Diretor do sindicato defende fechamento de creche na USPMagno de Carvalho diz que não conhece meios alternativos de paralisação; Sintusp promete fechar centro de computação da universidade
Em entrevista ao Estado, o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) Magno Carvalho defende o direito de fechar creches durante uma greve e diz que gostaria que alguém mostrasse meios alternativos de reivindicação eficaz. Leia abaixo trechos da entrevista:
Qual o objetivo do Sintusp ao fazer um piquete em uma creche?
Primeiro, não foi o Sintusp que decidiu. Temos duas creches na USP, uma parada a outra com uma parte dos funcionários em greve. Depois de várias reuniões, eles chegaram a fazer um acordo de que parariam em dias de manifestações. Mas alguns começaram a reclamar que o trabalho estava muito puxado, começou uma divergência entre eles. O pessoal decidiu fechar a creche para fazer uma reunião de todos, porque com as crianças não dá. Eles tomaram essa decisão, comunicaram ao comando de greve e pediram apoio. Foi decisão deles, o comando só deu os meios e materiais e algumas pessoas do comando também foram para lá.
Mas esse tipo de ação não acaba prejudicando a própria imagem do movimento?
Da forma como foi divulgado e de como houve a reação, sim. Mas dois professores sozinhos conseguiram arrumar a confusão. Eles não estão na greve e pressionam pelo fim da nossa greve. Eles foram para cima, um chamou a polícia. Eu já tive filho na creche. A greve é uma contradição, porque prejudicava a mim mesmo. Fechar o restaurante prejudica o funcionário também. É como você fazer uma greve em um hospital. Mas foi uma questão entre os trabalhadores daquela unidade. Estamos num momento decisivo da greve, então é natural que todo mundo esteja tentando pressionar.
Não cabia ao comando da greve negar um piquete lá?
O comando de greve até poderia ter achado isso ou aquilo, mas a gente não achava que haveria essa provocação desses dois pais. Não tem uma greve que não prejudique os outros. De hospital é ainda pior que de uma creche. O servidor público tem um dificuldade de fazer greve porque afeta o público, em geral a população mais pobre. Mas não se pode concluir que o servidor não possa fazer greve. Se for assim os salários vão ficar tão defasados que vão afetar a todos. Ontem foi formado um grande “rebu” por poucas pessoas, que ganhou dimensão na imprensa. Já aconteceu de as duas creches pararem e todo mundo deu um jeito. Já tive de trazer meu filho para a greve. Não é o ideal, não é. Mas dá-se um jeito.
Não há meios alternativos de fazer reivindicações?
Vou dizer com toda sinceridade: quero que um dia alguém me aponte isso. Porque para nós, o momento mais desgastante é o momento da greve. É um momento de confronto entre empregado e empregador e atinge o público. Queria que um dia alguém respondesse, mostrasse para mim. Estou há 33 anos nessa universidade e nunca conseguimos nada que não fosse pela greve, pela luta. Eles não nos respeitam de outra forma. Só na hora que sentem a falta do trabalhador, aí valemos alguma coisa. A greve tenta evitar a defasagem salarial com o mercado, evitando que ser perca mão de obra de qualidade. E isso é lutar pela qualidade da universidade pública.
A promessa de fechar o Centro de Computação Eletrônica está mantida?
Nossa assembleia já tinha determinado que se não avançarmos na negociação, vamos fechar. É uma radicalidade? Vai parar o coração da USP, afetar todo o sistema? Sim, mas o cortar o ponto de 1.600 trabalhadores, que estão sem salário, com criança passando fome, isso não é também uma violência? E nós vamos fechar, com polícia ou sem polícia.
Ainda que isso signifique confronto?
Vamos para lá cumprir o que determinou a assembleia. Confronto é de quem chamou a polícia. Polícia dentro de uma universidade é invasão.
Mesmo que seja para proteger um patrimônio público?
Mas não vamos depredar o patrimônio público. Vamos criar uma situação de paralisação. Mas não queremos isso. Queremos é negociar.
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