Por trás da pena de morte na Indonésia

Quem é Joko Widodo? O presidente eleito com o título de “incorruptível”?
 
 
Jornal GGN – É possível ler a teoria do economista norte-americano Samuel P. Huntington, autor da obra Choque das Civilizações, na aplicação da pena de morte na Indonésia? Para o coordenador de Graduação e Pós-Graduação em Relações Internacionais do Ibmec, José Luiz Niemeyer a resposta é sim. 
 
A teoria de Huntington refuta a do filósofo Francis Fukuyama. Esse último acredita que a história conduz a humanidade para um estado de homeostase com a supremacia da cultura ocidental. Já Huntington observou, desde o final da Guerra Fria, uma forte intolerância entre a cultura ocidental e islâmica. Huntington concluiu que vivemos na iminência de diversos confrontos entre as duas posições. 
 
O professor Niemeyer destaca que a Indonésia é hoje um país de maioria mulçumana, onde a pena de morte compõe um fator típico dos “usos e costumes locais”. Ele observa, ainda, que a postura do recém-empossado presidente Joko Widodo, recusando os pedidos de clemência aos condenados brasileiros, aponta para a necessidade de sua administração mostrar força interna e externamente.
 
Mas não é só a teoria de Huntington que pode ser lida na aplicação da pena imposta ao brasileiro Marco Archer, mas sim a prória história, como bem lembrou Paulo Nogueira, em matéria publicada no Diário do Centro do Mundo. A rígida legislação da Indonésia contra o tráfico de drogas nasceu no século 19 para reprimir o comércio de ópio imposto pela Inglaterra à China e aos países próximos. A Indonésia foi atingida, especialmente, por ser um entreposto comercial na região. A China procurou barrar o produto, impondo duras leis ao contrabando de ópio, mas o país europeu não aceitou e com o pretexto de defender o livre comércio iniciou uma guerra. O conflito, que se estendeu nos períodos de 1839-1842 e 1856-1860, ficou conhecido na história como a Guerra do Ópio. 
 
Niemeyer reflete, entretanto, que “o atual governo indonésio deve ter muito receio em relação aos grupos radicais islâmicos internos e opositores. Além disso, usa a punição de criminosos, sejam eles indonésios ou não, para mostrar à sua população e à comunidade internacional que mantém o controle de suas fronteiras”. Para o professor, não é possível comparar a pena de morte na Indonésia àquela aplicada por alguns estados norte-americanos, restritas apenas aos criminosos que praticam homicídios. 
 
O país asiático é, inclusive, mais radical no combate ao tráfico de drogas do que na repressão aos crimes contra a vida. Em 2002, por exemplo, condenou a 20 anos de prisão Umar Patek, responsável pelos atentados de Bali, que mataram 202 pessoas. 
 
Quem é Joko Widodo?
 
Joko Widodo, também conhecido como “Jokowi” venceu as eleições com 53% dos votos. É de origem humilde, começou a vida vendendo móveis antes de entrar para a política. Seu primeiro cargo foi como prefeito da cidade de Solo, onde implementou reformas administrativas, ampliou programas de benefícios sociais e de combate a corrupção. Foi reeleito com 90% dos votos. 
 
Por esse histórico, tornou-se conhecido no país como o “incorruptível”.  Durante sua campanha Jokowi prometeu endurecer o combate às drogas e implantar reformas administrativas semelhantes às realizadas em Solo. Por tudo isso, o professor José Luiz Niemeyer prevê que o paranaense Rodrigo Muxfeld Gularte, também condenado à morte naquele país por tráfico, não terá um destino diferente de Marco Archer. 
 
O peso relativo da Indonésia para o Brasil
 
O professor José Luiz Niemeyer destaca que o Itamaraty alimenta uma estratégia de longo prazo de melhorar suas relações multilaterais, a fim de aumentar o apoio no plenário das Nações Unidas, pelo menos para iniciar as discussões referentes à reforma do Conselho de Segurança. 
 
“Temos que lembrar que não basta ao Brasil ter apoio de países centrais. O apoio da maioria dos países é importante mesmo que depois o processo desague em fóruns mais limitados. Partindo desse ponto de vista a Indonésia é um país que o Brasil quer manter relacionamento”, analisa.
 
O professor salientou as tentativas dos governos Lula de melhorar a aproximação do Brasil com o mundo Islâmico. “Só nos lembrarmos das intervenções diplomáticas na Turquia, no Irã, chegamos até a propor participar da agenda de discussões sobre a energia nuclear naquela região”. Para Niemeyer, a Indonésia tem seu peso relativo aumentado se considerado a importância comercial que seu mercado consumidor, formado por uma população de 250 milhões de pessoas, representa. 
 
Redação

2 Comentários

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  1. Turismo sem noção!


    Não dá para ser turista, com cabeça de “sem noção”, por esse mundo afora.

    Ir para lugares badalados, descolados e na moda sem se preocupar com a conduta e postura, como vimos, pode acabar muito mal.

    A ONU condenou a morte do brasileiro e dos outros estrangeiros na Indonésia. Pelo concerto das nações pena de morte só seria admissível em dois casos, um deles o homicídio.

    Mas fazer o que em terras onde a pena para prostituição é o apedrejamento até a morte!!!!

    Penitência religiosa é se auto flagelar com chicotadas nas costas até ficar uma massa disforme jorrando sangue ou ser pregado na cruz com cravos atravessando os ossos das mãos e dos pés!!!!

    O barbarismo e a crueldade foram, nas aparências, domesticados no Ocidente. Nas culturas mais antigas ainda são praticados de forma aberta sem nenhum pudor. Cuidado quando viajarem por estas plagas para não terem a cabeça decapitada…

  2. Nevando em Bali

     

    A Ilha dos Deuses e do Sexo

    O perrengue para traficar em Bali são as penalidades impostas para quem é capturado pela polícia

    O tráfico na Indonésia arrecada o dinheiro bruto com a cocaína atravessada para a Austrália, onde obtem o preço mais alto do planeta, e para o Japão, que também tem um festejado e grande mercado, além de outros locais ao redor da Ásia.

    Um quilo de coca, que custa entre US $ 1.000-2.000 na América do Sul, é vendida por US $ 20,000-90,000 em Bali, na taxa ditada se está ou não “nevando em Bali” – um termo usado informalmente para descrever o quanto de coca está disponível na ilha – e pode atingir até US $ 250.000 na Austrália.

    Bali é um ponto ideal de trânsito, porque os chefões são capazes de alterar os corredores de transporte de drogas, permitindo que os traficantes, que deslocam-se para a Austrália ou outros países asiáticos, não tenham carimbos da América do Sul em seus passaportes, para evitar o controle extra ao qual são submetidos nas fornteiras do país.

    Em janeiro de 2013, a vovó britânica Lindsay Sandiford, com 56 anos, foi condenada à morte depois de ser presa no aeroporto de Bali com 4,7 quilos de cocaína no forro da sua mala.

    Ela está na prisão de Kerobokan, junto a três outros estrangeiros, aguardando no corredor da morte da prisão, em uma porta giratória para ocidentais que percorrem o mesmo caminho, durante anos, por condenações pelo movimentado tráfico de drogas.

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