O BNDES com Luciano Coutinho

Coluna Econômica – 20/04/2007

Para entender o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a partir da índicação de Luciano Coutinho para a presidência.

Grosso modo, há três linhas de pensamento em relação ao BNDES. Uma, que vigorou de Eduardo Modiano (governo Collor) até o governo FHC, consistia em transformar o banco em um grande banco de investimento, trabalhando com modernas ferramentas financeiras e análises de planos de negócios, mas sem nenhuma visão estratégica ou estrutural.

Especialmente na fase da privatização, foi um período absurdo. Saía-se de um modelo estatal na siderurgia, petroquímica, fertilizantes. Para transitar para o modelo privado, havia a necessidade prévia de análises sobre as características desses setores no mundo.

Por exemplo, a petroquímica exige consolidação, escala. Com a implosão do sistema Siderbrás, havia condição de se montar um grande grupo privado nacional, de controle compartilhado. Nada isso ocorreu. Optou-se por vender picado, para maximizar o valor de venda.

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A segunda linha de pensamento foi trazida de volta para o banco na gestão Carlos Lessa. Tentava se retomar o espírito dos anos 80, no qual o banco decidia sobre o futuro de setores, induzia o setor privado a investir maciçamente -muitas vezes, a realizar sobre-investimentos. Tentava-se recuperar não apenas o banco que ajudava a criar cenários futuros, como a moldar o país.

O modelo não foi ressuscitado, em parte devido ao terremoto da transição, que desarticulou os quadros do banco e fez a gestão Lessa perder um tempo enorme para remontar a estrutura. Em parte porque os novos tempos já não comportavam esse modelo.

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Com Guido Mantega e Demien Fiocca, o banco acabou aderindo a uma linha já delineada nos anos 80 pelo grupo que comandou a “teoria da integração competitiva”, o plano de abertura econômica.

Com o tempo, esse grupo passou a contar com Antonio Barros de Castro como o grande teórico. Ex-presidente do BNDES (no governo Itamar), Barros voltou para o banco com Mantega.

Na sua visão, passou o tempo do banco definir setores vitoriosos. O Brasil é uma economia suficientemente sofisticada para que se apliquem as chamadas políticas horizontais -isto é, que influenciem todas as empresas indistintamente. Entre essas políticas estão a indução à inovação, à busca de novos mercados, à gestão etc.

Esse grupo também recuperou ferramentas financeiras desenvolvidas no período anterior, e que são bons instrumentos de ação. O problema do BNDES do período anterior não era o de utilizar ferramentas de bancos de investimento. Era o de se limitar a pensar como banco de investimento.

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O pensamento do economista Luciano Coutinho é similar ao de Barros de Castro. Luciano participou dos primeiros estudos para mapeamento das cadeias produtivas brasileiras, ainda no governo Collor -encomendados pelo mesmo grupo da “integração competitiva”, que ocupou cargos no período.

Essa experiência setorial será relevante para juntar a parte positiva dos diversos modelos em uma ação mais efetiva. Principalmente porque, a exemplo do primeiro governo FHC, o BNDES terá papel crucial para evitar o desaparecimento de diversos setores da economia, por culpa do câmbio apreciado.

Para incluir na lista Coluna Econômica*

Luis Nassif

5 Comentários

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  1. O cambio apreciado deixa
    O cambio apreciado deixa setores ineficientes nús, sempre digo e reafirmo é o principal preço relativo e como tal importantíssimo, mas os nossos problemas vão mais além do cambio, são estruturais, investimos pouco em P&D, portanto inventamos e inovamos pouco, nossa educação é horrorosa em todos os níveis, impostos muito elevados e de má qualidade fiscal, infra estrutura ruim, etc. O BNDES tem que atuar tentando minimizar algumas dessa deficiencias, para tentar equilibrar um pouco o jogo.

  2. Replicando ao leitor
    Replicando ao leitor Augusto,que na coluna BLOG,de ontem disse que “quem produz e trabalha,não ganha dinheiro”lembro ao mesmo,que desde o mais remoto tempo da história da humanidade,quando alguem,bem mais esclarecido que os mortais,disse:nem só de pão vive o homem,eu transfiro tal frase ao assunto em questão,pois se alguns maus brasileiros,só pensam em dinheiro,outros trabalham para ajudar aos semelhantes,isto em todas as atividades,e como seria o país,se assim não fosse?Pessoas como o dono do Atacadão Martins,fonte desta discussão,assim como outros bons empresários, como o proprietário do Grupo Votorantim;O proprietário do Grupo Pão de Açucar,e outros menos lembrados,que se quisessem,estariam ganhando 10 veses mais,se ao invez de investir nas suas empresas,e no aumento de empregos,migrassem para o mercado financeiro?Por isso,eu ainda acredito no futuro deste país,que mesmo convivendo com “urubús”tipo Andre Lara Rezende e seus pares,ainda tem jeito.

  3. Então o “homem”era o Anfre
    Então o “homem”era o Anfre Lara Rezende,Nassif? Neste caso,houve uma grande diferença entre ele ter ganho num curto período,um “rio”de dinheiro,no mercado financeiro,enquanto quem investe na produção,como os Martins do atacadista citado,terem trabalhado mais e ganho menos.Aquele ex-funcionário do alto escalão do governo anterior tinha as informações privilegiadas,e o acesso a estas informações,que a outros mortais é proibido.Graças a Deus,neste país ainda existem empresários que não deixando de querer retôrno para seus investimentos,têm cidadania suficiente para aceitar ganhar pouco,e aceitam partilhar seus lucros com seus colaboradores,e mesmo sabendo que é mais fácil e mais rápido o lucro na ciranda financeira,não abrem mão de seus princípios empresariais,se assim não fosse,este país já teria quebrado,o que quase aconteceu naquela época,em que aquele banqueiro,assim como outros mais,deixaram pra viúva,a conta a ser paga.

  4. Errado. Tinham linhas
    Errado. Tinham linhas conflitantes nos anos 80, quando Luciano defendia a Lei de Informática. Hoje em dia pensam de forma igual.

  5. Não vejo com otimismo a
    Não vejo com otimismo a escolha de Luciano Coutinho para a presidência do BNDES, já que ele pertence à chamada “escola desenvolvimentista”, que tantos prejuízos trouxe ao Brasil, em especial na década de 80, na chamada DÉCADA PERDIDA.
    O banco, naquela época, realizava algo que eles chamavam “política industrial”, que consistia em 3 premissas básicas: emprestar com juros extremamente subsidiados aos grandes empresários; desvalorização sistemática e diária da moeda, a fim de tornar os produtos brasileiros competitivos e premiar a inefiência do nosso setor produtivo; e a NEFANDA reserva de mercado para informática e microeletrônica, que nos relegou ao atraso tecnológico.
    Isto é o que chama de política de renda para rico, já que os subsídios pagos aos empresários poderiam ter sido usados para programas de distribuição de renda para os que realmente precisam.
    O que temos atualmente, graças aos 2 últimos governos? O Brasil bate récordes de exportações, mesmo com o Real valorizado; graças ao fim da lamentável RESERVA DE MERCADO, a inclusão digital cresce em progressão geométrica; as empresas estão dando um show de produtividade. É evidente que se os juros fossem um pouco mais baixos, seria melhor ainda, mas política monetária é algo que deve ser tratado com cautela e não com a irresponsabilidade costumeira do passado.

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