CSN e o seu entorno

Enviado por: Vilas

Nassif

Tempos atrás foi lançado por Alberto Lopes em um livraria em Volta Redonda, o livro “A Aventura da Forma – Urbanismo e Utopia em Volta Redonda”.

Me permita aqui ser um pouco extenso.

Uma das coisas que mais se fala neste país nos tempos atuais, é sobre uma falta de planejamento a longo prazo. O que se observa nitidamente é que há uma enorme confusão no aspecto político na conduta da relação funcionários/ex-funcionários/comunidade de Volta Redonda e a atual direção da CSN.

O sindicato simplesmente ficou nulo num combinado que beira à infantilidade numa relação de parceria com a diretoria da CSN, e o pior, se envolveu em escândalos pesados.

Mas a coisa é bem mais profunda. No programa Roda Viva, assim como em outras oportunidades, vi Benjamin justificar a tentativa de se relacionar com a comunidade através de um suposto “cinturão de aço”. O exame, por mais superficial que seja, revela nessa questão um quadro que privilegiava um pequeno grupo que já vinha se beneficiando da Siderúrgica de forma venal no período estatal e queria, através de vendas de vários materiais para a CSN privada, continuar a mesma política de usurpação da CSN, pessoas que nada tinham a ver com o operariado da CSN e, na maioria dos casos, essas figuras do “cinturão do aço” nem eram da cidade. Longe de uma política que incentivava ex-operários a criarem pequenas empresas e através delas desenvolverem produtos cuja matéria-prima tivesse como base o aço e não para vender para a própria CSN, mas para entrar no mercado e, com certeza, seriam extremamente competitivas, pois eram operários altamente preparados com o manuseio da matéria-prima. Faltava-lhes uma compreensão e estímulos para o desenvolvimento de seus pequenos negócios, absorvendo assim uma enorme legião de desempregados promovida pelo saneamento e desoneração, bandeira principal do início da CSN privatizada.

Quando cito o livro “A Aventura da Forma” e, ao mesmo tempo, falo da falta de planejamento a longo prazo, tento linkar um projeto inicial abortado e até combatido pela atual administração Projeto esse, extremamente rico em detalhes de inclusão social e participação ativa da comunidade com a empresa. Satanizar a comunidade, como Benjamin inisiste em fazer, revela, acima de qualquer coisa, a arrogância impositiva e coronelista. E pior, a total falta de visão empresarial em vários quesitos que dão sustentação a uma empresa do porte da CSN, agora na tentativa de se internacionalizar.

É perceptível, não a falta de tônus da CSN de hoje comparada a sua idéia original, o que espanta é um esvaziamento completo de toda e qualquer relação com, não só a comunidade de Volta Redonda, mas internamente, no campo da pesquisa e a melhoria gradual do desenvolvimento intelectual de seus funcionários. Não quero aqui ser leviano, porém, Benjamin passa-nos a impressão de que hoje um funcionário da siderúrgica é um elemento estático extremamente perecível que parte do ponto A e se desmonta através do tempo sem a menor perspectiva de desenvolvimento na área profissional. O que, para minha surpresa, esse ponto é essencial em várias empresas modernas, como é o caso da própria Gerdau instalada em Volta Redonda, que estimula, através de um plano de carreira bem feito, uma competitividade saudável entre os funcionários para galgarem condições melhores dentro da empresa, como manda qualquer manualzinho rastaquera de empresa de fundo de quintal.

Quando se pega a história da CSN e se foca o seu momento mais conturbado onde a cada ato, num período de um ano, surge material para uma nova tese política, empresarial, enfim, um descontrolde um período da história do Brasil em que os reflexos foram sentidos por todas as estatais, mas no caso de Volta Redonda que vinha de greves extremamente conturbadas e até simbólicas, de um novo ciclo de reivindicação trabalhista no Brasil, a questão foi bem mais grave.

A minha inisistência na leitura deste livro é justamente a tentativa de se apagar da memória este período conturbado e linkar a CSN de hoje com o seu projeto original onde a paixão dos funcionários pela empresa, digo, dos funcionários, não meia dúzia de usurpadores que se infiltraram na CSN para todo tipo de uso, menos para o bem da empresa.

Volta Redonda guarda particularidades de um singular emblema, o do desenvolvimento intelectual no setor produtivo do aço.

Quando Getúlio fez da cidade uma espécie de laboratório social, que resultaria num modelo do “novo homem brasileiro”, incorporou um sentimento de nacionalismo saudável sem xenofobias, em que, ao mesmo tempo que trabalhava a auto-estima desse funcionário, dava-lhe todas as possibilidades possíveis naquele período, de um avanço no desenvolvimento humano seu e de toda a sua família.

Só para você ter uma idéia, quando a D. Maria Sílvia fez o revolucionário saneamento na CSN, ela nos colocou num patamar acima. Digo isso porque me sentia até aquele momento o mais profundo dos ignorantes em macro-economia. No entanto, não foi difícil observar que de forma pomposa bradada nos principais jornais deste país, a ilustríssima saneadora, a “dama de aço” Maria Sílvia só havia copiado o projetto do Seu Nagibe, um turco que vendia lanterna, guarda-chuva e outras miudezas em seu armarinho, igualmente ao Seu Manuel, o português que andava de tamancos, dono de um secos e molhados.

O projeto de D. Maria Sílvia foi exatamente aquela mesma conta onde o turco ou o portuga arrancam aquele cotoco de lápis de trás da orelha e faz aqula famosa continha, isso menos aquilo dá tanto. Portanto, não dou um passo nem pra lá, nem pra cá, e fim de papo. Essa é a majestosa realidade do projeto de saneamento de D. Maria Sílvia.

O pior é que a CSN de hoje vive os ecos desses gritos arrogantes como a ameaça constante de sacar do seu almoxarifado a bola de boliche.

Volta Redonda vem se transformando em uma cidade dormitório. Uma cidade que nasceu para pensar desenvolvimento, hoje vive uma total estagnação de pensamento, provocado pela mesmíssima mentalidade, é bom que se diga isso, pois para a comunidade tanto faz como tanto fez, o resultado prático, a briga do ex-prefeito Francisco Neto com o Sr. Benjamin, pois, quando amigos, pensavam absolutamente do mesmo jeito, ou seja, um dava suporte aos desmandos do outro, até o momento em que os seus interesses colidiram e vivem até hoje nessa briga de comando entre dois coronéis rivais, como naquelas histórias do século XIX.

Trago aqui uma sugestão a você Nassif: para que venha a Volta Redonda na Faculdade de Engenharia Metalúrgica da UFF e abra uma discussão sobre a sua relação hoje com a empresa. Converse com ex-alunos da Escola Técnica Pandiá Calógeras. Com a sensibilidade que eu sei que você tem, em cinco minutos você lerá o atual estágio em que se encontra a CSN e a comunidade de Volta Redonda como um todo.

Benjamin tem que zerar, tem que ter a humildade, não de um empresário poderoso, mas de um líder de um novo ciclo de pensamento no caminho da eficiência através do desenvolvimento de seus funcionários e familiares. Irá lucrar muito, pois não há na América Latina uma cidade que guarde tanta paixão pela dinâmica desenvolvimentista como Volta Redona, ela nasceu pra isso. Não é possível que os aduladores de Benjamin, que trabalham na capacitação de seus funcionários não digam isso a seu chefe. Ele é extremamente mal assessorado neste aspécto, digo, como empresário, pois como Deus ele está bem, não lhe falta santo bajulador.

Repito aqui, está nas mãos de Benjamin, só dele, a responsabilidade de uma nova visão empresarial que contemple todo o conjunto da sociedade em que a CSN está instalada ou manter a política do “eu bato, eu prendo, eu arrebento” e transformar de vez a CSN numa sucata irrecuperável.

Só para finalizar. Os chineses valorizam o que muito empresário brasileiro vira as costas, knowhow. Mais de seis décadas vivendo só para o aço, não pode ser jogado assim na lata do lixo.

Luis Nassif

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