As culturas regionais do biodiesel

Coluna Econômica – 18/04/2007

Um dos pontos mais interessantes do programa nacional de biodiesel é a diversidade de culturas regionais que permitirá produzir o combustível. De cara o país sai na frente -assim como no etanol do álcool–, não só pelos estudos sobre as diversas oleaginosas, como pelo fato de já dispor de mini-refinarias adaptadas para diversas espécies de plantas.

No momento, e Embrapa trabalha com seis tipos de matérias primas, e uma grande promessa. As matérias primas são a mamona, a soja, palmáceas, girassol, amendoim e algodão. A promessa é o pinhão manso, especial para recuperar terras degradadas, e também a macaúba.

Pelas avaliações da Embrapa, o primeiro ciclo será dominado pela soja e pela mamona. A partir de 2013 o dendê passará a ter expressão maior. Apesar de ser aposta de algumas grandes empresas, a Embrapa não coloca suas fichas no girassol.

A aposta no dendê dependerá da decisão do governo de começar a investir no seu desenvolvimento tecnológico

***

Nas análises comparativas, a Embrapa prevê um rendimento médio da soja de 375 a 600 quilos de óleo por hectare (kg/ha), dependendo do teor de óleo da planta. Na mamona, é de 350 a 1.188 kg/ha. No dendê, essa produção salta para 2.000 a 5.000 kg/ha. No girassol, de 630 a 725 kg/ha. Esperança do futuro, o pinhão mansão pode produzir de 1.340 a 3.200 kg/ha. A Brasil Ecodiesel analisou as mesmas culturas e constatou que, na média, a soja rende 450 kg/ha, o girassol 550, a mamona 450 e o pinhão manso 700.

***

No curto prazo, a maior fonte de insumos será a soja, que responderá por 80% da produção de biodiesel, ou um bilhão de litros em 2008. Ela permitirá o tiro de partida.

A médio prazo, o Plano Nacional de Biocombustíveis prevê a combinação de agricultura, biomassa energética, florestas (fibras, celulose e papel), integrando agricultura, pecuária e manejo florestal.

Ponto central do projeto é a disponibilização de sementes para plantio. Hoje em dia, a mamona tem sementes suficientes para atender a 150 mil hectares; o feijão caupi (que será plantado de forma consorciada com a mamona) para atender a 150 mil ha; o dendê, para 3 milhões de sementes/ano ou 21 mil ha e a soja para atender a 10 milhões de ha.

Pelos números se percebe a razão da soja ser o ponto de partida.

***

É nesse universo que se dará a coordenação tecnológica das pesquisas no país. Até agora não existe um sistema montado. A Embrapa criou a Embrapa Energética, juntando nela as pesquisas ligadas ao biocombustível. Provavelmente caberá a essa divisão a coordenação das diversas pesquisas em torno do tema.

Serão montadas inicialmente cinco redes de pesquisa:

1. Álcool combustível, pesquisando etanol de cana, de grãos, de tubérculos, celulósico, metanol de biomassa e co-geração de energia.

2. Biodiesel, juntando as pesquisas sobre oleaginosas nas regiões norte, nordeste e centro-sul.

3. Biogás, com pesquisas sobre biodigestores, resíduos de suínos e aves, vinhaça e geração de energia elétrica.

4. Florestas energéticas, pesquisando a biomassa vegetal, carvão vegetal, geração de energia elétrica e crédito de carbono.

5. Resíduos agrícolas e florestais, juntando setor sucro-alcooleiro, resíduos de madeira, setor de arroz e resíduos e lixos.

Para incluir na lista Coluna Econômica

Luis Nassif

27 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Caracterizar o que é
    Caracterizar o que é agricultura familiar num país como o Brasil é bem problemático.
    No sul do país no esquema de integração da agricultura de milho/soja com a criaçao de aves/suinos é muito diferente do sudeste com café/pecuária de leite.
    As áreas de desbravação mais recente do cerrado do Brasil Central centradas no plantio comercial de soja/milho o tamanho do emprendimento é que é o diferencial .
    Não podemos confundir um tipo de agricultura extrativista, sem nenhuma tecnologia, praticado por comunidades atrasadas, com agricultura familiar. Isso é agricultura de subsistencia.
    No ultimo numero da revista Balde Branco é destacado que no “diagnostico da pecuaria de lelite de Minas Gerais, publicado recentemente, chama a atenção o fato de que metade dos produtores entrevistados acreditava que os filhos não continuariam na atividade, 53% dos filhos e 70% das filhas tinham emprego na cidade…”.
    Para estes agricultores é que vejo futuro no biodiesel.
    Entretanto ainda é prematuro o incremento das atividades de plantio de mamona, girassol, pinhão manso, etc, sem definidas variedades, adubações, produtividades, custos e rentabilidades.
    Num primeiro momento acerta o segmento industrial que apostar na soja. O problema de rentabilidade, taxas internas de retorno, localização são de sua única responsabilidade e risco financeiro.
    Num segundo com as integrações importantes que se fazem necessárias – consumo de farelos e tortas pelo proprio produtor e suas cooperativas – certamente o biodiesel terá importante papel a desempenhar e podeerão ser integrados ao processo milhares de produtores rurais.
    Agora apostar na agricultura sem tecnologia, que nao consegue dimensionar custos e rentabilidade é atrasar o processo.
    Na pesquisa agropecuaria, conforme enfatizado no artigo é que está resposta para a produçao do biodiesel. Não há investimento na planta industrial que permita ganhos de 300% em produçao por área.
    Agora o processo só se viabiliza se o agricultor tambem ganhar.

  2. Vinicius,
    A primeira
    Vinicius,
    A primeira consideração a ser feita em todo projeto de energia é a do rendimento termodinâmico do mesmo. Verificar se pelos critérios da física estamos diante de uma fonte de energia, algo em que a energia retirada é maior do que a injetada, ou do seu contrário, um sumidouro energeticamente inviável. Por critérios puramente econômicos, sobretudo financeiros, sumidouros de energia, de recursos da natureza e até de gente costumam ser ultra-rentáveis.
    A produção de biodiesel de muitas culturas é viável como subproduto de outras finalidades, como, por exemplo, no caso da soja, na produção de farelos e tortas para a criação de animais confinados. O óleo extraído estaria mais para recuperação energética do processo do que de uma fonte propriamente dita. Aqui aparece um papel para a agricultura familiar.
    Como você sabe, latifúndio não cria frango, está mais para a engorda de boi, feita de forma quase extrativista no Brasil. O latifúndio retardou a abolição para fugir do trabalho assalariado, desde então ele foge de atividades envolva muito trabalho. A opção preferencial pela pecuária extensiva minimiza a contratação assalariada. Criar animais confinados dá muito trabalho, é atividade de minifúndio, de onde vem o grosso da produção de aves e suínos do país.
    Há que se pensar na proposta de Ignácio Rangel para a questão fundiária no Brasil. Ele propunha que ao lado da grande produção capitalista no campo surgissem assentamentos de pequenos proprietários, de algum modo consorciado aos grandes empreendimentos. Se desejarmos agregar valor à produção de soja e grãos, transformá-los em proteínas animal, será fundamental a participação dessa economia familiar. Dela também virá a recuperação de dejetos animais para produzir biogás e adubos. Modelos consorciados têm de exemplo no país. São controversos? Têm problemas? Para isso foi inventada a política.

  3. sem contar a versão urbana de
    sem contar a versão urbana de biocombustivel que é “derivada” da reutilização do oleo de soja saturado, acho que esta proposta é bastante pertinente pois seria um destino inteligente para os restos de oleo que hoje são jogados direto no esgoto contribuindo para a poluição dos nossos mananciais

  4. Nassif,
    Pelos rendimentos
    Nassif,
    Pelos rendimentos apresentados de diferentes culturas oleaginosas, só o dendê é páreo para o rendimento energético da cana de açúcar. Antes de virar canavial, Pindorama pode fazer jus ao nome e aos versos do seu poeta: Minha terra tem palmeiras… O problema vai ser o cheiro de acarajé.

  5. Nassif,
    Volto a insistir no
    Nassif,
    Volto a insistir no assunto do uso de óleo vegetal natural – OVN – (sem transformações) como combustível. Não entendo o motivo da omissão de pesquisas em torno dessa outra possibilidade. O OVN que já é usado na Alemanha como combustível (não sei quanto), já tivemos um projeto chamado de DENDÊDIESEL na Bahia, há um motor de tecnologia alemã específico para o uso de OVNs, existem adaptadores para permitir o uso de OVNs em motores à diesel comuns, existe um grupo de pessoas mais ou menos articulados num grupo de discussões do Yahoo chamado BIOCOM e há um engenheiro, lutador pelo uso de OVNs como combustível (Fendel – http://www.fendel.com.br), que já conseguiu judicialmente autorização para rodar com seu veículo movido à OVN e, por fim, dois aspectos que acredito serem os mais importantes: primeiro, não é necessário submeter o óleo vegetal natural a diversas tranformações químicas para se chegar no produto final, transformações estas que necessitam de instalações caras e aumentam o custo do produto; em segundo lugar, uma vez que para se extrair óleo vegetal natural são necessários equipamentos muito mais simples e baratos, muitos produtores poderiam ser eles mesmos os fornecedores de combutível sem a necessidade de grandes usinas, tudo muito mais simples e barato.

  6. Bom dia, Nassif

    Como já
    Bom dia, Nassif

    Como já comentei aqui, e a partir de um estudo que realizei para a Petrobras, se o programa de biocombustíveis for desenvolvido da forma exposta em seu post e com a colaboração intensa da Embrapa, as suas menininhas e as minhas certamente viverão num país muito mais rico.

  7. Sim, entendo q a soja ee a
    Sim, entendo q a soja ee a principal fonte devido aa disponibilidade de sementes (gracas a monsanto?). Mas fica ai uma questao, qual ee a qtdade de fertilizantes, herbicidas p/ cada uma das culturas, isto pode mudar o custo/beneficio de cada cultura? Pelo q eu sei a soja necessita de bastante fertilizantes e herbicidas, alem de ser bastante mecanizada.

  8. Nassif !!! Precisamos fazer
    Nassif !!! Precisamos fazer justiça para com a EMBRAPA. É uma empresa que já fez muito por este país, e tem grande potencial de continuar fazendo. A maior qualidade da EMBRAPA é que tudo o que faz e fez; faz em silêncio. O Brasil precisa conhecer e reconhecer o trablaho da EMPRABA, acredito que você tenha as melhores condições para isso. Detalhe, nunca trabalhei na EMBRAPA, mas tive a oportunidade de ver os frutos dessa grande Empresa Pública, e de seus valorosos cientistas.

  9. Ok, a pesquisa está planejada
    Ok, a pesquisa está planejada e, possivelmente, em fase de execução.
    Como está a estrutura de comercialização incluindo aí a infraestrutura de transporte e armazenagem ?
    Como está o incentivo à formação de cooperativas para facilitar essas fases ao pequeno produtor ? O Banco do Brasil teria um papel a desempenhar nesse processo ?

  10. Não sei aonde se quer chegar
    Não sei aonde se quer chegar c/ isso mas, enfim, é uma politica de governo.
    Uma coisa que precisa ficar clara aqui é que tudo isso ainda é economicamente inviável e o governo, através da Petrobras, está bancando essa politica de biodiesel.

    Qto aos outros biocombustíveis, posso falar melhor pois trabalho c/ isso. Os que são viáveis economicamente, estão avançando independente de qualquer politica de governo. Afirmo, não existe nada.
    Implantamos mais de 50 grandes biodigestores em granjas de suinos sem nenhum suporte da Embrapa ou de qualquer outro orgão. Todo o capital veio de fora, através do Protocolo de Kyoto e o governo só criou entraves ao invés de facilitar esse tipo de atividade.
    Enfim, da mesma forma que não acho que existe estratégia p/ desenvolvimento do país, tirando o alcool, que é a vedete, e o biodiesel, que é bancado pela Petrobras, não existe absolutamente nada de real sendo executado qto aos outros biocombustíveis.

    Deveríamos ser mais críticos qto a isso ao invés de apenas aceitar as informações.

  11. Pelo jeito , a psicose do
    Pelo jeito , a psicose do Biodiesel não para. Se hoje pelo valor de mercado do produzido por hectare , pecuaristas passam a cultivar cana , agora com esta outra vertente a coisa piora mais ainda , o combustível para a vida humana , é alimento o que já pode se tornar raro , pois , os preços de alimentos estão se tornando pouco atraentes , os projetos Brasileiros são sempre inflamados de paixão , não se faz qualquer projeção para 20 ou 30 anos , efeitos , resultados , já se sabe que a energia necessária no futuro é energia limpa , não poluente , existem outras alternativas e melhor seria ajudar o Povo a plantar e criar subsistência do que criar um exército de Escravos do Bio combustível , que certamente terá um único comprador no fim da linha que ditará os preços e monopolizará os insumos , o que falta aqui é parar e pensar , A quem interessa isso? Se Vôce tiver a resposta divulgue.

    .’ . André

  12. Avante Nassif!
    Além vc ser um
    Avante Nassif!
    Além vc ser um dos poucos a denunciar diariamente o desatino do cambio/juros, também joga luz sobre a premente questão da energia pós combustiveis fósseis.

  13. Nassif,

    Temos aí no seu post
    Nassif,

    Temos aí no seu post e nos comentários uma infinidade de opiniões valiosas, mesmo que naturalmente dissonantes, sobre biocombustível. Aqui vão algumas considerações totalmente leigas.

    No primeiro post, o Vinícius discute a questão sob o ponto de vista da viabilidade econômica, o que sem dúvida é fundamental – pois só com bons resultados empresariais pode-se viabilizar o programa e os benefícios sociais e ambientais que se deseja.

    E, como nortista por origem, não poderia deixar de falar do babaçu. No antigo Norte de Goiás, hoje Tocantins, me lembro que a primeira opção comercial à banha de porco Matarazzo, que chegava em latas de 18 litros, foi o óleo de babaçu, em embalagem de litro, na época retangular. Só depois apareceram os óleos de milho e o de soja.

    Deixando de lado essas velharias, o fato é que o babaçu ainda sustenta indústrias no Tocantins e Maranhão (de onde tenho notícia) que vendem uma infinidade de matérias-primas, extraídas da castanha e da casca, para indústrias de cosméticos a revestimentos decorativos – além do alto potencial para co-geração, segundo me afirmou o proprietário de uma indústria no Tocantins, o que contribui para melhorar sua eficiência energética.

    Isso sem falar em milhares de famílias de coletores, que obviamente poderiam ser melhor remuneradas – a exemplo dos cortadores de cana.

    A extração pode ser feita com impacto ecológico mínimo, em belíssimas áreas de babaçuais nativos.

    No site do Projeto Biodiesel, afirma-se que o babaçu, “sob o ponto de vista pragmático, não pode
    ser considerado uma espécie oleaginosa, pois possui [o coco com casca, suponho] somente 4% de óleo. No entanto, considerando
    os milhões de hectares de florestas onde predomina a palmeira do babaçu, e as possibilidades de aproveitamento integral do coco, o babaçu constitui, potencialmente, uma extraordinária matéria prima
    para a produção de óleo, desde que sejam aproveitados os seus constituintes [PARENTE, 2003]”.

    Espero que essas minhas preocupações ambientais e sentimentais não pareçam muito ripongas.

    Achei interessante também a lembrança do Gilson, sobre o aproveitamento dos esgotos municipais para geração de biogás. Acho que não devem ser subestimadas as alternativas de geração para uso local ou co-geração, especialmente as que possam evitar esse crime cometido pelas concessionárias de saneamento, que despejam esgoto in natura ou mal-tratado nos mananciais, em todo o País.

    As prefeituras, tanto quanto os governos estaduais (e me perdoem a incorreção política, como um dos poucos remanescentes da espécie dos anti-federalistas) são normalmente eficientes canais de desperdício de recursos públicos.

    É um problema crônico no País a inadimplência das Prefeituras com com as distribuidoras de eletricidade, que, as usual, repassam o calote para o sistema Eletrobrás.

    Portanto, não seria o caso de estudar a compensação desses esqueletos com a co-geração de biogás?

  14. Sempre morei em BH, mas tenho
    Sempre morei em BH, mas tenho familiares no interior e conheço muito bem a realidade de muitas familias que vivem e dependem economicamente da agricultura. Espero anciosamente que as politicas bioenergetica se desenvolvam o mais rapido, para uma melhor inserção social e economica da população. Por isso, Nassif, peço que continue analisando este processo. “Somos capitalista de mercado, com coração social”

  15. Pela primeira vez na minha
    Pela primeira vez na minha vida vejo o Brasil com excelente perspectiva econômica, uma possível potência energética. E mais importante: líder mundial na tecnologia.

  16. … continuando o post
    … continuando o post anterior, parece que está-se jogando o onus da adequacao do produto ao fornecedor, criando um agente intermediario chamado usina de esterificacao, com complexos testes de conformidade, enquando o que se precisa e’ um motor diesel flex.
    Acho que um pouco de desmistificacao e’ necessaria aqui, senao nao vai ter onde enfiar tanto sabonete feito com o excesso de glicerina resultante da esterificacao.

  17. Sobre a ameaça à produção de
    Sobre a ameaça à produção de alimentos:

    O prefeito de Rio Verde (GO), limitou o plantio de cana a 10% das áreas cultiváveis do município, para não impactar cadeias produtivas já existentes no município, onde opera a Perdigão e a COMIGO, cooperativa fundada por ele, com um razoável parque agroindustrial.

    Há toda uma seqüência de atividades secundárias, de granjeiros a fornecedores de embalagem e transportadores.

    Sem defender a medida drástica do prefeito nem a sua figura, já por si um tanto polêmica, acho que as diversas esferas de governo existem para regular esse tipo de problema.

  18. Leiam a notícia abaixo
    Leiam a notícia abaixo

    fonte: BBC Brasil

    Etanol é ‘ameaça disfarçada de verde’, dizem ambientalistas

    Pablo Uchoa
    De Londres

    Fábrica de etanol em São Paulo
    ONGs alertaram para expansão de monoculturas ‘energéticas’
    Cerca de 200 organizações ambientalistas assinaram uma carta aberta em que qualificam de “grave ameaça disfarçada de verde” a idéia de elevar a produção e o consumo de biocombustíveis no mundo.

    O documento, divulgado em Madri, na Espanha, critica duramente a União Européia, que em março deste ano fixou metas de utilização de biocombustíveis, mas um porta-voz das entidades condenou também o entusiasmo brasileiro com as iniciativas neste sentido.

    “A UE sugere que grande parte dos cultivos destinados a ‘bio’-combustíveis terão de ser produzidos nos países do hemisfério sul e exportados para a Europa”, afirma o texto.

    “Ainda que isto pareça uma grande oportunidade para as economias do sul, a realidade demonstrou que os monocultivos para ‘bio’-combustíveis, como de palmeiras, soja, cana-de-açúcar e milho, conduzem a uma maior destruição da biodiversidade e do sustento da população rural.”

    Para os ambientalistas, outros tipos de energia alternativa – eólica, solar e de biomassa, por exemplo – são menos danosos ao meio ambiente que os biocombustíveis.

    Dano à Amazônia

    O documento foi proposto pela organização espanhola Ecologistas en Acción, e divulgado ao fim de uma conferência realizada em Madri, um mês depois de a União Européia estabelecer metas de utilização de fontes alternativas em sua matriz energética.

    Em março, a Comissão Européia, o braço executivo do grupo de 27 países, estabeleceu que pelo menos 20% de toda a energia consumida pelo bloco devem ser provenientes de fontes renováveis até 2020.

    Entre as medidas, a CE determinou que 10% dos combustíveis consumidos pelos automóveis de cada país sejam biológicos.

    O porta-voz da Ecologistas en Acción, Tom Kucharz, disse que a maior demanda por biocombustíveis vai exercer pressão ambiental e fomentar disputas por terras “nas áreas ecologicamente mais frágeis do globo”, entre elas o Brasil.

    Metade da matéria-prima utilizada pela União Européia para produzir biocombustível é originária do Brasil, ele afirmou. Em 2005, o país exportou 50% das 538 mil toneladas de óleo de soja e palmeira que a UE comprou para este fim.

    É preciso falar das conseqüências nefastas dos biocombustíveis. A iniciativa de frear a mudança climática pode colaborar para a desaparição das matas nativas, o que vai contra o próprio objetivo.

    Tom Kucharz, Ecologistas en Acción

    “Não entendemos o entusiasmo brasileiro em relação aos biocombustíveis, porque o Brasil tem grande experiência no tema, e conhece os efeitos negativos de uma má gestão da selva amazônica, que é um patrimônio da humanidade”, disse Kucharz.

    Direitos humanos

    Segundo ele, os efeitos também serão sentidos em outros países do hemisfério sul, especialmente na África e na América do Sul.

    “Em menos de 15 anos, por exemplo, as estimativas indicam que os bosques primários da Indonésia terão desaparecido. Isto tem uma importância não apenas local, mas para todo o clima regional”, ele disse.

    Na carta aberta, as entidades alertam ainda que a febre dos biocombustíveis pode estimular a expansão das plantações de grãos geneticamente modificados – que têm maior produtividade – e alimentar disputas por terras nos países do hemisfério sul.

    “Graves atentados contra os direitos humanos foram registrados em plantações de cana-de-açúcar, palmeira e soja no Brasil, na Argentina, Paraguai, Colômbia e Sudeste asiático”, afirma o manifesto.

    Nesses países, elas afirmam, são comuns “os casos de escravidão, salários de miséria, condições precárias de trabalho, conflitos violentos por terra, mortes e graves problemas de saúde devido à utilização de produtos químicos e ao desflorestamento.”

    Par Kucharz, “a destinação de terras agrícolas para produzir ‘culturas energéticas’ em vez de alimentos – sendo que 850 milhões de pessoas passam fome no mundo – viola gravemente o direito à alimentação.”

  19. Foi mal irmão: ETE – estação
    Foi mal irmão: ETE – estação de tratamento de esgotos. Quando se adota o modelo anaeróbio, o reator biológico fica confinado, aí são emitidos gases combustíveis, entre eles (e em grande quantidade) o butano, que é mais um da família do propano, nosso gás de cozinha. Daí é só purificar (em geral para retirar o vapor de água) e envasar, ou queimar e utilizar a energia pra outra coisa.

  20. O perigo de toda novidade é
    O perigo de toda novidade é que pessoas mais credulas e menos informadas podem ser levadas ao insucesso em seus negocios.
    Vide o artigo abaixo. Não é que sejamos ceticos com as culturas apontadas como solução a atividade do biodiesel. É que ainda carecem de estudos e pesquisas.
    O PINHÃO NÃO É MANSO

    Cantado em prosa e verso como a planta da esperança para produção farta de biodiesel, o pinhão-manso, uma planta arbustiva comum, mostrou que não é tão manso. Ele ainda é selvagem – pelo menos dentro de uma perspectiva agrícola. Sua cultura em larga escala é inexistente e nunca foi estudada a fundo. A domesticação está começando, mas ainda é cedo para crer nas maravilhas espalhadas pelo país, inclusive com venda de sementes pela internet.
    O alerta foi dado em forma de manifesto, em fevereiro, por um grupo de 11 pesquisadores da Embrapa e da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais. “Acreditamos no potencial futuro da planta, mas o conhecimento técnico é limitado porque não conhecemos vários parâmetros de plantação, como espaçamento entre as plantas, produção de mudas, e principalmente pragas e doenças”, diz o pesquisador Liv Soares Severino, da Embrapa Algodão, sediada em Campina Grande, na Paraíba.
    “Uma das nossas preocupações é que muitos agricultores estejam investindo na planta e depois de dois ou três anos venham até nós para que possamos resolver problemas da cultura. E ainda não a conhecemos do ponto de vista agrícola.” Severino, por meio de um projeto financiado pela Petrobras, foi com outros pesquisadores brasileiros até a Índia, onde se dizia que a cultura do pinhão-manso estava desenvolvida. “Descobrimos que eles sabem tão pouco quanto nós.” Um dos problemas apontados é a colheita. A planta tem a vantagem de ser perene, ou seja, não é preciso plantá-la todos os anos, mas os frutos não amadurecem ao mesmo tempo. É preciso fazer várias colheitas manuais e com isso o custo da plantação aumenta.
    Em relação à quantidade de óleo, estimava-se em mais de mil litros por hectare, mas Severino diz que ela não passa dos 400 l/ha, embora exista potencial para aumentar muito essa quantidade. Antes do biodiesel, o pinhão-manso era relegado a uma planta de quintal ou de mera curiosidade e apreço pessoal. Mas já havia vivido tempos mais memoráveis, quando no século XIX seu óleo, como o de outras fontes, como a de baleia, por exemplo, era usado nas luminárias das ruas do Rio de Janeiro.
    Data Edição: 23/04/07
    Fonte: Revista FAPESP

    . . . . Compre aqui

    . . . . . . . . Enquete

    VOCÊ SABE QUAL É A NOVA ARMA CONTRA GRIPE OU INFECÇÃO?

    Sim?

    Não?

    Copyright © 2003 Todos os direitos reservados

  21. Sobre a produtividade de
    Sobre a produtividade de algumas oleaginosas, torna-se importante verificar os interesses ocultos na divulgação de resultados obtidos. O setor de combustíveis derivados da biomassa, principalmente os óleos vegetais, são usados “in natura” para movimentar grupos geradores, motores diesel e outros equipamentos, com desempenho superior ao diesel de petroleo, e sem necessidade de geringonças para transformá-lo em “biodiesel”. No entanto, não se vê na grande mídia nenhuma notícia relacionada com a utilização de óleo vegetal para alimentar motores (geradores, maquinas, etc). A produção de óleo vegetal pode ser feita regionalmente, sem necessidade de grandes instalações e milhares de quilometros de estradas para distribuição. Outra facilidade é a produção de energia elétrica a partir de geradores movidos a óleo vegetal puro, tornando desnecessário inundar milhões de hectares para formação de reservatórios e milhares de quilometros de linhas de transmissão.
    Ocorre que a execução de sistemas simples e eficazes desloca o centro de controle das mãos de grandes grupos e tira o controle do Governo Central, como sempre ávido em mais tributos e concentração de poder.
    Esta regionalização da produção de energia, aliada a projetos complementares de agricultura orgânica e reflorestamento, seria suficiente para gerar os milhões de empregos no campo, necessários para inverter o fluxo migracional, descontraindo as tensões existentes nos grandes centros urbanos, com níveis muito baixos de qualidade de vida e satisfação pessoal.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador