Matematização e historicismo

Enviado por: economista

Gesiel, na sua área, a Física, as “condições” de tempo, lugar, etc. são chamadas parâmetros do modelo. Dessa forma, um modelo é válido sob quaisquer “condições” que são transferidas ao próprio pelos parâmetros. Pois é, na economia vale o mesmo exceto aos olhos de “economistas heterodoxos brasileiros” (marxistas-historicistas, keynesianos-historicistas, etc.) que insistem em negar a parametrizabilidade da “realidade” em análise (crítica que os tais pós-modernos estendem às demais ciências). Aos olhos desses indivíduos só se pode descrever e analisar a economia como um fato histórico, não como ciência, pois para eles o próprio ato de se abstrair a realidade, coisa corriqueira nas demais ciências, invalida tudo. Aliás, a maior parte desses “críticos” abomina o uso de matemática na economia em particular e em qualquer área no geral. A questão é que no Brasil há mais “legitimidade” nas críticas ao uso de matemática na economia do que em outras áreas. No resto da comunidade internacional é perfeitamente aceito o uso de abstrações, parâmetros, matemática e outros instrumentos tão comuns a outras ciências.

Em particular, os keynesianos lá fora estão adorando a abstração/matematização da economia pois graças a isso aspectos da teoria keynesiana que pareciam pertencer somente ao empírico, sem fundamentos na racionalidade dos agentes – nada a ver com a racionalidade substantiva (moral) da filosofia, somente de um princípio que diz que um indivíduo sempre consegue escolher entre duas alternativas (pode se mostrar indiferente) e, entre as duas, sempre escolhe a que lhe parece melhor – e Teoria dos Jogos, começaram a ser resgatados. Vem por aí uma versão “hard science” da teoria de Keynes.

Sobre a abordagem que eles defendem, você, como físico, deve ter lido ou ouvido falar em Karl Popper. Esse epistemólogo austríaco escreveu um livrinho de poucas páginas intitulado “A Miséria do Historicismo” – entre os físicos é mais conhecido pela obra “A Lógica da Descoberta Científica” – no qual ele argumenta contra essa forma de “análise e previsão” chamada historicismo. Se você puder leia-o.

Quanto ao uso de inglês em economia, depende do autor e do público/revistas que o mesmo visa. Em particular, o professor Aloísio Araújo da Fundação Getúlio Vargas do Rio publica essencialmente em revistas internacionais (Econométrica, Journal of Political Economy, etc.). É só isso!

Enviado por: Manoel

Caros, queria qualificar as afirmações feitas:

1. Há casos em que análises estatísticas são inadequadas em economia,sendo preferível análises históricas. Isso tem relação com o objeto de estudo, diferente das ciências exatas.

2. Há casos em que é possível uma análise histórica e estatística, onde uma complementa a outra.

3. Há casos em que é preferível a análise estatística.

Isso vale pra Marxismo, Keynesiano, neoclássico etc.

O problema com relação à matemática é que temos uma profileração de modelos, o que em si não é ruim. Porém, essa proliferação de modelos não chega a consituir uma teoria articulada. Assim, temos muitas proposições do tipo “se… então”, mas não uma teoria.

A análise histórica, por outro lado, ajuda a construir uma teoria. às vezes pode se pecar pela imprecisão e impossibilidade de testar hipótese apenas com o método histórico. Mas ele é fundamental para a construção de teorias.

E é com teorias que é possível se ter uma visão do todo e escolher uma plano econômico consistente.

Caso contrário, temos a seguinte situação: se eu usar uma modelo matemático com determinadas hipóteses sobre bancarrota e contratos nominais, a política monetária pode ou não alterar o equilíbrio da economia no curto prazo. Aí um escolhe um modelo pro BC cujas hipóteses são contraditórias com outro modelo utilizado na análise de concentração bancária, ou então nas políticas de expansão de crédito. Aí temos políticas que são inconsistentes no todo.
Esse, ao meu ver, o verdadeiro dilema da matematização da economia contemporânea. Não se trata de ter pouca ou muita. Trata-se de se articular os modelos em uma teoria.

Luis Nassif

10 Comentários

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  1. Nassif,

    Nosso amigo Manoel
    Nassif,

    Nosso amigo Manoel mostra mais maleabilidade, e por conseguinte melhor condição para extrair resultados mais reais. O método empregado para análise de um fato, objeto, ou o que quer que se esteja analisando, dependerá do fato ou objeto estudado, e não da resposta que se quer alcançar, para que não se corra o risco de prativar cientificismo por ciência.

  2. A matematização não é um
    A matematização não é um problema.

    Criar modelos não é um problema.

    O problema é acreditar que modelos (que sempre são tipos ideais) bastam ou, o que está em voga, acreditar que são revelações da Verdade (com V maiúsculo) – quase revelações divinas.

    A realidade não pode ser tratada como situações de laboratório.

  3. A importancia da matematica e
    A importancia da matematica e da estatistica em economia ‘e indiscutivel, no entanto nao passam de ferramentas para uma analise de fenomenos sociais, subjetivos, inconstantes, imprevisiveis, nada racionais, etc,,,A modelizacao da economia parte de algumas hipoteses…se aceitas as hipoteses os modelos sao perfeitos, mas o grande problema esta justamente nas hipoteses ou condicoes!!! quem disse que existe o homus economicus capaz de fazer escolhas racionais??? quem foi que disse que os mercados operam em concorrencia perfeita?? quem foi que disse que variaveis monetarias nao afetam variaveis reais?? questionemos as hipoteses neoclassica e os modelos perdem seu poder de analise!! fatores politicos, culturais, antopologicos,sociais, etc nao cabem em planilhas de excell…cabem sim em discussoes historicas nas quais instrumentos quantitativos podem ser de boa ajuda

  4. O uso da matematica nao e’ um
    O uso da matematica nao e’ um problema, tendo claros os objetivos e limites.
    O equivoco e’ dar a entender que existe so uma economia, a neoclassica. E que essa economia e’ cientifica pq altamente formalizada.
    Isaac Newton que foi tb superintendente da casa da moeda e que estabeleceu um preco entre ouro e argento, que per ser mais tarde diferente do preco do mercado levou ao desaparecimento do argento e ao padrao ouro a Inglaterra, teria dito: “posso medir o moto dos corpos nao a humana folia.”
    Nada seria mais util que construir modelos estilizados dos fatos reais e tentar de compreender a realidade.
    Mas os objetivos da economia neoclassica som ideologicos e impedir a comprensao da realidade. Quer criar um pensamento unico e distorto e individuos incapazes de pensar. (Assim os paises pobres ficam pobres na eternidade). Já nos primeiros cursos de economia fica completamente no ar o sentido do simbolo K do capital: como ele e` medido, qual o seu preco qual a sua dependencia do juro? Os professores nao sabem e os alunos nao perguntam. Fica uma parabola sem sentido e inutil.
    A economia neoclassica inventa um homem oeconomicus, (abstracao per tirar qualquer referencia com a realidade concreta) e modela de forma de chegar as conclusoes predefinidas. As conclusoes predefinidas som que o consumidor e’ soberano (todos som iguais e todos recebem na base da idelista produtividade marginal), que o sistema vai ao equilibrio, que a moeda nao tem alguma importancia, que nao interfere nas decisoes, só serve per definir o nivel dos precos. Que o sistema e’ tecnico, matematico, neutro e nao politico. (O oposto da realidade). Esconde o fato q o sistema economico atual e’ o capitalismo, dinamico e nao estatico.
    A fantasia das espectativas racionais mostra o abuso da matematica dos neoclassicos, que procuram definir o modelo em funcao das conclusoes.
    O tempo utilizado e’ sempre o tempo logico, nunca o real. Isso sem contar: os problemas de definir as variaveis dependentes e independentes, (em matematica a variavel independente nao muda ao mudar da dependente e uma pedra nao tem vontande propria de mudar o moto como os homens), o fato que os parametros mudam ao mesmo tempo, e os problemas de nao ergodicidade (no uso das series historicas por exemplos).
    Os astrologos sabem mais de economia dos economistas neoclassicos.
    Seria necessario mudar drasticamnte o ensino da economia: considerar sempre o tempo real, historico, entender que o mundo pode ser aquelo descrito per o Maquiavel, e depois modelizar, usar fatos estilizados, mas com o obietivos de comprender e descrever a realidade.
    Na financa o uso da matematica e’ muito estenso e avancado: tem engenheiros chineses q trabalhavam com bomba atomica e q agora trabalham per os maiores bancos em NY. Mas nesse setor (onde todos sabem q a economia neoclassica e’ pura ideologia) o que conta e’ o dinheiro e fazer dinheiro (exatamente o q e’ irrelevante na economia neoclassica).
    Fisicos engenheiros e matematicos, sem nenhuma formacao economica, trabalham para modelizar os precos do risco e dos contratos derivativos. (E arbitragem). Sofisticados modelos probabilisticos estocatisticos som utilizados. Um fato divertido e’ que calculam tb precos miticos, no sentido de ativos que nao som comercializados. O q possa acontecer no futuro numa situacao de estresse ninguem sabe. (Mas e’ facil imaginar).
    O famosos J. M. Scholes quebrou facil: foi suficiente que a Russia parasse de pagar que com a mudanca do quadro do risco o modelo especulador baseado em series historicas entrou em crise.
    E

  5. POUCO ANTES DO CRASH DE 29 OS
    POUCO ANTES DO CRASH DE 29 OS NUMEROS ESTAVAM FAVORAVEIS NA ECONOMIA AMERICANA, O QUE LEVOU MUITOS Á INVESTIR AINDA MAIS SEM SABER O TSUNAMI QUE ABALOU O MUNDO E ENTROU PARA A HISTORIA COM H MAIUSCULO.

  6. Nassif:
    Já que o teu blog
    Nassif:
    Já que o teu blog está meio vicioso, lá vai:
    Outro dia saiu uma pesquisa sobre acidentes de transito, nela ficou demonstrado que 27% dos motoristas envolvidos em acidentes tinham ingerido bebida alcoollica.
    Se pegarmos este dado, tirarmos do contexto e encapsula-lo, chegaremos facilmente a conclusão que os vilões do transito são os sóbrios!

  7. trata-se, a meu ver, de um
    trata-se, a meu ver, de um problema entre análise e síntese. como falou o o ilustre professor Edson Lobato, pesquisador da EMBRAPA: hoje se sai da universidade com a capacidade de análise, mas não com a capacidade de síntese ; fundamental para solucionar um sistema de equações com as respectivas condições de contorno.

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