Crescimento da China não é um “voo de galinha”, dizem economistas

Economistas brasileiros não acreditam em crescimento duvidoso da China

Jornal GGN – Os números surpreendem. A confiança prestes a ser totalmente recuperada pelos investidores. Salto de produção acima dos 10%, vendas no varejo superando os 13%, com ritmo anual acelerado de 20,3%, nos primeiros oito meses do ano e uma balança comercial positiva, aliviando o mercado global.

Assim caminha a China, também tentando levantar-se da crise que atingiu seus maiores compradores externos emprestando mais de US$ 110 bilhões de seus bancos, estabilizando sua economia que desacelerou assustadoramente nos últimos dois anos.

Além disso, tenta afastar os fantasmas da redução de estímulos do Federal Reserve norte-americano bancando quase que integralmente um fundo de US$ 100 bilhões para ajudar os países que, juntamente com ela, formam o bloco dos Brics (Brasil, Índia, África do Sul e Rússia) – e ainda afastar as incertezas financeiras dos investidores que migraram dos países “parceiros”, por conta da alta do dólar.

Mesmo à mercê de uma meta de crescimento considerada a mais fraca em mais de duas décadas, em torno de 7,5%, a China acredita que conseguirá conquistar confiança e trazer mais investimentos para seu país lentamente – assim como encontrou o caminho da retomada, de forma gradual.

No entanto, alguns analistas ainda desconfiam da robustez dos dados apresentados e afirmam que a prosperidade pode durar pouco para os asiáticos. Já existe uma preocupação latente com a infraestrutura local, questões de sustentabilidade que estão sendo deixadas em segundo plano e, principalmente, uma média elevada de gastos do governo – o que pode minar os planos de ascensão chinesa, caso não sejam imediatamente revistos.

Além disso, os créditos cresceram sob efeito de uma ampla oferta de dinheiro, superior a 14,7% em relação a 2012. Assim, os títulos corporativos subiram a 1,58 trilhões de yuans – quase o dobro de julho. Proporcionalmente, se estas dívidas não forem cumpridas em seus prazos devidos (e, naturalmente a juros altíssimos), a tendência é que a China acabe mesmo é com um grande elefante branco na sala para remover, ao final das contas.

A recuperação em curto prazo por lá baseia-se na expectativa do crescimento do crédito – o que num futuro próximo, pode trazer seríssimos problemas à economia local, com riscos negativos, desaceleração, além de um déficit público quase incalculável – ou mesmo alarmante, como classificaram alguns especialistas. Os números parecem fortes, mas a aceleração rápida demais pode abalar, a longo prazo, a estabilidade financeira da China e de seus principais parceiros comerciais, fazendo tremer, inclusive, o Brasil, seu maior comprador.

Em entrevista recente à Dinheiro Vivo, Celina Ramalho, professora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), afirmou que a tendência é de que a Europa e EUA deixem de ser hegemônicos e que países como a China, ao contrário das especulações, têm economia forte o suficiente para fincarem espaço entre os mais poderosos do mundo, no quesito financeiro. “Este processo já começou, inclusive, nos últimos cinco ou dez anos. Não acredito no reestabelecimento integral dos EUA. Daqui a algum tempo, eles não serão mais a referência. O sul da Ásia promete ser o grande candidato ao posto, pela concorrência e qualidade. Comércio asiático deve tomar conta.”

Celso Grisi, economista e professor titular de estudos de mercado da Universidade de São Paulo, acredita que tudo depende de como as coisas forem conduzidas no país. “A disposição do governo chinês em bater os 7,5% de crescimento é conveniente para não causar efeitos negativos, como distúrbios no mercado de trabalho e inflação. Acertou no aumento do investimento em infraestrutura urbana, de emprego, de consumo, manutenção de investimento para manter esses números possíveis. Com o endividamento, o BC chinês tomou as devidas medidas que não afetaram tanto os consumidores. São números que consideramos ‘despreocupados’.

Outro ponto importante lembrado pelo economista foi a garantia de liquidez das empresas para pessoas físicas. “A China voltou a comprou títulos durante o mês de agosto – isso estava suspenso desde fevereiro. Não há risco de quebra de bancos, mesmo que não gozem de uma situação saudável. Inflação ficou em 2,7% este ano.  Admitiria-se, sem pânico, até 3,5% ao ano. Não há nada que nos leve a pensar que seja apenas um ‘voo de galinha’”, explicou Grisi.

Tecnologia, ferrovias, infra, estímulo às pequenas e médias empresas com redução de impostos e de processos administrativos, o empresário pequeno e médio sendo beneficiado com incentivos fiscais do governo. Tais medidas, que segundo o economista, o Brasil também deveria adotar para crescer, não devem retroceder. “O Brasil terá suas commodities exportadas no mesmo ritmo, mesmo com a subida da soja, milho e minério de ferro – que deve recuperar competitividade. O PMI chinês passou novamente de 50 pontos, o que já é um indicador, uma leitura preliminar agradável ao mercado. Para os próximos trimestres, há sinais claros de estabilidade e o ritmo de crescimento está garantido devido à intenção do governo de expandir política monetária, garantindo emprego, renda e consumo, mesmo precisando de reformas financeiras para os próximos anos”, afirma.

Ao contrário dos especialistas norte-americanos, Grisi não acredita em uma manipulação dos números chineses para acalmar mercados. “Os dados do governo chinês são poucos, mas corretos, não acredito em manipulação de dados. Os americanos apreciam o liberalismo, entendo o posicionamento, mas é preciso olhar o outro lado sob o contexto geográfico e político, com todos os seus conflitos e falta de inclusão, além da ruptura do tecido social. A política monetária deve ser expansionista, a política fiscal não pode custear altos gastos, investir em infra, e combater a alta de preços, e isso a China tem feito com brilhantismo. Este modelo difere do monetarismo de Wall Street. Fornecer mais crédito do que os parâmetros ocidentais, manter o emprego e a inflação controlada. Esse é o pensamento. E é preciso ter uma visão cautelosa, no caso chinês”, alertou.

O professor também afirmou que, em sendo a China a maior compradora brasileira, o crescimento sólido do país muito nos interessa, em especial, quando o assunto é a soja. “Precisamos cuidar dos nossos imensos problemas de infraestrutura, alguém precisa de responsabilizar pelo custo brasil, reforma tributária, para garantir a expansão e a competitividade agrícola e industrial e deixar finalmente esse conceito de terceiro mundo para atrás. Uma boa receita é seguir os passos chineses”, concluiu.

Redação

1 Comentário

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  1. no Brasil os planos

    no Brasil os planos economicos usam o calendario eleitoral, por isso nosso crescimento sempre e realmente um voo de galinha!!!  eu fico bobo de ver empresas investirem o proprio capital em ampliações, isso não tem sentido!

     

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