Fed quer mudar estratégia de comunicação

DO Wall Street Journal / Valor

Fed quer mudar a maneira que se comunica com os mercados

Por JON HILSENRATH E LUCA DI LEO

As autoridades do Federal Reserve, o banco central americano, estão perto de finalizar uma reforma na maneira como indicam ao público quais serão seus planos.

Elas devem passar boa parte da reunião de 13 de dezembro acertando os últimos detalhes da nova estratégia de comunicação e parecem estar a caminho de lançá-la no início do ano que vem. As autoridades têm dois objetivos principais: serem mais explícitas sobre as metas do Fed para a inflação e o emprego e articular mais claramente a estratégia de juros empregada para alcançar essas metas.

O novo plano de comunicação é muito mais que simples relações públicas. A escolha acertada de palavras por um banco central sobre metas e planos para os juros pode movimentar o mercado, os juros e a economia inteira. E o presidente do Fed, Ben Bernanke, há muito quer reduzir o jogo de adivinhação em torno das metas e possíveis ações do banco.

A nova estratégia de comunicação pode até sentar a base para que Bernanke e seus colegas adotem outras medidas para estimular o crescimento se a economia não melhorar ou começar a se deteriorar.

Pelo menos parte do ímpeto da nova estratégia vem da reação do público ano passado ao programa do Fed para comprar US$ 600 bilhões em Treasurys. Desde o momento em que o Fed anunciou o plano houve confusão entre os investidores sobre se o Fed compraria mesmo US$ 600 bilhões em papéis ou se reduziria ou o aumentaria o montante — em parte porque o banco central não foi muito claro sobre suas metas e estratégia.

O Fed está reformando há meses sua estratégia de comunicação. Sua abordagem ficou mais clara nos últimos comunicados, discursos e entrevistas das autoridades do banco central.

Informalmente, o Fed já deixou claro que quer uma inflação de 2% ou menos no longo prazo. Um comunicado oficial codificaria esse compromisso. Uma declaração como essa provavelmente seria acompanhada da descrição das metas do Fed para o emprego, que o Congresso obriga o banco a ter em mente, juntamente com a inflação. A maioria das autoridades do Fed acredita que o desemprego pode cair para 5% ou 6% sem causar um surto inflacionário.

Para articular sua estratégia para a taxa de juros mais claramente, o Fed ampliaria o relatório trimestral no qual dá projeções oficiais de crescimento econômico, inflação e desemprego. Acrescentaria detalhes sobre expectativas para a taxa de juros embutidas em suas projeções econômicas, além de uma descrição da política que espera utilizar para atingir os objetivos.

A maioria dos outros bancos centrais já tem metas formais de inflação. Muito antes de assumir a presidência, em 2006, Bernanke já defendia tais metas.

A clareza sobre a estratégia de juros é particularmente importante num momento em que os juros de curto prazo estão próximos de zero e não têm mais como cair — como agora. Nessas circunstâncias, uma maneira de influenciar o mercado financeiro é sinalizar para investidores quanto tempo mais os juros tendem a permanecer nesse patamar.

O Fed tem dado passos irregulares nesse sentido. Durante a crise financeira, o banco informou que os juros permaneceriam baixos por um “período prolongado”. Em agosto, disse que ficariam baixos “pelo menos até meados de 2013”. Projeções trimestrais formalizariam essa orientação e a tornariam mais específica. Se indicar que os juros ficarão nesse nível mais tempo ainda do que o mercado espera, o Fed poderia derrubar já os juros de longo prazo, estimulando o investimento, o consumo e o crescimento.

“Ainda há espaço para permitir uma acomodação adicional por meio de uma melhor orientação sobre a evolução da taxa básica de juros”, disse Janet Yellen, vice-presidente do Fed, em pronunciamento na semana passada. Yellen preside a subcomissão do banco a cargo da reforma nas comunicações.

No Fed, há quem ainda não esteja convencido de que essa é a abordagem certa. Dar uma projeção sobre os juros “pode ser um exercício interessante”, disse Richard Fisher, presidente do Fed em Dallas, em entrevista na semana passada. “É a utilidade disso que questiono”.

Outros dirigentes como Fisher duvidam que a “orientação” servirá de muito. Um risco é que o prognóstico do Fed sobre a trajetória esperada dos juros venha a confundir o público, em vez de esclarecer as intenções do banco central.

Não está claro se o comando do Fed irá tomar outras medidas de relaxamento. Para derrubar os juros de longo prazo, a autoridade monetária já comprou mais de US$ 2 trilhões em títulos de dívida pública e dívida hipotecária de longo prazo .

Bernanke e outros dirigentes do Fed estão considerando comprar mais títulos lastreados em hipotecas para promover o crescimento. Isso poderia ajudar a derrubar ainda mais os juros a longo prazo — sobretudo juros de hipotecas —, elevando a cotação de ações e derrubando o dólar. O que, por sua vez, poderia promover gastos, investimentos e exportações.

Algumas autoridades acreditam que mais medidas são necessárias. A inflação parece estar perdendo fôlego depois de um salto no começo do ano. Mas a taxa de desemprego, de 8,6% em novembro, está bem acima das metas do Fed.

Para Bernanke, o problema é que não é certo que a compra de mais títulos de dívida aceleraria a queda no desemprego. E certos dirigentes do Fed se opõem à medida, baseados na tese de que não ajudará a economia e aumenta o risco de inflação.

Luis Nassif

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