A sucessão no Banco Mundial

Do Valor Econômico

Sucessão no Banco Mundial em debate

Por Sergio Leo | De Pretória

Ruy Baron/Valor/Ruy Baron/Valor
Antônio Patriota, ministro das Relações Exteriores: apoio a melhoras na governança global

A regra informal que reserva aos Estados Unidos a presidência do Banco Mundial terá de ser abandonada já na próxima eleição para o comando da instituição, em 2012, segundo reivindicarão dos chefes de Estado do grupo conhecido como Ibas – Índia, Brasil e África do Sul. Segundo o texto a ser assinado pelos presidentes hoje, a necessária reforma do sistema de governança global exige que a escolha do futuro presidente do banco seja feita de forma transparente, por critérios técnicos, sem exclusividade de nenhum país.

“Tudo que seja em favor da melhoria da governança global estará em nossa agenda”, confirmou o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota. “Não é novidade”, minimizou.

A referência ao Banco Mundial não menciona expressamente os EUA, mas é idêntica à feita pelo Brasil e outros emergentes no início do ano em relação ao FMI, quando o diretor-geral do fundo, Dominique Strauss-Khan, foi forçado a renunciar após um escândalo sexual, do qual acabou inocentado. No FMI, a intenção de nomear um diretor de emergente foi frustrada e escolhida a francesa Christine Lagarde.

É pouco provável que os EUA, maior acionista do Banco Mundial, concorde em ceder à pressão do Ibas, mas a declaração é mais um passo na articulação entre os três países para buscar aliados em favor da mudança no comando das chamadas instituições de Bretton Woods – o FMI e o Banco Mundial -, desde a década de 40 comandados respectivamente por um europeu e um americano.

Hoje, em Pretória, a presidente Dilma Rousseff pretende discutir com o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, propostas conjuntas a serem levadas pelos países à reunião do G-20. O G-20 se reunirá em novembro, em Cannes, na França.

Criado para reforçar nas instâncias internacionais a posição individual de cada uma das três grandes democracias emergentes economicamente, o Ibas também mostrará o consenso dos três países na esfera política internacional. Os presidentes defenderão, hoje, a constituição do Estado palestino e, numa crítica à incapacidade das grandes potências no Oriente Médio, cobrarão das Nações Unidas que intervenha na atuação do chamado Quarteto, formado por EUA, União Europeia, Rússia e o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki Moon – encarregado de mediar as negociações de paz entre israelenses e palestinos.

Como antecipou ontem o Valor, os presidentes devem rejeitar a intervenção internacional na Síria convulsionada por protestos e brutal repressão governamental, mas condenarão a violência contra a população indefesa.

No plano econômico, cobrarão uma resposta mais adequada à crise por parte dos países da zona do euro e criticarão o uso da manipulação de moedas como arma de competitividade comercial – fazendo referência ao instrumento usado pelos EUA, de emissão de moeda para contrabalançar as pressões recessivas na economia. Os três governante devem manifestar preocupação com o aprofundamento da crise e os efeitos sobre as economias emergentes.

Os três países discutirão hoje também projetos para reforçar os laços econômicos entre si, como operações navais conjuntas (já realizadas no Oceano Atlântico, com planos de se realizarem também no Oceano Índico); e estudos para uso dos portos da África do Sul como ponto de ligação comercial entre Brasil e Índia. Hoje os três países se comunicam por via marítima usando o porto de Roterdã, na Holanda.

Segundo o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloysio Mercadante, a reunião do Ibas serviu, ainda, para que a Índia eliminasse as resistências ao projeto conjunto de lançamento de um satélite de monitoramento para monitorar anomalias na camada magnética da atmosfera. O projeto, com um custo de apenas US$ 10 milhões (mais US$ 7 milhões para o lançamento), permitirá à África do Sul reativar seu programa espacial, construindo o satélite, que terá carga útil a cargo do Brasil e o lançamento feito pela Índia.

Luis Nassif

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