Alta dos alimentos é causada pelo clima e consumo interno

Do Estadão

Clima e consumo doméstico explicam movimento de alta  

Os preços internacionais dos alimentos caíram nos últimos cinco meses especialmente porque a demanda global continua menor que o esperado por analistas. A redução é observada especialmente nos grãos.

Apesar desse cenário, dizem analistas, os preços ao consumidor não caem no Brasil porque o setor ainda carregaria o efeito dos problemas climáticos do ano passado. Além disso, o ambiente de consumo doméstico é contrário ao externo e é favorável ao aumento de preços. Já o atacado registra recuo de preços desde o início do ano.

O chefe de pesquisa econômica do BNP Paribas Fortis, Philippe Gijsels, explica que a queda das commodities alimentares nos últimos meses é resultado de um ambiente econômico ainda desfavorável em todo o mundo. “O setor agrícola tem vendido menos e por mais tempo que o esperado, especialmente por causa do fraco desempenho do setor de grãos e oleaginosas”, afirma o economista.

Grãos brasileiros. A principal razão para a queda da inflação global de alimentos está diretamente ligada a grãos produzidos no Brasil, diz o economista do BNP Paribas Fortis. “A demanda por grãos no inverno do Hemisfério Norte foi fraca e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) acabou revisando para cima as estimativas para os estoques globais”, diz o economista, ao citar como exemplo a soja.

No início de março, o USDA anunciou que a estimativa dos estoques de soja foi mantida em 125 milhões de bushels (1 bushel de soja equivale a 27,2 quilos), acima dos 120 milhões previstos pelo mercado financeiro. A mesma coisa aconteceu com o trigo, cuja estimativa de estoque está em 716 milhões de bushels (1 bushel de trigo equivale a 25,4 quilos) contra 704 milhões de bushels dos analistas. Em outras palavras, há mais alimentos disponíveis que o mercado imaginava e, por isso, o preço cai.

A economista para América : Latina do britânico Royal Scotland Bank (RBS), Flavia Cáttan-Naslausky, classifica como “elevada” a pressão observada : no grupo de Alimentos e Bebidas do índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que acumula alta de mais de 11% em 12 meses.

Em relatório, Flavia comenta que parte dessa alta ainda é resultado dos choques de oferta observados no ano passado – quando parte da produção agrícola brasileira foi prejudicada por problemas climáticos.

Ela ressalta que a inflação agrícola no atacado começou a arrefecer no início do ano. Na segunda prévia do IGP-M de março, os preços agrícolas caíram 0,38% no atacado. Em igual período de fevereiro, a deflação foi de 1,30% também no atacado. Os números mostram que, pelo menos no preço oferecido pelo fornecedor, a queda dos preços internacionais chegou ao Brasil.

A economista para América Latina do RBS avalia que essa deflação deve ser sentida pelos consumidores em algum momento. “A expectativa é que esse movimento do atacado chegue à inflação ao consumidor no grupo Alimentos e Bebidas”, diz. Flavia, porém, faz uma ressalva: essa desaceleração tende a ser limitada. “Dado o nível de preços dos itens não administrados (que continuam subindo), o impacto positivo será limitado.” /F.N.

Luis Nassif

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