correspondem à realidade: “queremos discutir gênero nas escolas para garantir respeito à diversidade.”

A pesquisa da Ufscar apontou ainda que os ambientes familiar e religioso também são locais predominantemente de discriminação devido à orientação sexual. Com isso, os pesquisadores acreditam que a análise das questões familiares e religiosas como causadoras da violência homofóbica deve estar na agenda de proposições e ações para que haja superação desses problemas no cotidiano escolar.

“Apenas aceitando o desafio de um debate mais aprofundado sobre as questões de gênero e diversidade sexual é que se torna possível superar as dificuldades de se implantar uma perspectiva de gênero nas escolas e, assim, trazer para a cena a família e a comunidade de seu entorno”, disse Mendonça.

Redação

9 Comentários

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  1. Numa hora destas?

    Logo com a OAB entrando na segunda feira com impeachment. Claro, tudo é importante, mas há prioridades.

    Ainda, estas reivindicações paralelas não apenas distraem o objetivo das forças progressistas, neste momento de luta, mas, se continuarem assim, vão ungir ao Malafaia e ao Bolsonaro com as maiores votações da história. Mas não adianta, os modernosos querem fila especial para entrar com as suas reivindicações, enquanto lutamos por salvar esta nação.

    1. Cretinice de quem nao quer q as coisas mudem

      Isso é uma PESQUISA ACADÊMICA. É só o que faltava vc querer censurar estudos em nome das suas “prioridades”. E esses estudos em nada têm a ver com a OAB entrar com pedido de impeachment, ou qualquer outra coisa.

    2. que democracia é essa?

      Não entendi. Você está sugerindo que para que se defenda a democracia e não deixarmos Bolsonaros e Malafaias se elejam os direitos dos LGBT não sejam defendidos? A democracia não é justamente para que possamos continuar defendendo os direitos de LGBTs entre outros?Essa defesa não é um objetivo ‘progressista’? Ou você está propondo que os ‘progressistas’ renunciem a seus objetivos para que a direita não seja eleita(!)? Ou seja, que os ‘progressitas’ sejam direita para serem eleitos?

      A democracia se redeziu a resultados eleitorais? Se têm gente que pensa assim, fica fácil entender como chegamos a esse ponto!

      Quanto mais se fala de democracia e menos se pratica, mais rápido ela morre.

  2. Papel da escola

    Será o de debater ou de educar? Que condições de debate existe entre adolescentes e crianças com um adulto professor ou palestrante?

    Acredito que esse debate deva se dar em praça pública, na mídia, em centros comunitários entre adultos, e não entre adultos e crianças ou adolescentes.

     A escola atualmente não tem estrutura nem competencia para exercer seu papel de transmitir conhecimentos básicos em portugues e matemática, quanto mais debater temas que envolvem espinhosas questões morais, ideológicas e religiosas.

    A garantia dos direitos dos homossexuais no ambiente escolar pode perfeitamente se dar integrada aos direitos das mulheres, dos negros, dos gordinhos, dos nerds, ou seja, penalizando o bullyng.

    1. É papel da escola, sim!

      “Que condições de debate existe entre adolescentes e crianças com um adulto professor?” Essa sua indagação mostra o nível de desconhecimento, ignorância e/ou preconceito de sua parte, quanto ao papel do educador. Me desculpe, mas o papel da escola, espaço público de debate e construção de conceitos como democracia, cidadania e sociedade, é a de criar terreno para esse processo dialético. As condições são das mais prolíferas se o mediador (o prefessor e não a instituição escolar) conseguir promover essa construção do diálogo com seus educandos. Uma pena que alguém, supostamente educado e que se propõe à comentar espaços como esse, se julgue mais competente em poder debater sobre tal assunto em sua ágora da “era de ouro”, do que um aluno de escola pública que vive na pele o cotidiano da exclusão e do preconceito. 

       

       

      1. Simples

        Imagine um professor evangelico conduzindo tal “debate”. Imagine todos os demais grupos de pressão na sociedade reinvindicando o mesmo “direito” de debater suas causas nas salas de aula.

         

        1. E por que não? Ser evangélico

          E por que não? Ser evangélico é sinônimo de ser obscurantista?   E se esse professor tentar impôr uma visão obscurantista à turma, pode  ser questionado pelos alunos adolescentes, como em todo bom debate que se preza.  

          Qualquer tema, qualquer assunto pode ser debatido em sala de aula, principalmente os que dizem respeito a questões de democracia e direitos humanos.

          Ah, só pra lembrar: escola é lugar de construção de conhecimento, não de “transmissão”

          1. Conhecimento é construido por etapas

            Primeiro conhecimentos basicos, dominio da lingua, dominio da lógica, referencias historicas e culturais fundamentais, capacidade de interpretar textos…

            Vamos construir conhecimentos de matematica através de debates?

            Vamos transformar as salas de aula em foruns para debater a questão de generos, a questão racial, a questão do feminismo, a discriminação dos descendentes de árabes, o preconceito contra os alunos que simpatizam com o PT, o preconceito contra evangelicos,  espíritas e ateus?

            Isso tudo em salas com 40 adolescentes que os professores muito raramente conseguem manter um minimo de disciplina e respeito?

            Para combater discriminações, preconceitos e bullying é muito mais eficiente contruir um bom código de conduta nas escolas, incluindo alunos, funcionarios e professores. Uma ouvidoria com participação externa também cairia bem.

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