O “boom” imobiliário

Coluna Econômica – 25/05/2007

Um dos principais inovadores da construção civil brasileira a partir dos anos 80, o empresário Hugo Marques da Rosa, da Método Engenharia, sustenta que o setor passa pelo maior “boom” desde os anos 70.

Praticamente todos os sub-setores da construção civil estão em intensa atividade. Antes, tinha-se a fase dos hotéis e residências, depois a fase das instalações industriais. Agora, todas estão crescendo simultaneamente.

Além disso, o mercado de capitais descobriu o setor imobiliário e aumentou a oferta de financiamentos a prazos maiores e taxas menores.

Estão se esgotando os estoques no mercado imobiliário comercial, e as indústrias começaram finalmente a aumentar fisicamente. Nos últimos vinte anos, limitaram-se a ganhos de produtividade, investindo em maquinário e redução de pessoal. Agora, pela primeira vez, começam a ampliar as instalações físicas. Some-se a infra-estrutura, reativada pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e se terá o melhor dos mundos.

A diferença em relação aos anos 70 é a falta de recursos do setor público. Mas como os investimentos em infra-estutura serão fundamentalmente privados, não haverá queda de ritmo.

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Esse “boom” reflete uma característica do setor. Sempre que a economia vai mal, o setor é o que mais sente. Às vezes, um, dois por cento de restrição econômica pode significar quebras de até 30% no setor.

Com o recálculo do PIB, por exemplo, constatou-se que os investimentos respondem por apenas 16%. Dos investimentos, 50% correspondem à construção civil. Assim, qualquer projeção do setor deverá levar em conta o crescimento do PIB (em geral a construção civil cresce mais do que o PIB), mais um crescimento adicional, necessário para a relação investimento/PIB chegar aos 25%.

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O “boom” dos anos 70 coincidiu com a urbanização, aliás o mais violento processo de urbanização. Era um fenômeno tipicamente paulista e do centro-sul. Hoje, o “boom” se espalha por todo o país. No Nordeste, que forneceu a mão-de-obra dos anos 70, hoje a construção civil cresce mais do que em qualquer outra região.

E aí começa a se entrar em alguns gargalos. Não tem como a construção civil competir com mão-de-obra com outros setores. Embora o ofício de pedreiro seja mais qualificado que o de um torneiro-mecânico, não há orgulho em ser da construção civil. Pesquisas indicam que mais de 95% dos trabalhadores do setor não querem que seus filhos sigam a sua profissão.

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Esse mesmo fenômeno ocorreu na França, que preciou se valer de imigrantes espanhóis e português, da Alemanha, com os turcos, e da Inglaterra, com imigrantes das ex-colônias. Depois de se tornarem cidadãos dos países europeus, seus filhos tiveram acesso a ensino público de qualidade, e não quiserem seguir o caminho dos pais.

A saída, lá e aqui, será a crescente industrialização do setor – a compra de partes prontas do imóvel, seguindo o modelo da indústria automobilística. Esse processo de iniciou nos anos 90, mas foi revertido com a estagnação da economia. Agora, deverá ser retomado.

A tendência será a industrialização e a qualificação do emprego.

Para incluir na lista Coluna Econômica*

Luis Nassif

21 Comentários

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  1. Falar que um pedreiro é uma
    Falar que um pedreiro é uma função mais qualificadaque um toeneiro é um deconhecimento total da função.Basta dizer que tem torneiro até presidente da república.Ironias a parte,assim como existem pedreiros com P maiúsculo existem torneiros,principalmente os ferramenteiros,que são mão-de-obra altamente qualificada que,tenho certeza,ficariam muito ofendidos com esta comparação.

  2. Mensagem enviada à
    Mensagem enviada à Participações e Incorporações Santo Agostinho Ltda.

    Jaime

    Penso que o trágico episódio da linha 4 do metrô é mais do que suficiente para que tome o devido cuidado com seu futuro empreendimento, pois estou informado da volúpia que você tem quando vislumbra a chance de ganhar dinheiro fácil. Sabe por que a cidade é refém de inescrupulosas construtoras como a sua ?. Porque são poucos os que reagem à especulação imobiliária. Nos países desenvolvidos, as leis são muito mais rígidas, e o trabalho desempenhado pelos profissionais da construção civil é feito com responsabilidade social. Não tenho dúvida que, em meio às condições apresentadas, seu “espirito empreendedor” teria sido há muito tempo impedido de ir adiante, e seu diploma de engenheiro devidamente cassado. Você vai descaracterizar o padrão estético da rua, tapar a luz do sol que inside nas residências que ficam mais próximas da obra, tornando-as frias e inabitáveís. E o que é mais grave: vai nos colocar em situação de risco, pois como bem sabe, o impacto do sistema encravatório pode comprometer as estruturas das casas mais antigas.
    Ao contrário do que se pensa, a verticalização, quando se espande de modo desordenada, ameaça o meio ambiente .
    Portanto, Jaime, tome muito cuidado com o que vai fazer.
    É o terceiro aviso que lhe dou.

    Para mim, o “boon imobiliário” equivale a crescimento desordenado e falta de planejamento urbano.

    Eduardo.

  3. E acima de tudo, o ajuste na
    E acima de tudo, o ajuste na remuneração do trabalho…

    Mais cedo do que tarde as construtoras e os empreendimentos vão migrar pros segementos de classe média baixa, fazendo casas/apartamente por volta de 50 mil reais. Com juros reais de 3, 4% e com financiamento de 20, 30 anos, promete ser uma revolução no Brasil! Por enquanto vai se construindo apartamentos de luxo para upgrade…

  4. Nassif: interessante o post,
    Nassif: interessante o post, por abordar este tema palpitante. Porém, muito superficial. Seria interessante vc conseguir mais dados e análises mais profundas. abs.

  5. Há tempos não lia nada tão
    Há tempos não lia nada tão coerente,quanto esta análise do “boom imobiliário”e esta coluna vem no momento certo,pois de vez em quando,parece que estamos caminhando para traz,e este setor,que é um maiores responsáveis pela absorção da mão-de-obra menos qualificada,tecnicamente falando,tem a primazia de sempre crescer mais que as estatísticas oficiais.Como estamos atravessando este momento histórico no crescimento da construção civil,e seu segmento,isso certamente gerará um crescimento de toda uma cadeia produtiva,pois ele acontece milagrosamente em todo o país,com maior vigor,naquelas regiões mais necessitadas de emprego e renda,conquistando portanto uma distribuição de renda mais equitativa.Se em algum tempo achávamos que a indústria automobilística era a responsável pelo “carregamento”do país,hoje ela perde este galardão para o setor imobiliário e suas ramificações,até porque este setor envolve mais vagas no mercado de trabalho,desde o mais simples operário,passando pelo envolvimento de pessoas que estavam fora do contêxto social.

  6. Quando o governo Lula fez
    Quando o governo Lula fez alterações nos depósitos compulsórios de poupança, eu percebi que iria haver um crescimento grande no setor de construção civil, até avisei ao pedreiro que trabalhava em casa na época que ele iria ter muito trabalho, não deu outra. O que quero destacar é a ação do governo federal, por meio da CAIXA e do BC, com as alterações no direcionamento básico dos recursos depositados em poupança, entre outras, que praticamente obrigou os bancos a financiarem imovéis. Bancos em geral detestam a caderneta de poupança, é por isso que a Caixa (banco público) lidera nesse tipo de depósito. O governo Lula parece ter consciência de que a construção civil é um paradigma para a geração de empregos e soube como alavancar o setor.

  7. Sou testemunha e participante
    Sou testemunha e participante (ainda calouro) desse processo, pois, trabalhando como corretor e entusiasta do mercado imobiliário brasileiro tento me qualificar fazendo faculdade de Negócios Imobiliários e pos em Direito Imobiliário. Minha grande ambição é criar um centro de pesquisa em Real Estate (estudo de mercado imobiliário) na cidade do Rio de Janeiro, pegando todas a áreas da construção civil incluindo corretagem, engenharia civil, arquitetura ( entre outras ), e agradeceria quem me indicasse o “caminho das pedras”. Grato.

  8. Nassif,

    Chamou-me a atenção
    Nassif,

    Chamou-me a atenção no seu post o trecho: “… não há orgulho em ser da construção civil. Pesquisas indicam que mais de 95% dos trabalhadores do setor não querem que seus filhos sigam a sua profissão”.

    E pensar que os maçons se organizaram intitulando-se orgulhosamente de pedreiros-livres – aliás, o nome em inglês, masonry, ainda é sinônimo do trabalho de construção com uso de tijolos ou blocos.

    Se bem que a denominação de “pedreiro-livre” já era usada pejorativamente em pelo menos um antigo livro português que li – não me lembro mais de quem.

    Seria só por difamação da igreja contra-reformista ou teria relação também com o desprezo da elite portuguesa (e, por herança, da nossa) pelo trabalho duro?

    Oswald de Andrade lembra que o juiz que veio condenar os Inconfidentes tinha um pleito especial para a coroa portuguesa: a concessão de um título de nobreza que já lhe havia sido negado por causa de uma cláusula que barrava no mundo dos fidalgo (eta palavrinha reveladora) quem tivesse “sangue infecto de judeu ou mouro” e “nódoa de mecânico”. O sujeito tinha levado bola preta, apesar dos “bons serviços” prestados à Coroa, por haverem descoberto que tinha um ancestral sapateiro.

    Isso numa época em que a Europa começava a ser sacudida pela Revolução Industrial, baseada na ética do trabalho.

    Reminiscências dessa desvalorização do trabalho ainda podem ser encontradas no orgulho que o coronel do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, manifesta pelo seu “ócio senhorial”. Bem como no prestígio dos doutores e bacharéis ao longo de nossa história.

    Voltando as dias de hoje mas ainda viajando na maionese, lembrei-me de que, aqui em Goiânia, era uma reclamação comum dos sindicatos de profissionais como médicos e engenheiros, sempre que reclamavam (justamente) dos seus baixos salários, usarem como comparação os salários maiores recebidos pelos garis da Prefeitura.

    Até que um dia o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Limpeza Urbana perdeu a paciência com a enésima matéria do gênero publicada num jornal local e publicou uma nota pedindo que os doutores lutassem pela melhoria dos seus salários sem desmerecer o trabalho duro e essencial dos garis, que tinham conquistado uma remuneração mais decente graças à sua melhor capacidade de organização – e à lei de mercado, já que apesar dos salários na época um pouco melhores, havia menos candidatos ao seu trabalho que bacharéis diplomados em uma infinidade de graduações.

  9. Mas Nassif, por que não a
    Mas Nassif, por que não a dignificação da profissão?

    A produção cresce, mas os salários são os últimos a serem recompensados.

    Só trocar por máquina não adianta muito. E a função social do crescimento fica comprometida.

    Abs..

  10. Quem derá que esse boom da
    Quem derá que esse boom da construção civil fosse igualmente o boom da boa arquitetura, cada vez mais os prédios, viadutos, torres de serviços, indústrias, etc vão se afundando em reproduções mal colocadas e poses neoclássicas. A nossa burguesia fede, tem dinheiro para comprar perfume, mas se lava com água sanitária.

  11. Poucos vão comentar. Não vão
    Poucos vão comentar. Não vão querer reconhecer os acertos do governo. Não sabem da queda dos impostos no setor(não querem saber,fazem de conta que não sabem). Desconhecem que o governo nunca pois tanto dinheiro disponível ao setor. Ou acham que é milagre? Desconhecem a mudança de regras e a queda do juros no setor habitacional. É, culpa do Lula,o que dizer? O que comentar essa opção pelos pobres, onde todos ganham.? Voce internauta alienado, excluído, oposição por oposição, oque melhor faz mesmo é ficar calado, não comentar nada.

  12. Nassif,
    É verdade sim. Desde
    Nassif,
    É verdade sim. Desde 2006 o setor está indo bem e neste ano, o segundo trimestre será o mais forte da história. Normalmente todo segundo trimestre do ano é mais morno, exceto em 2007.
    Esperamos que continue assim.
    Trabalho em empresa que fornece insumos para a construção civil

  13. NASSIF, bom dia.

    Com todo
    NASSIF, bom dia.

    Com todo este “boom” os juros ainda estão altos para um financiamento, poderia ser bem mais baixo, por volta de 3 a 4% ao ano. Fui financiar R$ 30.000,00 na CEF e em 20 anos pagaria R$ 76.000,00 e aqui não está incluso o cálculo de reajuste anual. Sendo o imóvel a propria garantia do financiamento, não vejo o porque de um juro de 8% ao ano.

    abraços

  14. Nassif,
    acho oportuno
    Nassif,
    acho oportuno comentar aqui algo sobre a verdadeira “fábrica” de certificação que temos no Brasil. Hoje para financiar a produção na CAIXA a construtora deve possuir um certificado PBQP-H (programa brasileiro de qualidade e produtividade no habitat – herdeiro do PBQP do governo Collor), similar aos programas ISO 9000, mas direcionados à construção civil. Em tese o programa é ótimo porque força as construtoras a organizarem e padronizarem os seus processos produtivos. No entanto, vejo que temos no Brasil uma prática que começou em virtude de um desejo de avanço tecnológico mas se desvirtuou com o tempo. No meu entendimento as “auditorias” deveriam acontecer de modo aleatório e sem limite temporal. Contudo elas ocorrem em datas pré-agendadas (uma ou duas por ano) e com bastante antecedência. Qual o problema desta prática? As construtoras, em sua maioria, continuam trabalhando como estavam e na véspera das auditorias dão uma “maquiada” na obra. Parece um porco limpo e lavado? Você sabe que ele não é daquele jeito e que quando você virar as costas ele vai se enlamear todo de novo, mas você fecha os olhos e vai embora… É desta maneira que as Auditoras trabalham. É para inglês ver… triste perceber que uma iniciativa que poderia trazer ótimos resultados não vai além em parte por conivência das próprias certificadoras. Até hoje só vi empresas perderem a certificação por deixarem de pagar as auditorias… Te pergundo: como mudar esse brasilzão?

  15. Renato, apesar do imóvel ser
    Renato, apesar do imóvel ser a garantia do financiamento, no Brasil temos um problema grave que é a legislação que dificulta enormemente a desocupação de imóveis cujos proprietários são inadimplentes. Se a desocupação fosse simplificada tenha certeza que teríamos menores juros.

  16. Creio que esta questão da
    Creio que esta questão da valorização dos ativos reais merece um capitulo a parte, no ano passado este Bolg já levantava esta questão.

  17. E mesmo com os juros altos de
    E mesmo com os juros altos de hoje dos financiamentos imobiliário muitas empresas ou pessoas estão considerando uma grande valorização dos imóveis para compensar os juros mais altos pagos hoje.

  18. Creio que atual boom
    Creio que atual boom imobiliário está ligado a possibilidade de o Brasil pratica juros da Selic abaixo dos 10% nominais a partir de 2008, mesmo com os erros do COPOM.

    Muista empresas já estão se preparando para esse ambiente e para isso os investimentos já tem que ter sido iniciado.

    O défiict habitacional e o nivel de desemprego devem para garantir um bom folego por anos ao, mas um processo de elevação dos salários e beneficios serão necessários para garantir uma boa posição na disputa pela mão de obra.

    Ponto par o Ministro Mantega que com o PAC e ações pontuais tanto na area de financiamentos e fiscais setor ajudaram a impulsionar ainda mais o setor.

    Assim que os juros da Selic for se aproximando dos 6% nominais ao ano a procura por ativos reais será imensa, e os imóveis será um destino certo, e muitas pessoas e empresas que tem condições já estão se antecipando.

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