O Sr. Tempo na economia

Um dos problemas mais intrigantes na análise econômica é entender a economia como uma realidade complexa – isto é, com muitos autores se influenciando mutuamente – na qual uma determinante fundamental é um personagem central chamado de Sr. Tempo, e a maneira como influi nas expectativas dos agentes.

Explico.

Há um conjunto de medidas que se toma hoje, para o bem ou para o mal. Os efeitos se farão sentir daqui a algum tempo. Por não conseguir perceber de imediato os resultados futuros, há dificuldade para convencer eleitores ou agentes econômicos. Essa dificuldade acaba condicionando muitas medidas de política econômica e muitas decisões dos agentes econômicos.

Vamos conferir alguns exemplos de como o Sr. Tempo age, até para entender alguns problemas atuais da economia brasileira.

Exemplo 1 – o impacto de uma mudança de inflexão nas vendas sobre a produção.

No setor A as vendas são de 100, os estoques de dois meses, são de 200.

Em fase de equilíbrio, o comerciante repõe mensalmente o que vendeu. Vendeu 100, comprou 100. O ritmo de produção é idêntico ao da venda.

Aí as vendas caem para 90. Ele precisa reduzir seus estoques para 180 (2x). Ao reduzir para 80, sua reposição cai para 70 naquele mês (10 de redução de vendas, 20 de redução de estoques). Ou seja, para cada 10 de queda na venda, a reposição cai 30.

O mesmo vale em fases de recuperação da economia. Suponha que as vendas estejam em 70. Se aumentarem para 80  em um primeiro momento a reposição será de 100 (10 do aumento de vendas, 20 de aumento de estoques).

Por isso mesmo, em toda queda de atividade, em um primeiro momento a queda da produção é mais que proporcional. E em toda recuperação, o o mesmo ocorre com o aumento da produção.

Confira as linhas azul e vermelha. A vermelha representa as vendas; a azul, a reposição. Na fase de queda, repare que a linha azul cai muito mais do que a vermelha; e vice-versa. Obviamente, há um conjunto de desdobramentos que deixarei para analisar oportunamente.

Luis Nassif

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