O futuro de Meirelles

Do Valor

Meirelles resiste à pressão de Goiás

Cristiano Romero, de Brasília
22/03/2010

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, rejeitou apelo do PMDB de Goiás para reconsiderar a decisão de não disputar o governo do Estado na eleição deste ano. Pressionado pelo prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB), Meirelles anunciou, antes do Carnaval, que não será candidato, o que abre espaço para Iris. Preocupado com a possibilidade de sair derrotado da disputa, o prefeito de Goiânia mudou de ideia e, agora, quer que Meirelles se candidate.

No domingo passado, Iris enviou um emissário – a própria mulher, Íris Araújo – para conversar com o presidente do BC e tentar convencê-lo a mudar de ideia. Meirelles, no entanto, não deve voltar atrás. Ele também não pretende se candidatar ao Senado, como vêm defendendo setores do PMDB. Seu projeto, segundo informaram ao Valor assessores graduados do governo, continua sendo aquele que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva idealizou para ele: ser vice na chapa presidencial da ministra Dilma Rousseff.

A pressão em Goiás para que Meirelles saia candidato ao governo vem de todos os lados. Depois de pressionar o presidente do BC a antecipar sua decisão para fevereiro – o plano de Meirelles era fazer isso apenas no início de abril, quando termina o prazo para desincompatibilização -, o prefeito Iris Rezende ficou inseguro quanto às suas chances na disputa contra o candidato Marconi Perillo, do PSDB. Ele está preocupado com o fato de não ter o apoio do governador de Goiás, Alcides Rodrigues (PP).

Num evento recente com cerca de 1 mil correligionários, Iris disse que ainda não havia tomado uma decisão e que tinha dúvidas quanto à candidatura. Num discurso emocionado, disse que perdera uma noite de sono, durante a qual havia orado quatro horas e pedido a “ajuda de Deus”. “Ele disse que Deus ainda não tinha dado uma resposta a ele”, relatou um pemedebista goiano que presenciou a cena.

Na terça-feira passada, durante evento público em Goiânia, o governador Alcides Rodrigues declarou que, se Meirelles for candidato à sua sucessão, ele o apoiará. Na ocasião, recusou-se a falar de apoio a Iris Rezende. Cotado para ser candidato ao governo de Goiás pelo PP, o prefeito da cidade de Senador Canedo, Vanderlan Cardoso, procurou Meirelles para dizer que desistirá da candidatura, caso ele dispute a eleição. Aproveitou para postular o cargo de vice na chapa.

Na conversa com Íris Araújo, Meirelles, segundo apurou o Valor, explicou que já tinha tomado a decisão de não se candidatar, que não voltaria mais atrás e que agora tem outros planos. A mulher de Iris Rezende pediu para ele reconsiderar, mas a conversa terminou do jeito que começou: sem novidade. Dois interlocutores, com quem Meirelles conversou antes de fazer o anúncio da desistência, em fevereiro, são fundamentais para a determinação do presidente do BC: Lula e a ministra Dilma. “O presidente não gosta nem de conversar sobre essa possibilidade [de uma candidatura de Meirelles em Goiás]. A Dilma também não”, afiançou um auxiliar de Lula.

Recentemente, o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB), que trabalha para ser vice na chapa de Dilma, disse a Meirelles que, se for sacramentado um acordo entre o PMDB e o PT para a disputa nacional, o partido ficará com o Ministério da Fazenda numa nova gestão petista. Na conversa, Temer assegurou que o nome do partido para comandar o ministério seria o dele, Meirelles. Na avaliação de amigos do presidente do BC, essa é a uma tentativa clara de afastá-lo da disputa para ser vice de Dilma.

Nos últimos dias, surgiram rumores de que Meirelles deixaria o BC para se candidatar a uma vaga no Senado por Goiás. Os rumores são atribuídos ao líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), um aliado de Michel Temer. A hipótese da candidatura ao Senado, segundo uma fonte do governo, existe, mas é remota.

Nesta semana, Meirelles conversará com o presidente Lula sobre seu futuro político. Durante o encontro, os dois tratarão da sucessão no comando do BC. O candidato natural ao cargo é o atual diretor de Normas, Alexandre Tombini, mas a substituição ainda não foi decidida pelo presidente.

A probabilidade de Tombini ser nomeado é grande porque ele é o candidato de Meirelles e a expectativa é que, no caso de vitória de Dilma Rousseff na eleição deste ano, a atual diretoria permaneça à frente do BC na nova gestão. Em conversas reservadas dentro do governo, Meirelles sustenta que Tombini, um funcionário de carreira, é um “profundo conhecedor” do regime de metas para inflação, que ajudou a implantar na gestão Armínio Fraga.

Outra mudança prevista na diretoria do BC será a substituição do atual diretor de Política Econômica, Mário Mesquita, por Carlos Hamilton, que há duas semanas assumiu a diretoria de Assuntos Internacionais. Com a saída de Mesquita e a ascensão de Tombini, restarão ainda duas vagas a serem preenchidas. No caso da área internacional, a tendência é buscar alguém na academia ou no mercado financeiro.

Luis Nassif

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