O “Tornos e Planilhas” de maio

A última reunião dos “Tornos e Planilhas” junto um grupo de peso do lado das planilhas. Do lado dos tornos (os economistas ligados ao setor produtivo) problemas de agenda reduziram a representação.
Participaram do encontro Tomás Málaga, economista-chefe do Banco Itaú; Paulo Tenani, estrategista-chefe do UBS, Ernesto Leme, do UBS; Roberto Troster, ex-economista chefe da Febraban e Enio Mendonça de Souza, ex- BBA.

Sobre a Selic

Se o mercado é o melhor avaliador de riscos, se os sinais do mercado têm que ser considerados, como diz o Banco Central, então a taxa Selic está fora de prumo. No mercado, os juros futuros pré-fixados foram negociados abaixo de 9%. É como se o mercado estivesse apostando em uma taxa Selic de 8,5%.

Houve unanimidade sobre a necessidade de acelerar a queda da taxa Selic. Para alguns dos economistas, só uma pancada grande reverteria a apreciação do real. Para outros, uma queda substancial poderia “desarranjar as expectativas do mercado”.

Tenani não concorda e indaga o que aconteceria se a taxa Selic baixasse 2,5 pontos de uma só pancada. Não defendeu a queda abrupta, mas colocou a questão para reflexão.

Ai voltou a velha questão do PIB potencial, da capacidade da economia de criar produção para atender o crescimento da demanda. De um lado, economistas que julgam necessário tempo para criar capacidade.

Tenani rebate: superávit em conta corrente significa que a oferta agregada é maior que a demanda agregada. Logo há espaço para crescimento. Com o fator China deflacionando e com a queda do risco-Brasil, diz Tenani, o próprio investidor internacional está apontando riscos pequenos para o crescimento. Se houvesse riscos inflacionários no crescimento, a redução dos juros iria provocar aumento do risco-Brasil, não redução. Se o Banco Central não interpreta corretamente os sinais, quem cai é o câmbio.

A teoria da “jabuticaba”

Foi lembrado que há dois anos o Brasil está pagando um yeld abaixo de 6,5%, contra uma taxa Selic que era de 15, 16%, diz Tenani.

Tudo isso foi decorrência do mito que se criou sobre a “taxa de juros de equilíbrio” de 8%, a famosa “teoria da jabuticaba” do Pérsio Arida — alvo, aliás, de inúmeras críticas que fiz na época ao Pérsio.

Houve consenso dos participantes que quando surgiu essa história dos “juros de equilíbrio” não havia sequer um modelo capaz de validar a hipótese. Com isso, o BC acabou mirando o alvo errado. Os juros de equilíbrio no Brasil são muito menores do que os 7 ou 8% anunciados anos atrás, conforme conclusão unânime do grupo.

A intenção da proposta de Tomás Málaga, de constituir um fundo com parte das reservas cambiais, é diversificação de risco e estabilizar as receitas de conta corrente e receitas de governo.

Diversificação das reservas

Em vez de aplicar apenas em dólares, se aplicaria em empresas triple A no exterior, aumentando a rentabilidade das reservas. Hoje em dia, o governo só tem dividendos de empresas públicas como Petrobrás e Banco do Brasil. Uma queda nos preços do petróleo reduzirá o fluxo de dividendos da Petrobrás.

A idéia será diversificar a carteira com boas empresas estrangeiras, garantindo um fluxo contínuo de dividendos para o país, reduzindo o custo de carregamento das reservas.

Choque de importações

O choque de importações – abrir todas as comportas por três meses – foi veementemente condenada pelo grupo. Seria uma maneira de aproveitar uma janela de oportunidade para gastar da pior forma possível os dólares excedentes: no aumento do consumo.

O economista Enio Mendonça de Souza lembrou que os últimos dados da balança comercial já mostram que a balança dos manufaturados ficou negativa no primeiro trimestre.

O próximo encontro será para discutir Previdência Social.

Luis Nassif

13 Comentários

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  1. 1) SELIC: é a taxa básica
    1) SELIC: é a taxa básica (taxa de curto prazo fixada pelos BCs, no Brasil a SELIC) que influencia a inflação e a taxa de juro de longo prazo for considerada inadequada pelo mercado a inflação pode voltar e a taxa de longo prazo acompanha, a curva muda de descendente para asecendente. Inflação e taxa de juro de longo prazo descendentes demonstram política monetária corretas. Se a queda da SELIC pode ser acelerada (sem demagogias) é mérito da política monetária.
    A política monetária em doses homeopáticas para dar tempo a rearranjos da economia tem demonstrado ser um sucesso no mundo todo.
    EM UMA ECONOMIA ABERTA FAZ PARTE DA OFERTA AGREGADA AS IMPORTAÇÕES. FAZ PARTE DA DEMANDA AGREGADA AS EXPORTAÇÕES. Mudanças cambiais têm forte influência (inclusive na inflação). É sabido por todos que a taxa de juro é um dos fatores que influencia a taxa de câmbio, mas não é o principal, é complementar. Para ter uma influência significante tem que ser fixada uma taxa muito alta ou muito baixa, que desorganiza a economia, só aceitável em crise cambial. Uma taxa de juro muito baixa fará a demanda interna explodir, as exportações caem, pois os produtores procuram primeiro ganhar mercado interno (é o inverso do que falam). Taxa de juro alta faz a demanda interna cair e sobrar produtos para exportação.

  2. São reuniões informais
    São reuniões informais organizadas pela Agência Dinheiro Vivo. A partir da próxima reunião, serão gerados documentos. Por enquanto, apenas atas.

  3. Nassif,
    Turma da pesada essa
    Nassif,
    Turma da pesada essa dos tornos ! O Tenani, mais corajoso defende um corte de 2,5%. Pois bem, o Delfim Neto também acha que um corte substancial, aliás, de mais de 2,5%, ele defende que temos que ter juros reais iguais aos juros internacionais, + ou – 6%(seis por cento). O Presidente Lula já avisou que quer juros reais de 6% até o final do ano de 2007. Só o COPOM que teima em tirar o emprego de MILHÕES DE BRASILEIROS, com essa política suicida de Selic nas alturas. Chega de contemporizar temos que falar e protestar. Se a decisão do COPOM não for de queda de 1%(um por cento), queremos saber quais os diretores que foram contra o corte e colocar o nome deles nas manchetes da mídia nacional. Lembro, ainda, que o povo brasileiro cobrará de volta os MILHÕES DE EMPREGO QUE LHES FORAM TIRADOS, com a política suicida de juros altíssimos, patrocinada por estes algozes do povo brasileiro. A hora é agora, ou o COPOM recua e derruba substancialmente os juros ou iremos mobilizar a sociedade e finalmente processar (é só aplicar a Constituição Federal art. 170, VIII) os responsáveis por esta política que só beneficiou o capital financeiro e está destruindo o nosso parque industrial e condenando ao desemprego milhões e milhões de brasileiros.
    O COPOM responderá por este crime.
    Abração.

  4. A hora é esta.

    Aonde
    A hora é esta.

    Aonde chegamos, Juros da Selic em 12,5% nominais significa juros nas alturas, e podemos ir muito mais longe.

    O mercado em ritmo de espera, aguardando o COPOM se pronunciar sobre os juros da Selic para formar posições no mercado de cambio, a inflação caminhando para 2,5% anualizados, isso se o COPOM fizer um corte de apenas 0,5% nos juros da Selic, para conseguir manter o piso da meta de inflação pelo visto será necessário um corte maior que 0,5%, mais em função das expextativas.

  5. Uma sugestão para a enxurrada
    Uma sugestão para a enxurrada de dólares e supervalorização do real que prejudica os exportadores. Realmente não devemos liberar
    as importações. Mas poderíamos liberar a importação de serviços como a construção de ferrovias, modernização de portos, construção de hidrelétricas e outras grandes obras, pagando em dólares a empresas estrangeiras, sem subcontração de empreiteiras nacionais, até mesmo para se ter certeza de não haver superfaturamento e nem obras feitas com farinha. A imensa maioria da mão de obra seria de brasileiros, que poderiam até ganhar um salário maior e o governo ainda assim faria uma imensa economia.

  6. “balança dos manufaturados
    “balança dos manufaturados ficou negativa no primeiro trimestre.”

    Olha só a importância dessa última frase. Agora é hora de pensar seriamente se vamos produzir bens industrializados ou vamos se contentar com a soja e minério de ferro.

    Olha o câmbio ferrando os manufaturados … Agora vamos esperar os planilheiros de plantão explicar que isso é tudo culpa da ineficiência das empresas…

  7. Melhor escrevendo passando da
    Melhor escrevendo passando da hora.
    O melhor momento seria em janeiro, mais precisamente em 24 de janero de 2007.

  8. O texto que mandei saiu
    O texto que mandei saiu truncado e não entendível. O correto é:
    1) SELIC: é a taxa básica (taxa de curto prazo fixada pelos BCs, no Brasil a SELIC) que influencia a inflação e a taxa de juro de longo prazo. Se for considerada inadequada pelo mercado a inflação pode voltar e a taxa de longo prazo acompanha, a curva muda de descendente para asecendente. Inflação e taxa de juro de longo prazo descendentes demonstram política monetária correta. Se a queda da SELIC pode ser acelerada (sem demagogias) é mérito da política monetária.
    A política monetária em doses homeopáticas para dar tempo a rearranjos na economia tem demonstrado ser um sucesso no mundo todo.
    EM UMA ECONOMIA ABERTA FAZ PARTE DA OFERTA AGREGADA AS IMPORTAÇÕES. FAZ PARTE DA DEMANDA AGREGADA AS EXPORTAÇÕES. Mudanças cambiais têm forte influência (inclusive na inflação). É sabido por todos que a taxa de juro é um dos fatores que influencia a taxa de câmbio, mas não é o principal, é complementar. Para ter uma influência significante tem que ser fixada uma taxa muito alta ou muito baixa, que desorganiza a economia, só aceitável em crise cambial. Uma taxa de juro muito baixa fará a demanda interna explodir, as exportações caem, pois os produtores procuram primeiro ganhar mercado interno (é o inverso do que falam). Taxa de juro alta faz a demanda interna cair e sobrar produtos para exportação.
    A política monetária já fez a taxa de longo prazo cair para perto de 8,5% (líquida de IR), reduzindo a inflação já está em torno de 4,5 a 5%. É a prova da correção da política monetária. O que se discute é se a redução da última reunião deveria ser de 0,5% (4 a 3, divergência normal e aceitável).
    2) TAXA DE JURO DE EQUILÍBRIO (natural ou neutra). Como toda noção de equilíbrio em economia é dinâmica, diferente no tempo e no espaço. TODO LIVRO DE MACROECONOMIA, ECONOMIA MONETÁRIA, ECONOMETRIA, TEORIA ECONÔMICA FALA ABUNDANTEMTENTE NO CONCEITO (é impossível a um economista desconhecer o conceito). O AMBIENTE eas expectativas (positivas, negativas, neutras, crise de confiança) influenciam a taxa de equilíbrio. Um presidente de BC sem compromisso com a racionalidade amedronta o mercado e pode provocar expectativas negativas ou uma crise de confiança elevando a taxa de equilíbrio. O simples alinhamento das declarações das principais autoridades monetárias fez a taxa de equilíbrio cair mais rapidamente (motivo para a selic cair em um rítmo de 0,5%).
    RESERVAS: o Bacen fez uma experiência alocando 2 bilhões de dólares para dois bancos gerenciarem (não fiquei sabendo do resultado).Mas o Bacen aplica em Euros e em dólares (já socorreu até a Argentina). Existem muitas empresas triple A que deram o cano (muitas famosas).
    EXPORTAÇÕES: 67% DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS SÃO DE INDUSTRIALIZADOS. O BALANÇO COMERCIAL CONTINUA SURPREEENDENDO AOS PESSIMISTAS.

  9. Marco Aurelio Garcia:

    “A
    Marco Aurelio Garcia:

    “A melhor medida para a taxa natural (de equilíbrio ou neutra) é a de longo prazo. É a percepção do mercado para a tendência da inflação (poderiamos dizer que seria uns poucos pontos abaixo, mas coisa insignificante para análises). Esta é a posição dos economistas práticos com boa base teórica (o ex presidente do Bacen, Gustavo Loyola, na minha opinião um dos economistas mais capacitados, racional e imparcial, defende esta posição, aprendi com ele). \”

    “1) SELIC: é a taxa básica (taxa de curto prazo fixada pelos BCs, no Brasil a SELIC) que influencia a inflação e a taxa de juro de longo prazo. Se for considerada inadequada pelo mercado a inflação pode voltar e a taxa de longo prazo acompanha, a curva muda de descendente para ascendente. Inflação e taxa de juro de longo prazo descendentes demonstram política monetária correta.”

    Economista:

    “Entao o Loyola esta atras da curva em economia monetaria. A taxa de curto prazo NAO PRECISA ser maior do que a taxa de inflacao esperada. Pode ser qualquer coisa positiva. Nao existe nenhum direito natural ou constitucional a um retorno real positivo em um ativo de liquidez imediata. ”

    “[…] nao acredito que esteja correto quanto ao efeito nas taxas de longo prazo. A mais provavel resposta destas eh cair a medida que a demanda por titulos selicados se transfere para os titulos de renda fixa ou indexados a inflacao. [Alem do efeito direto nas contas publicas de uma reducao da SELIC]”

    arkx:

    a curva de juros obtida pela cotação diária da LTN (títulos públicos pré fixados) e curva resultante da cotações do mercado futuro de juros (contratos de DI) são conceitualmente diferentes.

    quanto as taxas para prazos mais longos, a curva das LTN, sendo descendente (inclinação negativa), indicam uma grave distorção no mercado financeiro brasileiro. uma operação de curto prazo remunera a uma taxa maior do que as de longo prazo. este é um dos nós a serem cortados. Economista tem plena razão que a taxa de curto prazo deveria ser a inflação (ou até pouca coisa menor).

    além disto, não devemos nos confundir com o mercado futuro de juros, cujas cotações NÃO são “previsões”, ou simples projeções, para as taxas de juros no futuro! o preço atual no mercado futuro é formado por diversos agentes e fatores, em busca de oportunidades de ganho (arbitragem) ou proteção para minimizar risco (hedge). o preço futuro não representa qualquer tipo de média do preço à vista previsto para a data de vencimento do contrato futuro. em outras palavras, a cotação no mercado futuro é distinta da expectativa para aquela cotação no futuro.

  10. Prezado Arkx,
    Novamente
    Prezado Arkx,
    Novamente respondendo por ter o meu nome citado.
    1) O texto que copiou e colou, é parte de um contexto escrito em outra parte do Blog. Foram diversos escritos (o todo é mais explicativo).
    2) Claro que a curva de juro resultante da cotação diária das LTN é diferente da taxa de juro futuro (também curva). Tanto que escrevi que a SELIC tem sido o menor custo para o TN nos últimos tempos (é a comparação dos rendimentos dos títulos selicados com os de renda fixa). Mas isto não tem nada com a teoria monetária no que tange a fixação da taxa BÁSICA (de curto prazo) tomando-se como taxa natural a de mais longo prazo (a que o mercado precifica). Claro que em épocas de crise de confiança, de expectativas negativas, a poítica monetária sozinha é impotente, exige um custo muito alpo para a sociedade (a economia monetária é apenas parte do estudo da teoria econômica).
    3) Pelos seus escritos depreendo que não é economista (o que não desmerece ninguém), mas tem conhecimentos de mercado financeiro.O economista, pelos escritos, depreende-se que é reralmente economista (o que não é garantia de estar sempre certo). Garanto que o mesmo está no mínimo repensando seus conceitos de economia monetária.
    4) A TEORIA DIZ O SEGUINTE:
    TAXA DE JURO NATURAL (DE EQUILÍBRIO OU NEUTRA) Teoricamente a taxa de juro deveria oscilar em torno da taxa de equilíbrio de longo prazo. Essa taxa, teoricamente, é aquela em que a economia atinge a sua mínima taxa de desemprego sem inflação. Evidentemente, se houver ameaça inflacionária, o BC coloca temporariamente a taxa de juros acima desse nível de equilíbrio, para fazer com que essa ameaça seja debelada. O inverso vale quando há ameaça de deflação e de recessão. Em resumo, a taxa de juros de equilíbrio de longo prazo depende de vários fatores, entre os quais: situação fiscal e endividamento público, credibilidade do BC, taxa de investimento e grau de abertura da economia, eficiência do sistema financeiro, etc.
    É assim no mundo inteiro. Para ser diferente é necessário que se reescreva a economia monetária (e que as academias aceitem).
    Já publiquei este texto no Blog várias vezes.
    Mais em;
    http://www.magconsultoria.uaivip.com.br

  11. Marco,

    obrigado pela
    Marco,

    obrigado pela resposta. a intenção principal é interagir entre várias abordagens do problema, contraponpondo as diferentes visões e propostas de solução. o formato de comentários do blog, embora não permita aprofundar e limite a dinâmica do debate, é uma oportunidade para troca de idéias e experiências. o que só é possível, repito-me, num ambiente plural. não se trata, de modo algum, de transformar o blog num chat, apenas não se limitar a comentários ligeiros que se encerram em si próprios.

    abraços

  12. Caro Nassif, bom dia.
    Caro Nassif, bom dia. Gostaria de poder saber quais os impactos da economia informal na macroeconomia brasileira. Preciso entender sobre este assunto. Você teria algum texto onde eu possa desenvolver um trabalho sobre este tema?

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