As agruras da Goldman Sachs

Coluna Econômica – 04/05/2010

Os problemas enfrentados pelo banco Goldman Sachs, nas investigações do Senado americano, mostram uma faceta conhecida – mas negligenciada durantes anos – dos golpes aplicados no mercado financeiro através da manipulação de análises.

O esquema é simples.

No mercado financeiro onde se negociam ou ativos ou títulos públicos, os preços são formados de forma diversa daquela da economia real. Nesta, o preço de um determinado ativo depende da geração de lucros prevista e de uma taxa de remuneração esperada – que tem poucas variações.

Nas bolsas, nos mercados futuros, de taxas ou de títulos públicos, os preços variam em função de expectativa. Uma avaliação de um banco de investimento sobre uma empresa ou um país tem o condão de elevar ou derrubar os preços. E, no mercado futuro, ganha-se na alta e ganha-se na queda – se o investidor souber se antecipar aos movimentos de mercado.

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Nas investigações do Senado americano, é extensa a relação de manipulações da Goldman Sachs.

Quanto explodiu o mercado de subprime nos EUA, a Goldman se saiu bem.

Em abril passado, a Securities & Exchange (a Comissão de Valores Mobiliários americana) informou que a Goldman lançou um fundo sabendo que os preços despencariam em seguida.

Em muitos casos, quando o valor dos fundos de subprime despencaram, a Goldman festejou, pelo fato de não precisar mais remunerar os investidores – que morreram com o mico.

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Esse movimento já tinha ocorrido nos anos 90, com as diversas crises cambiais de países. Presidente do Conselho de um dos grandes grupos nacionais, Paulo Cunha testemunhou certa vez um operador financeiro de Wall Street comentando com o colega que naquele dia iriam detonar o México. Consistia em espalhar avaliações negativas sobre o país e vender títulos mexicanos de uma vez.

Na bolha da Internet, repetiu-se o modelo.

O jogo era conhecido. Bancos descobriam papéis de determinadas empresas, considerados baratos, e adquiriam grandes lotes. Em seguida, seus analistas passavam a soltar relatórios favoráveis à empresa. Os preços subiam até passar do nível do razoável. Aí eles vendiam os papéis na alta. Em seguida, os analistas começavam a colocar em dúvida o futuro da empresa. Os preços despencavam pelo chamado efeito-manada – todo mundo correndo na mesma direção. Os bancos voltavam a adquirir os papéis com preços baratos.

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Esse jogo era escarrado, sem disfarces. Em dezembro de 1994, um mês antes do México explodir, a Goldman Sachs considerava o país o de menor risco da América Latina. Um mês antes da Argentina de Domingo Cavallo explodir, a Standard & Poors assegurava que não havia riscos no país e que bastaria a dolarização da economia para resolver todos os problemas.

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Enquanto a soma dos ganhadores era maior que a dos perdedores, esse jogo foi mantido, sem fiscalização, sem SEC, sem Senado, sem Ministério Público.

Agora, as falcatruas começam a vir à tona devido à crise, que transformou em maioria os perdedores da especulação.

Os documentos da Goldman, obtidos pelo Washington Post, comprovam que a quebra da corrente da felicidade do subprime já era prevista por muitos bancos. Mesmo assim, só depois que a cadeia da felicidade implodiu, as autoridades começaram a agir.

Luis Nassif

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