As mudanças no Copom

Coluna Econômica

Nos últimos dias o Banco Central deu sinais robustos de que pretende modificar o sistema de “metas inflacionárias” que serviu de base para a definição da política monetária da gestão Armínio Fraga para cá.

Desde o início havia vulnerabilidades óbvias nesse modelo, mas minimizadas pela pesada ortodoxia vigente no período e pelos interesses sedimentados em torno dos ganhos proporcionados pelos juros altos.

***

OmodO modelo tinha funcionamento simples.

Primeiro, o COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central) define uma meta de inflação para o ano.

Periodicamente, o Banco Central asculta o mercado, para analisar a média de opiniões sobre a inflação do ano. Se a expectativa estivesse acima da meta, subia os juros para derrubar a demanda e, consequentemente, os preços.

***

Ao longo dos últimos anos, venho apontando sistematicamente os erros do modelo:

  1. O modelo não permite atuar diretamente em cima das fontes de pressão inflacionária, mas sim sobre o conjunto de preços da economia como um todo. Suponha que a inflação fosse afetada por reajustes de tarifas de ônibus, mensalidades escolares ou algum choque na oferta de hortifrutigranjeiros. Nenhuma desses fatores está ligado ao excesso de demanda. No entanto, o BC aumentava os juros derrubando a demanda como um todo, o preço e o emprego de setores que sequer estavam pressionando a inflação.
  2. As consultas se davam exclusivamente com analistas econômicos de grandes instituições financeiras. Muitas vezes tem-se inversão brusca nas tendências da economia, mas que demora a aparecer nas estatísticas. Por isso mesmo, o FED (o BC americano) baseia-se não apenas nas estatísticas, mas em conversas permanentes com setores do varejo, da indústria, da agricultura, para captar tendências. O departamento de crédito dos bancos têm o pulso do consumo na mão muito mais que o departamento econômico – que só trabalha com os dados a posteriori. No entanto, ouve-se apenas o economista.
  3. O sistema de consultas ao mercado é viciado. Como se trata de um universo pequeno, trabalhando em cima dos mesmos dados, há uma auto-alimentação. Meia dúzia de instituições criam uma expectativa, os jornais reverberam, gera-se um movimento de pressão que leva o BC a aumentar os juros. Muitas vezes a alta da inflação é pontual, problemas de safra, preços internacionais de commodities, altas sazonais que sabe-se serão diluídos nos meses seguintes. Mas como não é possível avaliar a priori os efeitos das taxas de juros, a volta à normalidade acabava sendo atribuída à Selic e não ao fim das pressões pontuais.
  4. A meta de inflação era o ano calendário, não os doze meses seguintes. Isso fazia com que, no segundo semestre, se tentasse alcançar a ferro e fogo as metas do ano, obrigando a elevações muito maiores nos juros.

***

O que o BC está fazendo agora é se libertando desse jogo viciado de auto-alimentação de expectativas. Em breve, deverá ampliar o sistema de consultas da pesquisa Focus. E as conversas com o mercado servem agora apenas de subsídio, não mais de regra imutável para o BC atuar.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador