Nova Economia: A real competitividade do Brasil está na indústria de Química Verde

País precisa investir em pesquisa e integração com a indústria, já que muitas das atuais patentes são descartadas

Juruena, MT, Brasil: Antônio Bento de Oliveira caminha em busca de castanheiras por área da reserva legal comunitária do assentamento Vale do Amanhecer. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Dados do Banco Mundial estimam que a Floresta Amazônica em pé poderia render ao país R$ 1,5 trilhão por ano, valor sete vezes maior do que qualquer lucro obtido com atividades de extração. 

A partir da riqueza natural, o Brasil poderia desenvolver a indústria da Química Verde, a fim de exportar remédios, produtos de limpeza, de fármacos, perfumes e oferecer produtos que fossem realmente competitivos. 

Esta é a conclusão do Sergio Leitão, diretor Executivo do Instituto Escolhas, convidado do programa Nova Economia da última quinta-feira (29).

Mas, para se tornar uma potência nesta indústria, descrita pelo convidado como a mais promissora, o país precisa destinar os recursos necessários para o desenvolvimento e pesquisa, mas esta priorização está longe de ser realidade. 

“Cadê a pesquisa? A Zona Franca de Manaus está de costas para a floresta. Os insumos não estão lá. Ela gasta 25% da renúncia fiscal de R$ 30 bilhões por ano para trazer o que está fora ser beneficiado lá”, adverte Leitão. 

E, ao analisar o eixo de Bioeconomia e Descarbonização do Programa Nova Indústria, o advogado observa que sobre a Química Verde há apenas um item genérico sobre fitoterápicos, que não está na área da Saúde. O Brasil, aliás, é um grande importador de fitoterápicos. 

“O grande problema é a descoordenação. Não existe uma integração de esforços para que tenha uma [coordenação], você cria a patente e as patentes se perdem porque não há o uso devido delas. Então diferentes iniciativas que conheço de pesquisa que resultaram até em patenteamento depois não se transformam em integração com a indústria para que eles possam virar produtos”, continua o entrevistado. 

Concorrência 

Sergio Leitão ressalta o potencial da Química Verde porque as demais estariam prejudicadas em uma eventual competição com a China, de onde vem a matéria-prima até para a produção de estátuas do Padre Cícero em Juazeiro do Norte, no Ceará.

“A grande novidade que se vende em Juazeiro e é disputada a tapa entre os romeiros é uma estátua grande do Padim Ciço que quando você abre a porta em casa à noite, ela se ilumina toda e fala ‘Valei-me, meu Padim Ciço’. Vem da China. Ora, se a gente nao está conseguindo disputar nem o mercado dos santos, como é que a gente vai fazer com o resto?”, questiona o convidado.

Apesar de reconhecer a importância de uma política industrial no plano de desenvolvimento econômico do país, Leitão acredita que o Programa Nova Indústria Brasil tem uma série de questionamentos para serem feitos, para que as políticas traçadas não se resumam a uma apresentação. 

“Faz sentido hoje o Brasil ser grande em siderurgia? Nos últimos anos, várias empresas foram fechadas exatamente pela competição chinesa”, observa.

Confira a entrevista na íntegra:

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Camila Bezerra

Jornalista

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