Os americanos do etanol

Coluna Econômica – 27/04/2007

Membro da The Interamerican Ethanol Commision, ex-funcionário do Departamento de Estado norte-americano, William Perry é o homem de Jeb Bush para a Comissão do Etanol, montada para azeitar as relações entre empresários brasileiros e norte-americanos ligados ao tema.

Perry foi conselheiro sênior latino-americanista do Partido Republicano, servindo em tempo parcial ao governo. Serviu ao Conselho de Segurança Nacional e ao Comitê de Relações Exteriores do Senado. Há décadas é considerado o mais importante brazilianista do partido.

Em setembro de 2002, quando ficou claro que Lula iria vencer as eleições, coube a ele os primeiros movimentos de aproximação com o novo governo. Em novembro esteve na Granja do Torto com o sub-secretário Otto Reich, com o Chafe de Planificação Política para América Latina e o encarregado do Brasil no Departamento de Estado. Do outro lado, Lula, Antonio Palocci, José Dirceu e o senador Aluizio Mercadante.

No início se estranharam um pouco pela falta de familiaridade do PT com partidos estrangeiros, ainda mais o Partido Republicano. Ao contrário do PSDB de Fernando Henrique Cardoso, muito ligado ao Partido Democrata e ao ex-presidente Bill Clinton.

Mas pintou afinidade rapidamente, ao contrário do governo argentino de Nestor Kirschner, com o qual não logaram aproximação.

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Em dezembro, coube a Perry e a Reich organizarem a visita de Lula a Washington. Foi um sucesso diplomático de lado a lado, porque não é usual visitas antes da posse, nem visitas seis meses depois da posse, como ocorreu com Lula.

Em vista disso, o Departamento de Estado adotou uma política clara em relação ao Brasil: colaboração com o que houver concordância; não atrapalhar o que não concordam.

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O tema energia surgiu no PR ainda na campanha de 2000, estimulado pelo próprio Perry, que queria somar fatos novos à Nafta, que era a grande estrela da política externa desde 1990. Mas na época não se deu o sentido de urgência, mesmo porque o preço do petróleo estava em apenas 22 dólares o barril.

Agora, o tema pegou de vez, no embalo do relatório de mudanças climáticas. Como um americano pragmático, Perry não acredita muito na hipótese de que a mão do homem vai mudar o planeta. Acha que a atual onde de calor é apenas conseqüência da entrada do mundo em uma nova era, de temperaturas mais elevadas. O homem pode apenas contribuir um pouco mais para o processo. Mesmo assim, a humanidade tem enorme poder de auto-correção. É só conferir o índice de poluição das grandes metrópoles nos anos 70 e hoje.

O grande papel da Comissão será, além de aproximar empresários dos dois países, atuar como lobbista junto ao Congresso e à opinião pública americana. No Senado há a atuação muito drástica dos representantes de estados produtores de milho, como o Yowa.

O desafio será aumentar a mistura de álcool na gasolina. Aumentando, se verá que o milho americano não dará conta do recado. E que o seu uso indiscriminado provocará distorções na cadeia do milho e do frango. Nesse momento, as grandes empresas americanas, fundamentalmente a Cargill e a ADM são darão conta de que o melhor será abrir o mercado.

Para incluir na lista Coluna Econômica

Luis Nassif

10 Comentários

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  1. Nassif,

    Leonardo Boff, em
    Nassif,

    Leonardo Boff, em interessante artigo “Em Busca da Arca de Noé (Carta Maior 25/04), lança questionamentos profundos sobre a febre atual de “biocombustíveis”.
    Ao buscarmos responder suas perguntas, podemos ter como resposta a explicação do atual retorno ao armamento mundial e à divisão ocidente/oriente que se vislumbra.
    Esta visão, pode explicar o interesse atual no Brasil, de forma muito mais profunda que “biocombustíveis ou escorregadelas com Chaves e outros.

  2. O que o governo
    O que o governo norte-americano está fazendo ao encarregar o negociador William Perry, de manter um contato constante com o governo e o empresariado brasileiro,é a certeza que nos parece,de que eles,mais do que nós,precisam encontrar um substituto para o petróleo que está em extinção,ou que depende muito do bom humor dos maiores produtores.E como todos sabem,aqui temoos todas as condições,climáticas e salutares,para expandir nossa produção e comercialização destes substitutos do petróleo,daí a sua indicação e a colocação de todo o potencial financeiro dos norte- americanos,neste projeto.Cabe-nos negociar sem perdermos nossa identidade cultural,e sem deixar que os parceiros tenham ingerencia nas nossas decisões soberanas.

  3. Hilson, pode ser um jogo de
    Hilson, pode ser um jogo de ganha-ganha, dependendo da competência dos nossos jogadores. De qualquer modo, é apenas um Conselho, sem nada de oficial.

  4. Caro Mouro

    A taxa de juros
    Caro Mouro

    A taxa de juros mais baixa dos últimos 13 anos para pessoa física é de 53,4%.
    A do cheque especial, de 140,8%. Isso mesmo!
    A do crédito consignado para aposentados e funcionários públicos, 32,4%.
    A das pessoas físicas, 49,9%.
    E a das pessoas jurídicas, 25,4%.

    E a Inflação 3%.

    O que Tu achas do Copon ?

  5. Frank, confusão minha. É
    Frank, confusão minha. É William Perry mesmo, e não William Miller, que é um jornalista americano que também é especialista em etanol. Já corrigi. Obrigado.

  6. Bom, acho que golpe não é o
    Bom, acho que golpe não é o nome adequado para o tipo de relação que Brasil e EUA mantiveram historicamente. O que houve (e que se precisa corrigir) é a capacidade de negociação do governo brasileiro. Se o governo brasileiro não negociar bem seus acordos, vai sobrar para nós. Depois alguns vão culpar a política “Imperialista Americana”.

  7. Não sei o que o menino
    Não sei o que o menino prometeu, mas certamente foi convincente: qdo deu o sinal verde todo mundo saiu a investir que nem loucos! Fiquei assustado à época…
    Ruben

  8. Eu tenho acompanhado de perto
    Eu tenho acompanhado de perto a evolução dessas negociações sobre o etanol brasileiro, principalmente quando o assunto é a exportação para os Estados Unidos.
    Morando aquí (EUA) a quase sete anos, eu posso dizer que entendo um pouco da cultura e política desse país. Eu sei que existe no Brasil uma grande esperança na realização de negócios nessa área, o que traria um desenvolvimento financeiro ao Brasil. Mas eu posso dizer com certeza que a eliminação do imposto ou a mesmo a sua redução sobre o etanol brasileiro infelizmente NÃO vai acontecer. Não contem com isso, mesmo!
    E o motivo é bem simples, existem estados inteiros nos EUA que não só dependem do milho para sobreviver, mas que também vêem na produção do etanol uma ótima oportunidade para sí próprios. Porque eles dariam pro Brasil?
    Além disso esses estados são fortíssimos politicamente, eles retêm e vão continuar possuindo a maioria do congresso americano por anos a fio.
    Entendam uma coisa sobre o povo americano, eles são linha dura. Eles não dão o braço a torcer. O mundo pode se consumir em chamas, eles não vão tirar os seus subsídios. Isso é certo.
    Apesar disso, é bom que o governo brasileiro e indústria tentem uma aproximação, já que isso pode trazer outras soluções para essa situação, ou mesmo o desenvolvimento em outras áreas de comércio.
    O Brasil sabe hoje que é o dinheiro que vem de fora que enriquece o país. Mas a verdade é que nós precisamos produzir produtos que se sobressaiam a outros pelo mundo, que chamem a atenção, como o próprio etanol.
    Só assim ao invés de ter que empurrar com todo força para que alguém compre a qualquer preço os nossos produtos, outras culturas é que virão ao Brasil busca-los.

    É óbvio que a criatividade do brasileiro esbarra na dificuldade de se conseguir linha de crédito, e mesmo que consiga, é duro de lidar os juros agiotários cobrados no país.

  9. Parece que ninguem tocou no
    Parece que ninguem tocou no ponto essencial. Os EUA estao preocupados com a influencia do Chavez na America Central, quee dependente de importacoes de petroleo. Portanto, eh do interesse nacional americano que o Brasil e o etanol sejam uma alternativa de lideranca e combustivel para aquela regiao, e para isso vao ajudar o financiamento de usinas etc

    Para o Brasil, e uma oportunidade de importar bens de capital, e de aumentar sua esfera de influencia.

    Para os EUA, eh pimenta nos olhos do Chavez.

  10. A ULTIMA VEZ QUE DOIS
    A ULTIMA VEZ QUE DOIS YANKES
    ESTIVERAM DANDO CARTADAS
    POR AQUI ,,,VOCES SABEM O
    QUE ACONTECEU!!!!
    ME REFIRO A UM EMBAIXADOR CINICO, PERFIDO E MENTIROSO,
    QUE A QUESTAO DE UM MES ATRAZ,,,
    VOLTOU A DESTILAR PELA IMPRENSA DE LAH AS
    SUAS MENTIRAS SOBRE AQUELA EPOCA,,, EM NOSSO PAIS!!!
    O OUTRO EH AQUELE BUROCRATA
    MILITAR DELES ,,,QUE ERA CONHECIDO COMO O
    CARA QUE POR ONDE PASSAVA
    NAO NASCIA MAIS GRAMA !!!
    OLHO VIVO NAO FAZ MAL A NINGUEM.!!!!
    DE FLIBUSTERIA ESSES PELINTRAS OU SE QUISEREM PILANTRAS SAO MESTRES!!!!

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