Os ajustes no mercado de álcool

Coluna Econômica

Afinal, o Brasil ainda pode aspirar ser líder no mercado global de etanol? A crise recente do produto obriga a uma série de mudanças no modelo.

Como lembra Luciano Losekann, do Instituto de Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2007 o governo divulgou estudo que mencionava a possibilidade do Brasil atender com etanol a 5% do consumo mundial de gasolina. Melhorando a tecnologia, poderia chegar a 10% em 2025, produzindo 205 bilhões de litros de etanol no país.

A crise deste ano mudou as perspectivas. Em abril, o preço do etanol hidratado e anidro nas usinas de São Paulo bateram os mais altos valores da série histórico dos últimos 10 anos. Na bolba, o etanol hidratado chegou a 40% a mais do que no mesmo período de 2010, impactando também o preço da gasolina em 15%.reço ao produtor no Estado de São Paulo

Esse movimento especulativo fez com que pela primeira vez, desde o início da era dos veículos flex em 2003, houvesse queda (de 8%) do consumo de álcool hidratado em 2010, em relação a 2009, produzindo um rebuliço no mercado de combustível. A queda no consumo de etanol provocou aumento de 17% no consumo da gasolina.

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SeguSegundo Losekann, alguns fatores conjunturais contribuíram para isso, como a crise financeira mundial e a valorização contínua do Real desestimulando os investimentos em novos projetos. Mas suas preocupações são com os fatores estruturais.

Sua análise concentrou-se nos dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e a disponibilidade de cana-de-açúcar para a produção de etanol.

Houve problemas para a safra de 2010/2011. A produção de cana cresceu 3,5% em relação à safra anterior, bastante inferior à média de 9,5% nos cinco anos anteriores.

Mas o problema central foi o desvio da produção para açúcar, estimulado pela alta das cotações internacionais. Houve alta de 7,8% na destinação de cana para a produção de açúcar, contra apenas 0,5% para etanol.

Para a próxima safra, o quadro não melhora. A última estimativa é de crescimento de 2,9% na safra de cana, de 7,7% na parcela destinada ao açúcar e de -0.9% na destinada à produção de etanol.

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Quando se introduziu o carro flex, julgava-se estar afastado o problema da segurança de abastecimento. O problema foi quando os incentivos para a produção foram carreados para usinas também flex – que poderiam arbitrar entre a produção de álcool e de açúcar.

A queda no consumo de etanol provocou a necessidade de importar 3 milhões de barris de gasolina – o Brasil praticamente tinha interrompido a importação do produto nos últimos anos.

Demorou-se para atuar sobre o percentual de mistura do álcool na gasolina – que permaneceu em 25%. Se tivesse sido reduzida com antecedência, afirma …., teria impedido a pressão altista sobre os preços.

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A decisão de colocar a ANP (Agência Nacional do Petróleo) para regular o mercado de etanol muda o quadro. Espera-se, com isso, que não mais se repitam os problema deste ano. 

Luis Nassif

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