Dólares, inflação e câmbio

Meu amigo Celso Ming volta a não querer enxergar que as taxas de juros têm impacto sobre o câmbio. Olhe só seus argumentos de hoje

“Ficaram insustentáveis os argumentos de que o câmbio só está torto porque é enorme a especulação que tira proveito da diferença entre juros externos e internos”.

Nota – como os juros externos são menores que os internos, os críticos da política cambial sustentam que essa diferença é que atrai capitais externos para especular no Brasil.

“Juros reais a um dígito já é perspectiva para daqui a poucos meses. Ficou descabido afirmar que vale a pena tomar dinheiro emprestado lá fora a juros baixos para reaplicar aqui e ganhar no mercado financeiro”.

Nota – “juro de um dígito” é aquele menor de 10%.

“Nos Estados Unidos ou na Europa está difícil encontrar empréstimos a juros de 7% ao ano ou a menos do que isso. O tomador de empréstimos ainda tem de enfrentar o prêmio de risco Brasil (de 1,5%), mais a inflação (de 3,5% neste ano) e só aí já estamos falando de um total de 12% ao ano, o nível dos juros básicos vigentes”.

Nota – o “risco Brasil” é um acréscimo que se faz, sobre as taxas internacionais, quando o empréstimo se destina ao Brasil. A taxa atual é das mais baixas da história. Antigamente, para calcular a taxa de juros real, pegava-se a taxa nominal e descontava-se a inflação do período. Considerava-se que a parte da inflação visava apenas repor o valor do dinheiro. O ganho, ou taxa real, seria então apenas o que excedesse a inflação.

Duas ressalvas:

• Sempre existe uma diferença entre taxas de captação e de aplicação. Os bancos tomam emprestados a uma taxa menor e aplicam a uma taxa maior. Só que as aplicações em dólares (com exceção das linhas de crédito bancária) são de “hedge fund” cujas taxas não se baseiam no custo do empréstimo.

Nota – “hedge fund” são fudos de capital especulativo, que buscam oportunidades de ganho pelo mundo.

• A comparação da aplicação em dólares com inflação é descabida. A inflação é uma medida para aplicações em real, não em dólares. Para investidores de fora só interessa a taxa de câmbio. Ele traz dólares e leva dólares. Se o real se aprecia em 10%, ele leva 10% a mais de dólares quando sai (sem contar os juros que recebeu internamente), independentemente da inflação interna.

Nota — se alguém traz US$ 1.000,00, com o dólar a R$ 2,20, vai receber R$ 2.200,00. Na saída, se o dólar estiver a R$ 2,00, mesmo sem contar os juros, os R$ 2.200,00 permitirão adquirir US$ 1.100,00. Ou seja, ele ganhou 10% só com a apreciação (valorização) do real.

Luis Nassif

12 Comentários

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  1. E parece que boa parte dos
    E parece que boa parte dos empréstimos tem origem no Japão. Onde os juros básicos estão em 0,5% ao ano e os custos dos empréstimos estão entre 2 a 5% ao ano.

  2. Parado no tempo da economia
    Parado no tempo da economia indexada a ORTN e cambio fixo.

    Este é o motivo para muitos analistas considerarem a inflação interna para calcular os juros reais.

    Naquele tempo quando não havia desquilibrios no mercado de cambio o governo corrigia o valor do dolar baseado na inflação passada funcionando como um indexador, o dolar paralelo atuava da mesma forma com o mercado corrigindo pela inflação passada.

    Enquanto o PT e o Lula representavam um risco de renegociação, o refugio do dolar provocava este fenômeno na cotação do dolar.

    Com a atual Política Monetária, as melhoras econômicas e fim do risco da renegociação da dívida interna e externa, o cambio passou a ser regido pelo fluxo de capitais.

    Neste novo cenário o fundamental para o investimento externo, com o fim da indexação automática do cambio a inflação interna, é preciso considerar apenas a expectativa da variação cambial para determinar os juros reais em relação ao dolar, e nem sempre tem acompanhado pela inflação, pelo contrário.

  3. Nassif,
    Sera que este
    Nassif,
    Sera que este pessoal nega a realidade por interesse ou por ignorancia?
    Eu fico imaginando como um pode revistas como a Exame sugerirem que o real esta valorizado em decorrencia do saldo da balanca comercial quando, na verdade, o que interessa e a conta capital (ou seria as transacoes correntes)?
    Uma boa parte da imprensa nacional e desinformante

  4. E dificil de acreditar que
    E dificil de acreditar que alguem que subtrai a inflacao brasileira do retorno de um investidor estrangeiro possa ter emprego cobrindo economia na redacao de um dos jornais mais importantes do pais.

  5. ” “Nos Estados Unidos ou na
    ” “Nos Estados Unidos ou na Europa está difícil encontrar empréstimos a juros de 7% ao ano ou a menos do que isso. O tomador de empréstimos ainda tem de enfrentar o prêmio de risco Brasil (de 1,5%), mais a inflação (de 3,5% neste ano) e só aí já estamos falando de um total de 12% ao ano, o nível dos juros básicos vigentes”. ”

    Independentemente das reais causas da apreciação do câmbio, o fato é que o seu amigo Celso comete um erro aqui: primeiro, ao usar como base a taxa de juros que já embute o custo de intermediação pelo sistema financeiro (de lá), segundo, por desconsiderar que também há inflação de preços em dólar.

    Quanto ao mérito da questão, eu acredito que muito pouco se comenta ou estuda sobre a participação dos juros cobrados ao tomador final no Brasil e sobre a influência do mercado de ações nessa valorização do real.

    Cito os juros finais, porque induzem os agentes de intermediação financeira a captar mais recursos do exterior para emprestar no país.

    E remeto ao mercado de ações, porque a expectativa de juros menores no Brasil, ao que parece inexoráveis, de certa forma parece ter levado os investidores estrangeiros e “estrangeiros” a comprar ações, face à esperada migração das aplicações domésticas em renda fixa para renda varíável e diante do provável aumento da lucratividade das empresas em geral.

    Uma consequência indireta desse aumento do valor das ações é um irônico aumento da procura por títulos públicos por parte de fundos de renda variável, já que parte do patrimônio destes tem de estar “segurado” por títulos federais.

    Nesse processo todo, aparentemente o papel dos exportadores é de hedge, minimizando os riscos cambiais dos demais participantes.

  6. Nassif. Pare de bater nos
    Nassif. Pare de bater nos juros e rode a baiana no tema dos impostos que são o maior cancro da economia nacional.

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