A briga ideológica

Coluna Econômica

Periodicamente, o país é sacudido por um conjunto de slogans econômicos, que em vez de elucidar a discussão serve apenas para propósitos políticos, de grupos.

Foi assim no final dos anos 80, com a defesa enfática do fechamento da economia, da reserva de mercado da informática. E tem sido assim nos últimos anos, mas em direção inversa: o ataque a qualquer forma de defesa da produção nacional.

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AecoA economia não funciona assim. Posições fechadas em uma direção ou outra são típicas de quem faz política ou joga para a plateia. No dia-a-dia da economia, os bons gestores pensam pragmaticamente, buscando para cada momento a melhor solução.

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Tome-se o caso de um grupo de empresários e economistas ligados a ele, que participaram ativamente da vida nacional nos anos 50 e 60.

Nos anos 50, o futuro mercadista intransigente, Roberto Campos, ajudou na montagem do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), porque sabia da necessidade de um banco de desenvolvimento que garantisse capital de longo prazo.

No final dos anos 60, o próprio Campos incentivou o aumento da posição do Estado em vários setores da economia, quando percebeu que o setor privado não dava conta.

E vice-versa.

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Em meados dos anos 80, economistas do BNDES já tinham percebido a importância da abertura gradual da economia. Mas foram impedidos pelos repetidores de slogans da época.

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Agora, ocorre o mesmo em ordem inversa. Há necessidade de grandes investimentos em infra-estrutura. Há ênfase na participação do setor privado, mas há elos da cadeia que não estão formados. Por exemplo, o seguro para grandes obras, ou a necessidade de financiamentos de longo prazo.

Nesses casos, é papel do Estado complementar, pela simples razão que, não complementando, as obras não saem.

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É evidente que tem que haver acompanhamento crítico das ações de Estado. Por exemplo, o BNDES deveria concentrar tanto financiamento em tão poucos grupos? Os financiamentos obedecem aos princípios dispostos no Programa de Desenvolvimento Produtivo? A Petrobras poderia buscar outras fontes de financiamento?

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No entanto, o que se ouve em redes de rádio e TV é apenas a repetição de slogans, como se toda intervenção pública fosse daninha ou houvesse alternativas privadas.

Infelizmente, no âmbito de algumas redes de mídia, a discussão econômica não visa mais a busca de resultados, mas o embate ideológico, a repetição de slogans, como se objetivo final não fosse o de promover o desenvolvimento do país.

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O mercado terá um papel relevante na nova etapa. Caberá a ele reunir capitais para grandes projetos, promover a reorganização produtiva do país, através da abertura de capitais das empresas. Mas em qualquer país maduro já há necessidade da mão do Estado quando houver falhas de mercado.

Há muito, empresas modernas brasileiras, gestores públicos, aprenderam a buscar resultados, a colocar o fim na frente dos meios. Mas no debate público brasileiro, ainda não ocorre. Se for necessária a participação do Estado para viabilizar uma hidrelétrica fundamental para o país, preferem que se fique sem a hidrelétrica.

Felizmente sua atuação serve apenas para alegrar plateias. 

Luis Nassif

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