As preocupações de Tombini com o câmbio

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Tombini mostra preocupação com câmbio

Em sabatina no Senado, futuro presidente do BC indica que pode ser mais intervencionista no câmbio do que seus antecessores  

Fernando Nakagawa e Fabio Graner, de O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – Alexandre Tombini foi aprovado terça-feira pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado para ocupar a presidência do Banco Central no governo Dilma Rousseff.

Atual diretor de Normas, o economista gaúcho, ao tratar do real valorizado, mostrou ter uma posição mais claramente intervencionista do que de seus antecessores no comando do BC, evidenciando, nesse ponto, maior alinhamento com o Ministério da Fazenda. “Não podemos deixar que políticas de outros países determinem a direção dessa importante variável da economia que é o câmbio”.

Desde a adoção desse regime em 1999, as principais autoridades do BC têm defendido uma oscilação livre das cotações do dólar. Quem compartilha dessa visão acredita que eventuais desequilíbrios no câmbio ou nas contas externas são corrigidos pelo mercado com o tempo. Ontem, porém, Tombini deu sustentação teórica para uma postura mais ativa do governo na política cambial. Ficou claro que, para ele, o sistema de câmbio é flutuante, mas essa flutuação deve refletir os fundamentos da economia e não simplesmente os movimentos erráticos do mercado financeiro.

Ou seja, ele deu um sinal que deve encarar o assunto de forma agressiva. Na verdade, o governo já tem sido bastante intervencionista no câmbio, com medidas como a tributação dos investidores estrangeiros e pesadas compras de dólares no mercado à vista pelo BC. Tombini considera que a emissão de dólares nos EUA e a política de moeda desvalorizada na China tornam a política cambial dos países emergentes como o Brasil mais complexa no esforço de evitar distorções.

Aos senadores, ele deu duas pistas sobre como pode agir para evitar novas distorções no câmbio. Primeiro, disse que o patamar das reservas internacionais no Brasil – hoje em US$ 286 bilhões – são “moderadas” se comparadas a outros emergentes.

Hoje, as reservas equivalem a pouco menos de 15% do PIB. Na China, a proporção é de 40%, na 30% na Coreia do Sul é de 30% e na Rússia 21%. Em outras palavras, na visão dele, há espaço para as reservas crescerem no Brasil, o que quer dizer que as compras de dólares estão longe de atingirem o limite.

Outra dica foi dada quando ele defendeu uso de ferramentas diferentes de política cambial em ocasiões extraordinárias. “Em situações excepcionais, são mais do que justificáveis o uso de instrumentos macroprudenciais”, disse, ao comentar que é preciso evitar “bolhas financeiras e de crédito” e “crises bancárias e de balanço de pagamentos”. “Não adianta aproveitar a abundante liquidez internacional existente, ter hoje fluxo de capitais de grandes proporções e, quando lá na frente eventualmente houver reversão, ter problemas.”

Na CAE, o nome de Tombini foi aprovado por 22 votos favoráveis e um contra. A votação no Plenário pode acontecer nesta quarta-feira.

Luis Nassif

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