Forças Armadas estimularam resistência de depoimentos, diz coordenador da CNV

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Jornal GGN – Desde que as Forças Armadas responderam à Comissão Nacional da Verdade (CNV) de que não houve desvio de finalidade no uso de suas instalações, negando as práticas de tortura e graves violações de direitos humanos nas bases do Exército, Marinha e Aeronáutica, a ordem é não colaborar.

Convocados a prestar esclarecimentos, os militares acusados de cometer crimes na ditadura fecharam pacto de se manterem calados para a CNV. Ontem (09) foi o segundo dia de depoimentos em vão. O general reformado do Exército, José Antonio Nogueira Belham, denunciado por ter responsabilidade na morte do ex-deputado federal Rubens Paiva, esteve presente na audiência, “teve oportunidade de contestar, mas escolheu ficar calado”, disse Pedro Dallari, coordenador da Comissão da Verdade.
 
O general reformado alega estar de férias quando Rubens Paiva foi preso e morto. Entretanto, documentos mostram que o militar recebeu diárias para uma missão sigilosa em alguns dias, incluindo o 20 de janeiro de 1971. No dia seguinte, o deputado foi morto.
 
“Belham não só era o comandante do Doi-Codi no Rio de Janeiro. Portanto, haveria aí uma responsabilidade objetiva, como ele estava no momento da morte de Rubens Paiva. Essa é a convicção da Comissão”, disse o coordenador, logo após a sessão.
 
O único que prestou depoimento desde o pacto de silêncio foi um ex-militar. Atual advogado da União no Amapá, Carlos Orlando Fonseca de Souza na época serviu por menos de um ano, recrutado pelo serviço militar obrigatório.
 
Orlando forneceu sua versão sobre a morte da comunista da Guerrilha do Araguaia, Helenira Rezende: teria recebido um tiro na perna, o que levou à morte por hemorragia. O depoimento é diferente dos dados históricos da época, que mostram que Helenira foi morte depois de três dias de tortura, após o confronto com militares do Exército, em setembro de 1972.
 
Na segunda-feira (08), as controvérsias e falta de colaboração foram iniciadas. O tenente da reserva José Conegundes do Nascimento não só não compareceu na audiência marcada para esta segunda (08), como respondeu aos integrantes da Comissão: “se virem”.

“Não vou comparecer. Se virem. Não colaboro com o inimigo”, escreveu Conegundes na mesma carta que recebeu, convocando-o para coleta de depoimento.

Leia a carta:

Além dele, pela segunda vez, o coronel da reserva Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, um dos chefes da repressão no caso que ficou conhecido como Guerrilha de Araguaia, e outros dois esperados para depor apresentaram atestados médicos. O único que compareceu – o general de brigada Ricardo Agnese Fayad – não deu declarações, sob orientação de seu advogado.

O tenente José Conegundes do Nascimento participou das três operações do Exército, entre 1972 e 1974, que dizimou a militância armada implantada pelo PCdoB na região do norte do Tocantins e o sudeste do Pará.

A intenção de convocar o tenente é que a Comissão Nacional da Verdade quer trazer um capítulo sobre a Guerrilha do Araguaia no relatório final dos trabalhos. Mesmo convocado, não compareceu.

A CNV poderia acionar a Polícia Federal contra José Conegundes do Nascimento, mas preferiu não agir assim, com dúvidas sobre a sanidade do militar. “Optamos por informar o ministro da Defesa para que o Ministério da Defesa apure, até porque nós estamos dentro de uma infração disciplinar. Nesse sentido, terá que se verificar se, eventualmente, possa até estar decorrendo de problemas de saúde, tal a gravidade da afronta, já que são pessoas idosas”, disse Pedro Dallari.

De acordo com o coordenador da Comissão da Verdade, a atitude do tenente foi “uma afronta à Comissão, que foi constituída por lei, e tem o direito de recolher esses depoimentos”.

Segundo Dallari, não há dúvidas de que a resistência por parte desses depoentes foi estimulada pela recusa das Forças Armadas em reconhecer a prática das violações dentro das instalações militares, uma vez que as Forças tiveram foram protagonistas desses crimes. “Esses depoentes que estão afrontando a Comissão certamente se sentiram fortalecidos, estimulados por essa conduta dos comandos militares”, afirmou.

Assista ao vídeo:

http://youtu.be/8WmKcXZHtps width:700 height:394

Segundo a coluna Painel da Folha,  o advogado Rodrigo Roca afirmou que a fase de colaborar acabou: “a orientação agora é silêncio total”.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    1. Esse Dallari foi uma PÉSSIMA

      Esse Dallari foi uma PÉSSIMA escolha para presidir a CNV porque ele é DECLARADAMENTE um ATIVISTA RADICAL DE ESQUERDA, não tem o refinamento e a diplomacia de Paulo Sergio Pinheiro que foi o inspirador e presidiu a CNV com categoria e discernimento, o DALLARI funciona como agente provocador, desde que está na CNV cria caso todo dia com as Forças Armadas, não sai da TV onde parece diariamente com cara raivosa, tanto Paulo Sergio Pinheiro como sua sucessora tinham maior habilidade, porque este é um tema delicado, não se trata as Forças Armadas como se a CNV fosse uma delgacia de policia de bairro, A POPULAÇÃO BRASILEIRO não tem nenhum interesse nesse continua provocação em beneficio dos remanescentes da esquerda antiga hoje rediviva.

  1. Tiro no pé
    A história os julgará. No futuro serão lembrados não apenas como traidores… Estarão na vala da covardia. O Brasil não merece essa postura.

  2. A esquerdolandia adora o

    A esquerdolandia adora o Exercio do Poder Popular da Venezuela, cuja cotação como força armada é abaixo de zero, por outro lado detestam o Exercito Brasileiro, cuja cotação é a mais alta da America Latina como organização, historia, escolas, treinamento, hoje na ECEME no Rio e na ESG oficiais de mais de 30 paises fazem cursos, o Brasil depois dos EUA é o Pais que recebe oficiais do maior numero de paises em relação a qualquer outro.

    Ao contrario de bom  numero de Exercitos da America Latina,  o Exercito Brasileiro não tem qualquer acusação de conexão com o narcotrafico, já certos paises bolivarianos são CAMPEÕES nesse setor.

    O Exercito Brasileiro na sua historia de 400 anos tem episodios, vou repetir EPISODIOS ruins, como o cambate ao acampamento de Canudos em 1894, pode-se tambem alegar que teve excessor durante o governo militar MAS são episodios que não nulificam sua longa e fundamental Historia na construção do Pais, que ao contrario do que pensam muitos aqui, não foi criado na Vila Euclides em São Bernardo.

    Os episodios ruins NÃO DESQUALIFICAM como quer a esquerda as Forças Armadas brasileiras.

    As Forças Armadas dos EUA, França, Alemanha, Russia, Inglaterra tem MASSACRES infitiamente mais graves do que QUALQUER episodio onde estiveram envolvidos militares brasileiros e esses episodios em nada diminuiram o valor das Forças Armadas.

    No caso da Comissão da Verdade, onde a unica verdade é que é composta EXCLUSIVAMENTE por ATIVISTAS DE ESQUERDA e não tem um unico historiador ou militar,  o Exercito cumpre o que julga ser de estrita legalidade, a CNV não é Poder Judiciario para dizer o que é legal ou ilegal, o Exercito tambem tem juristas e opera estritamente dentro da lei.

  3.  
    Muitos desses militares,

     

    Muitos desses militares, cuja coragem e valentia se manifestou, ao torturar e assassinar brasileiros presos e imobilizados. Contam muita lorotas de heroísmos. Na verdade, tirando os pracinhas, soldados de baixa patente. Dos estrelados, poucos merecem o respeito, que se deve a um marechal Lott.

    Orlando

  4. SELEÇÃO DE HÓQUEI EM GELO

    Oficiais de diversos países latino-americanos receberam instrução na Escola das Américas, no Panamá. Voltaram com a “Doutrina de Segurança Nacional”, constituindo-se no braço latino do exército dos EUA. Hoje estão aposentados, muitos deles com apenas um único tiro no seu currículo, disparado contra um compatriota. As Forças Armadas, em qualquer país latino-americano, parecem seleções de hóquei em gelo, que treinam diariamente, com gelo artificial, mas, os campeonatos são jogados apenas no Hemisfério Norte, e lá vestem a camisa dos EUA. Uma maior aproximação com a sociedade lhes permitiria focar num novo papel, mais ligado ao desenvolvimento nacional, infra-estrutura, ferrovias, obras navais e portuárias, e etc.

  5. A HONRA como valor

    Desde os primórdios da história, um dos valores mais importantes e caros a qualquer organização militar deve ser a HONRA. E a HONRA inclui a LEALDADE, a obediência às leis, o respeito à hierarquia, a coragem, o amor à pátria e o apego à verdade.

    Esses militares provam ser DESONRADOS, pois repetidamente vêm enxovalhando qualquer noção de HONRA.

    São TRAIDORES pelas ações que desempenharam ao matarem e torturarem compatriotas que não eram inimigos, mas sim brasileiros que se opunham a uma ditadura.

    São COVARDES por usarem de práticas cruéis e desumanas contra prisioneiros subjugados e muitas vezes feridos.

    São DESLEAIS e TRAIDORES por estarem desrespeitando às autoridades e leis do país e à sua hierarquia, representada pelos poderes constituídos, como os Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, pela chefia suprema das forças armadas, que é o Presidente da República e, o mais grave, desrespeitando o seus superiores de maior importância, que são a NAÇÃO e o POVO  BRASILEIRO.

    São DESONRADOS por fazer uso da MENTIRA e da dissimulação ao negarem seus crimes e se negarem a prestar contas à Nação.

    A instituição “Forças Armadas”, o Exército Brasileiro,  a Marinha Brasileira e a Força Aérea Brasileira devem resgatar a noção de honradez que lhes é tão cara e mostrar que esses COVARDES não são a sua face. Ao acobertarem e serem coniventes com as atitudes dos COVARDES as instituições militares se igualam e se tornam também COVARDES e TRAIDORAS.

    A nação deseja sentir ORGULHO e HONRA pelas suas Forças Armadas, mas para isso estas têm que mostrar merecer e fazer jus a esses sentimentos. A COVARDIA e a DESONRA somente despertará desprezo.

  6. Nossas forças armadas estao
    Nossas forças armadas estao corretissimas em nao se prestar a ser julgada por um bando de radicais que tenta fazer da sua vontada a lei do pais ou a vontade da sociedade civil brasileira
    Otimo saber que o exercito finalmente acordou e parou com essa historia de querer colaborar.
    Colaboraçao deve ocorrer onde haja insenção, naõ é nem de longe o caso desse circo montado pela esquerdalha…

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador