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A recuperação da indústria de transformação, até quando?, por Carmem Feijó

Nesse sentido, 2025 será um ano decisivo para a indústria brasileira, que está debilitada por quatro décadas de baixos investimentos

José Paulo Lacerda – CNI

A recuperação da indústria de transformação, até quando?

por Carmem Feijó

Até outubro de 2024 a indústria de transformação se expandiu em 13,8%, compensando a retração de 11,8% em 2023, segundo a pesquisa industrial mensal de produção física do IBGE. Pelas características da indústria, sua recuperação recente contribuiu positivamente para a expansão do PIB, que no terceiro trimestre de 2024 apresentou crescimento de 4,0% e a indústria de transformação 4,2% no mesmo período.

Considerando o impacto sobre o nível de emprego, dadas as interrelações setoriais, o crescimento da produção da indústria de transformação impulsiona a formalização no mercado de trabalho, pois as contratações no setor são majoritariamente com carteira assinada. De fato, desde o 4º. trimestre de 2023, o número registrado de empregados formais no setor privado (exclusive os trabalhadores domésticos) são os mais elevados desde o início da série da PNAD contínua em 2012. Em relação à remuneração média real, segundo a mesma pesquisa, o rendimento do trabalho principal habitualmente recebido por mês, pelas pessoas ocupadas na indústria geral foi de R$ 3156, em novembro de 2024, enquanto o salário-mínimo real foi de R$ 1412 no mesmo mês.

Do ponto de vista dos setores da indústria de transformação, conforme Gráfico abaixo, em todos as taxas de variação da produção foram positivas até outubro de 2024 (com exceção da produção de Fumo), contrastando com o resultado de 2023, quando todas as taxas foram negativas (exceção produção de Bebidas). 

Vários fatores podem explicar os resultados positivos da indústria de transformação ao longo do ano de 2024, como a sinalização de queda da taxa de juros básica (SELIC) desde o segundo semestre de 2023 (passando de 13,25% em agosto de 2023 para 10,50% em julho de 2024), a recuperação da taxa de investimento da economia, que se situou em 17,8% no 3º. trimestre de 2023 e passou para 19,0% no 3º trimestre de 2024 (série em valores constantes com ajuste sazonal). Some-se a isso, o comportamento da taxa de câmbio que esteve desvalorizada ao longo do ano, apesar do saldo comercial da indústria de transformação ser deficitário.

A dúvida que se coloca é por quanto tempo a expansão industrial pode persistir. Isso porque a partir de setembro de 2024 o Banco Central do Brasil iniciou um ciclo de elevação da taxa básica de juros, que foi intensificado em novembro e seguirá em alta no início de 2025. Esse movimento deve enfraquecer o consumo doméstico de bens duráveis, além de desestimular as decisões de investimento produtivo.

Um fator a mitigar os efeitos negativos da elevação da taxa de juros sobre o investimento é o programa de depreciação superacelerada, aprovado pelo MDIC, que reduz tributos de empresas em 23 setores da economia que adquiram bens de capital num prazo de dois anos. Este é um incentivo relevante, principalmente considerando que está em vigor desde 2023 uma política industrial e um plano de transição ecológica, que são estratégicos para redesenhar a matriz produtiva do país e para recuperar a nossa capacidade de crescer de forma robusta.

O projeto de reindustrialização, entendido como mudança estrutural na direção de tornar mais densa a cadeia produtiva da indústria no território nacional e de caminhar na direção da descarbonização dos processos produtivos, é ambicioso mas pode ser ameaçado por uma política macroeconômica excessivamente restritiva. Nesse sentido, 2025 será um ano decisivo para a indústria brasileira, que está debilitada por quatro décadas de baixos investimentos, insuficiência de políticas industriais, e enfrentando pressões competitivas crescentes tanto no mercado doméstico como internacional. O avanço da Nova Indústria Brasil e de iniciativas de descarbonização, assim como a percepção por parte dos agentes econômicos (bem como de pressão de orgãos de financiamento internacionais) dos prejuízos financeiros que as crises climáticas provocam, oferecem o pano de fundo para a modernização e fortalecimento do parque industrial brasileiro.

Carmem Feijó – Professora titular na Universidade Federal Fluminense, pesquisadora CNPQ e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Financeirização e Desenvolvimento – Finde/UFF

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