SALVADOR I BAHIA De Sussuarana para o mundo, a música como perspectiva de socialização no cotidiano juvenil

 

Por Elisane Alves dos Santos – moradora do bairro da Sussuarana, Salvador, Bahia

Bacharelanda em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb)

 

Durante o período de doze meses de vigência da bolsa do programa de iniciação científica produziu-se um maior conhecimento acerca da juventude, principalmente a juventude periférica e suas produções culturais, bem como sua relação com a escola, temas estes estudados pelo grupo de pesquisa Jovens sem vez e sem voz. Houve o planejamento e execução do Seminário Cultura, Juventude e participação social que permitiu construir uma ponte entre a universidade e a comunidade, abrindo espaço para exposições das produções culturais da periferia, em especial as produções musicais como o Hip Hop, que obteve grande destaque. Desse modo, foi possível mostrar a comunidade acadêmica os resultados obtidos pela pesquisa até então. Além do seminário, foi feita a identificação e o mapeamento dos grupos de jovens que desenvolvem atividades musicais (no caso Hip Hop) em Salvador. A partir disso chegou-se a conclusões, expostas a seguir, que são consideradas como resultados provenientes deste período de estudo.

O consumo e o cultivo da música são elementos marcantes da cultura jovem na sociedade atual. A facilidade de acesso a instrumentos de criação e reprodução audiovisual, shows musicais e internet, tem sido um reflexo do impacto que esse ramo da cultura exerce sobre as gerações mais novas. Foi a partir da década de 1970 que a relação da juventude com a música adquiriu maior visibilidade com o movimento punk que passou a chamar a atenção para os problemas do cotidiano e questões como o armamentismo, a contaminação ambiental, as guerras, a violência e as drogas. Logo a seguir, surgiram outros movimentos musicais, que assim como o punk também possuíam uma carga de protesto, como o reggae e o rap.

A presente pesquisa encaminha-se para a compreensão da dinâmica de socialização de jovens de periferia, sobretudo os jovens residentes no Bairro de Sussuarana, que se reúnem em torno da música, da cultura hip hop e de movimentos marginalizados que emergiram em um momento de enfraquecimento das instituições tradicionais (escola, família) e de dificuldades de inserção na vida adulta, notadamente no que se refere ao ingresso no mercado de trabalho e à tendência de diminuição da renda. Ao longo desse estudo serão citadas formas alternativas, como é o caso do Sarau da onça criado pelos jovens do bairro de Sussuarana para expressarem suas ideias, compartilhar e difundir suas músicas e produções culturais, que muitas vezes ficam no anonimato, visto que não são capturadas e veiculadas pela grande mídia e consequentemente pela indústria cultural. Também será apresentado o exemplo de um jovem e sua relação com a música, mostrando de que forma a música contribuiu para o seu processo de socialização e tomada de consciência de sua condição social. Segundo a professora e antropóloga Clarice Libânio,

 

                                      As manifestações de arte e demais manifestações culturais têm papel primordial na criação e desenvolvimento de laços afetivos e, consequentemente, no combate à marginalização e na oferta de novas alternativas de socialização e construção da cidadania para uma juventude exposta cotidianamente a riscos sociais diversos.

 

Antes de iniciar a discussão considero importante contextualizar a realidade desses jovens residentes no bairro de Sussuarana. Isso implicará numa compreensão maior. A Grande Sussuarana, localizada em Salvador, próximo ao Centro Administrativo da Bahia é uma área formada pelos bairros Nova Sussuarana, Novo Horizonte e Sussuarana, concentrando na sua composição populacional – com cerca de 110 mil habitantes – o perfil de pessoas com baixo poder aquisitivo que habitam um bairro periférico com insuficiência nos serviços públicos e principalmente espaços de lazer. A respeito dessa falta de espaço público cultural em bairros periféricos, Kehl afirma:

 

                                  A importância desta criação de espaços alternativos é enorme. O que prova que o esvaziamento das manifestações populares na atualidade tem muito a ver com a falta de espaços onde isso possa acontecer. Onde se cria um ponto de encontro e um incentivo a criatividade, surge frequentemente uma expressão artística que pode ser mais forte ou mais fraca, mas que é sempre necessária. (KEHL, 2000)

 

A partir do olhar de Kehl é possível perceber a importância da criação desses centros de lazer. Os jovens residentes no bairro de Sussuarana, assim como outros jovens de periferia tem muito mais em comum do que compartilhar da mesma realidade social, a música está presente entre eles, é o elo que os une. E é por isso, que eles criam espaços onde podem socializar suas ideias, pensamentos e talentos, já que o Estado, que deveria investir em pontos de cultura, deixa a desejar. Nos últimos anos têm sido produzidos muitos eventos culturais nas periferias, como é o caso dos saraus, das rodas de break nas praças, das batalhas de rima, etc, como mostra Gabriela Aleggrini, colunista da revista Caros Amigos:

 

                                O rap, o funk e outros ritmos nascidos nas favelas e nos                                                                                                      bairros mais distantes das grandes cidades já cruzaram                                                        diversas barreiras e podem ser ouvidos nos centros urbanos e                              nas rádios. Mas, hoje, a cultura que vem sendo produzida nas                     ·                                          periferia vai muito além dessas manifestações. Saraus, shows                              de samba, rap, Hip Hop, criação de bibliotecas… A produção                                                 cultural dos bairros mais pobres e afastados vive um momento                                      privilegiado.

 

E é nesse contexto que surge o Sarau da Onça, fruto da iniciativa de jovens do bairro de Sussuarana que insatisfeitos com a situação de violência e descaso vivenciada pelos jovens residentes do bairro, resolveram criar um espaço onde pudessem expor suas ideias, pensamentos e talentos através da arte. Atuando assim como fortes aliados no resgate de valores e na construção de uma sociedade mais igualitária, sendo hoje um polo de cultura e educação para os moradores do bairro. 

 

Metodologia

Os procedimentos metodológicos que serviram de base foram inicialmente às leituras voltadas para a explicação da produção social da miséria e seus desdobramentos no tecido social, sobretudo sobre as populações jovens, assim como estudos sobre a relação entre os jovens em situação de risco social e o sistema escolar e entre música e cotidiano. Seguiram-se então leituras voltadas para a cultura juvenil, sobretudo para a cultura marginal, o que proporcionou uma maior compreensão a respeito dessa dinâmica artística e cultural. Autores como Kehl, Michel Foucault, Afrânio Mendes, Renato de Souza, Márcia Pratta  e Bauman, foram imprescindíveis para a formação de uma base teórica. Foram realizadas também pesquisas na internet, sobretudo no site do IBGE e em redes sociais. 

Para além das leituras e revisões bibliográficas foram feitas entrevistas com jovens que participam de grupos musicais ou desenvolvem atividades nesse campo, onde foram coletados depoimentos, além da participação em shows e apresentações desses grupos musicais. Foram realizadas visitas aos saraus, onde foi possível observar e fazer uma análise detalhada de tal expressão cultural. Houve também a organização e execução de um seminário onde foi possível discutir temas que permeiam esta pesquisa. Este seminário gerou registros audiovisuais que poderão ser utilizados mais tarde como apoio para futuras publicações. E neste ano de 2013 pretende-se dar continuidade ao evento, realizando assim a 2ª edição do Seminário Cultura, Juventude e participação social.

 

Análise do Sarau da onça como base metodológica

 

      Batizado como “sarau da onça”, o evento tem como referência o Sarau Bem Black (que acontece no Pelourinho) e o Sarau Coperifa (realizado em São Paulo) e recebe este nome em homenagem ao nome do próprio bairro de Sussuarana – nome este oriundo do mito da onça Suçuarana – e tem como slogan “o diferencial da favela”, que remete a ideia de que o sarau é algo peculiar no contexto em que está inserido, além de despertar um sentimento de identidade, de pertença à comunidade. Roque Laraia em sua obra Cultura: um conceito antropológico traça uma relação entre o homem e a cultura, o que explica de certo modo essa proximidade do sarau da onça com elementos característicos do bairro em que está inserido:

                                      O homem é resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridos pelas numerosas gerações que o antecederam. (LARAIA, 2009, p.45)

 

Com o objetivo de sensibilizar as pessoas do bairro de Sussuarana e dos demais bairros de Salvador para que discutam sobre sua realidade de forma crítica, formando assim novos agentes de transformação social, o sarau da onça tem cunho social e militante. Além disso, o sarau implica o acesso à arte e ao lazer possibilitando o desenvolvimento do pensamento artístico e a valorização das expressões artísticas do bairro. Na obra Da lama ao caos: a invasão da privacidade na música do grupo Nação Zumbi, Kehl argumenta:

 

                                  Diante da ausência daquilo que o poder público deveria oferecer como centros de lazer, pontos de encontro, de educação, de trocas de informação etc, esses pequenos trabalhos das organizações não governamentais ganham espaço entre as populações carentes. Podem observar que onde existe um trabalho comunitário desses, acaba surgindo um talento, um bloco, uma banda, um artista novo. (KEHL, 2000, p.112- 113)

 

O sarau da Onça acontece quinzenalmente aos sábados à noite, com a exceção dos meses de maio e novembro, onde o sarau ocorre durante o mês inteiro, sendo realizado no Centro de Pastoral Afro Heitor Frisotti (CENPAH), localizado no bairro de Novo Horizonte, atual parceiro que cede o espaço para a realização do sarau.  O CENPAH é um centro de promoção da cultura negra que em parceria com várias instituições do bairro e da cidade, apoia e promove iniciativas ligadas à discussão da realidade do povo afro-brasileiro. O Sarau da onça conta com apresentações de poesias, danças, música e teatro, sendo a poesia seu carro-chefe. O sarau não possui nenhuma forma de apoio financeiro, sendo gratuita a entrada e o microfone é aberto, assim qualquer pessoa pode expressar suas ideias ou mesmo apresentar seus talentos artísticos.

Com um público bastante diversificado, o sarau da onça é frequentado por crianças, jovens, adultos e pessoas de idade mais avançada.  Apesar de ser realizado em um centro que pertence a Igreja católica, o sarau é um evento independente, não possui ligação alguma com qualquer forma de expressão de fé. Conta com uma programação diversificada, abrindo espaço não só para os artistas locais, mas agregando apresentações de grupos, artistas e poetas de outros bairros de Salvador e de outros estados, dessa forma o projeto abraça todos que de alguma forma se identificam e que surgem durante o processo de construção.

Em seus dois anos de existência, o sarau vem ganhado espaço, tornando-se conhecido entre os bairros de Salvador, sendo pauta de matérias em portais na internet, como é o caso do portal Varela Notícias e ibahia que publicaram uma matéria sobre a comemoração de dois anos do sarau. As redes sociais, principalmente o facebook e o twitter servem de instrumento de difusão, onde os internautas compartilham flys e notícias relacionadas ao sarau, bem como apresentam sugestões, elogios e críticas a respeito do evento. Além das redes sociais mencionadas, o canal youtube é outro instrumento utilizado como meio de divulgação, servindo como espaço de armazenamento de vídeos, frutos de gravações do sarau. O sarau conta ainda com um blog, onde é possível obter informações sobre o que vem acontecendo, programação, história do sarau, idealizadores e notícias relacionadas. 

      Durante o sarau muitos assuntos são abordados em meio às poesias e canções. Os temas mais recorrentes são refrentes a desigualdade social, violência e extermínio de jovens, preconceitos, política, família e situações cotidianas. Em entrevista com Evanilson Alves, um dos idealizadores do sarau, ele comenta: “a arma utilizada são as palavras da boca dos poetas e poetizas das baixadas e vielas do bairro.” Ao ser questionado a respeito da importância e do porquê de abordar esses temas, Sandro Sussuarana, outro jovem idealizador do sarau declara:

 

                                 Muitas vezes dar-se a impressão de que parte da sociedade não está consciente desta realidade ou pela indiferença preferem guardar o silêncio. Sabendo que o jovem é o futuro de nossa sociedade, nós não podemos calar ante os atos bárbaros de assassinatos.

 

                                    Recentemente o sarau da onça começou a desenvolver um novo projeto: o de levar o sarau para os diversos cantos da cidade de Salvador, conhecido como Pôr do Sarau. O Pôr do Sarau ou sarau itinerante, como também é conhecido, é uma forma de aproximar as pessoas da produção cultural oriunda dos bairros populares, bem como tornar mais conhecido o sarau em bairros mais distantes da Sussuarana.

       Apesar do sarau da onça ter como objetivo apresentar as produções artísticas dos moradores do bairro de Sussuarana e de outros bairros vizinhos, além de despertar as pessoas para a construção do pensamento crítico, afim de que elas percebam a sua importância e o seu papel como agente de transformação social, o sarau, ainda é muito restrito quando se refere à música. O sarau muitas vezes limita-se apenas ao movimento Hip Hop, através do rap – ritmo que possui uma carga de protesto, de insatisfação, de denúncia -, excluindo assim os inúmeros ritmos musicais, que também são oriundos das periferias, como é o caso do pagode e do funk (sendo considerados ritmos musicais que alienam a população, que não tem o que contribuir), discurso este fruto de concepções ideológicas, mas que é apropriado e repetido pelos frequentadores do sarau. Como aborda Michel Foucault, em seu ensaio A ordem do discurso (1970),

 

Por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as interdições que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligação com o desejo e com o poder. Nisto não há nada de espantoso, visto que o discurso – como a psicanálise nos mostrou – não é simplesmente aquilo que manifesta ou (oculta) o desejo; é, também, aquilo que é o objeto do desejo, e visto que – isto a história não cessa de nos ensinar – o discurso não é simplesmente àquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo porque, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar. (FOUCAULT, 1970, p.10)

 

Mesmo não abraçando muito esses ritmos musicais citados anteriormente, o sarau é um ponto de encontro e socialização. A música está sempre presente em sua programação. Mesmo os poetas ou as pessoas que não fazem parte de um grupo musical, acabam sendo envolvidos pela música e muitas das poesias recitadas, são letras de canções. Em entrevista com os dos frequentadores assíduos do Sarau da onça, Aquim Menezes, que é morador do bairro do Cabula (Estrada das Barreiras), ao ser questionado sobre essa relação entre juventude e música, ele responde:

Não são todos os jovens que se interessam por música, muito menos pelo rap. A grande maioria da juventude hoje está voltada para “músicas ruins”… O rap pode ser mais predominante acho que pela realidade de cada um, pelo teor contido nas letras, pela força de expressão, pela permissão de falar aquilo que se quer da forma que bem entender, claro que dentro da linha do respeito… A preferência pela música, acredito que seja pela forma como ela cativa cada um, cada indivíduo, cada ser pensante, como cada um age na vida. Querendo ou não a gente absorve um pouco da música. Eu prefiro a música do que o crime.

     

       Percebe-se assim que grande parte dos jovens encontra na música um refúgio, uma forma de expressão. Muitos conseguem identificar-se com as letras das músicas, veem-se refletido nelas. Quando se trata do rap, isso é ainda mais evidente. Muitos mc’s (mestre de cerimônia), nome dado aos cantores de rap, traduzem nas letras de suas músicas suas próprias histórias, suas vivências, seu cotidiano. Este é um dos grandes motivos pelo qual os mc’s não costumam cantar músicas de outros mc’s, justamente por serem muito pessoais, por retratar experiências únicas e profundas.

 

Conclusões

Música e socialização: o rap entra em cena

         É interessante essa forma como os jovens se aproximam da música e como a música interfere em suas vidas. Aquim Menezes é um exemplo disso. O seu primeiro contato com o rap deu-se em um presídio, enquanto ele fazia visitas ao tio que estava preso. Ainda criança, em uma das visitas ele conheceu um grupo de rap chamado Revolução Carcerária que despertou nele um grande interesse pelo ritmo musical. Porém, sua família mostrou-se contra, visto que tinham receio que ele seguisse o mesmo caminho daqueles presidiários. Ele comenta:

 

O rap nunca teve aceitação dentro de casa. Desde os primórdios da estrutura familiar daqui, sempre foi taxado como algo ligado a bandidos, enfim, toda aquela conversa que todos conhecem. Quando eu vi aquele grupo de rap cantando um refrão que gostei “revolução carcerária tá na área meu irmão…” eu era muito moleque, mas gostei, talvez pelo estereótipo dos caras. Só que quando eu fui “partir pra cima” a família não gostou muito, achou que eu fosse seguir alguma coisa ruim em relação ao rap. O tempo passou e eu deixei de visitá-lo por motivos pessoais e voltei pra Salvador. Aqui em Salvador tive a oportunidade de formar o meu próprio grupo de rap. A primeira formação foi nomeada Registro do Guetto, foi uma escola pra mim, onde aprendi coisas boas e ruins. Atualmente faço parte do grupo Insurreição R.A.P.  junto com Rafael Mc.

 

      É interessante ressaltar que mesmo sendo estigmatizado, mesmo sofrendo toda essa renúncia por parte de algumas pessoas o rap ainda consegue mobilizar a juventude, muitas vezes sem ter nenhum apoio midiático ou visibilidade especial nas lojas de discos.  De maneira semelhante, a música eletrônica e as festas populares de rua (raves) são, hoje, um dos campos que mais oferecem possibilidades de rompimento com a lógica dos grandes monopólios da indústria cultural. Com a maior facilidade de acesso a internet e a programas de edição, aumenta as possibilidades de que os segmentos jovens cada vez mais amplos da população se envolvam na produção e no consumo dessa cultura musical.

     Segundo Afrânio Catani e Renato Gilioli, no livro Culturas juvenis, múltiplos olhares “essas novas formas de relacionamento dos jovens com a música apontam também para duas tendências opostas simultâneas.” Ele continua:

 

                                      Se estilos como a música eletrônica, o rap e outros permitem                              expressões autônomas dos jovens e funcionam como meios de                                     construção de um discurso juvenil com potencial de subversão                                      do sistema, agem também anestesiando os sentidos dos                                 espectadores. O ritmo repetitivo e a combinação inusitada dos                                  sons, quando acompanhadas por ambiente com luzes                                                    especiais de consumo de substâncias psicoativas, muitas                                                               vezes proporcionam mais a desarticulação social e individual                                          do que a agregação socializadora, que se torna fugaz e                                                 instável nesses contextos.

 

     Por outro lado, a música também pode ser instrumento motivador de transformação e superação, como conta Aquim. Ainda quando criança, ele cursava séries avançadas para sua idade, mas com o tempo, por motivos particulares, ele abandou a escola. E foi a música que o fez retomar os estudos. Ele nos conta:

 

                                       Tem um verso de Racionais que se aplica bem ao momento                                          que eu vivia, que diz assim: ‘pela janela da classe, eu olhava lá                                      fora, a rua me atraia muito mais que a escola…’  Então foi isso,                                    ninguém me tirou da escola, ninguém chegou e me ofereceu                                outro caminho, nem nada. Eu saí, eu fui atrás… Então com o                              passar dos anos acabei tendo uma necessidade gramatical, a                                      necessidade de expandir, enquanto a mensagem que eu queria                                      passar. Eu vi que não estava mesmo tendo aquela linha de                                  raciocínio lógico, aquela dinâmica das rimas, a esperteza… E                                       aos 25 anos eu retornei pra sala de aula…

 

       A partir desse estudo, que não se encerra aqui, tendo continuidade pelos próximos doze meses é possível tirar algumas conclusões, que mais tarde poderão ser enriquecidas por estudos mais profundos. Por agora, é possível afirmar que a música é um fator de socialização, é um instrumento capaz de gerar mudanças, basta acreditar. Como disse Aquim, ao ser questionado se o rap era um instrumento de mudança: “ o rap é… nem sei definir. Quando a gente define, a palavra não é tão forte. Eu acho que qualquer coisa para o ser humano é um instrumento de mudança, basta que ele acredite. E eu acredito no rap…”  Por fim, como resultado dessa socialização no cotidiano juvenil proporcionada pela arte, retomo o exemplo do sarau da onça, que com dois anos de existência tornou-se espaço de cultura e socialização que se mantêm resistente frente as tentativas de homogeneização da cultura, mantendo-se fiel, não se sabe até quando a proposta inicial a qual lhe deu origem: o resgate da consciência do poder de transformação social do público.

 

Referências:

 

BAUMAN, Z. – Vidas desperdiçadas. São Paulo: Jorge Zahar Editor. 2005

 

PRATTA, Márcia Aparecida Bertolucci. Adolescentes e jovens…em ação! :aspectos psíquicos e sociais na educação do adolescente hoje. São Paulo. Editora UNESP, 2008.

                               

CATANI, Afrânio Mendes: Culturas juvenis: múltiplos olhares/ Afrânio Mendes Catani, Renato de Sousa Porto Gilioli.-São Paulo: Editora UNESP, 2008

 

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Aula inaugural no College de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Tradução: Laura Fraga de Almeida Sampaio. Edições Loyola, São Paulo, Brasil, 1996.

 

KEHL, M.R. Função Fraterna. Da Lama ao caos: a invasão da privacidade na música do grupo Nação Zumbi. Rio de Janeiro: Relume – Dumará, 2000.

 

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico – 24.ed.,- Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

 

Blog: http://saraudaonca.wordpress.com

*Título do subprojeto: A música como perspectiva de socialização no cotidiano juvenil

BOLSISTA: ELISANE ALVES DOS SANTOS

RELATÓRIO TÉCNICO FINAL- PROGRAMA DE INCENTIVO A BOLSAS DE INICIAÇÃO CINETÍFICA- PIBIC AF

 

 

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador