Os desequilíbrios do câmbio

As quatro maiores e o desequilíbrio do câmbio:

Da Agência Estado

Desequilíbrios no câmbio são obstáculo para política econômica, diz colunista

Para Michael Casey, da ‘Dow Jones’, desequilíbrios entre moedas representam problema estrutural nas quatro maiores economias do mundo

Renato Martins, da Agência Estado  

NOVA YORK – Desequilíbrios no câmbio, em gastos e em taxas de poupança estão por trás dos desempenhos díspares das quatro maiores economias do mundo, escreve o colunista Michael Casey, da Dow Jones. Para ele, os desequilíbrios entre moedas representam um problema estrutural e um obstáculo sério à formulação eficaz de políticas.

No Japão, o PIB cresceu à taxa anualizada de apenas 0,4% no segundo trimestre. O desempenho fraco da economia aconteceu em meio a uma desaceleração das exportações japonesas, que acompanhou uma valorização do iene de 6,5% frente ao dólar e de 13,5% em relação ao euro. O que quer dizer que as exportações não foram suficientes para absorver o excesso de capacidade, diante de um consumidor japonês eternamente avesso a gastar.

NosENos EUA, a estimativa preliminar de crescimento anualizado do PIB no segundo trimestre ficou em 2,4% – o que deverá ser revisado para a casa do 1,5%, quando forem computados os dados da balança comercial de junho.

Na Alemanha, o euro fraco impulsionou o crescimento das exportações, de modo a gerar uma taxa de crescimento anualizada de 9% para o PIB no segundo trimestre; é o crescimento mais forte desde a reunificação alemã, em 1990. E esse resultado saiu no mesmo trimestre em que a crise do euro tomava corpo.

A China, por sua vez, chegou às manchetes nesta segunda-feira ao ultrapassar oficialmente o Japão como a segunda maior economia do mundo; Seu crescimento, à taxa anualizada de 10,3% no segundo trimestre, aconteceu enquanto sua moeda, o yuan, segue severamente subvalorizada frente ao dólar, tendo caído 6,2% frente ao iene naquele período.

Num período de pressões deflacionárias, turbulência financeira e políticas econômicas conflitantes, os desequilíbrios cambiais se tornam ainda mais importantes. De maneiras diferentes, cada uma dessas quatro grandes economias sofre com debilidades no consumo doméstico. Nos EUA e no Japão, a demanda dos consumidores é fraca. Na Alemanha e na China, países com taxas de poupança mais elevadas, o papel dos consumidores na economia é menor – especialmente na China, onde o consumo responde por apenas 36% do PIB.

Nessas circunstâncias, as exportações ganham importância ainda maior; elas ajudam a sustentar o crescimento quando a demanda doméstica deixa a desejar. Mas, quando os mercados domésticos de todos os países são fracos, a única maneira de conseguir isso é tomar fatias de mercado dos produtores locais dos outros países. E a depreciação da moeda é a maneira mais rápida de fazê-lo.

Num “mundo perfeito” de moedas com flutuação livre, essas oportunidades desapareceriam rapidamente, à medida que as taxas de câmbio se ajustassem para refletir os fundamentos econômicos. Mas quatro fatores de distorção estão impedindo que isso aconteça e mantendo as taxas de câmbio eternamente em condições subvalorizadas e sobre valorizadas, conforme o caso.

Um deles é o papel do iene, moeda de baixo retorno, como moeda de financiamento – o que se relaciona com o segundo fator, o estresse financeiro. Quando a turbulência atinge os mercados mundiais, como aconteceu durante a crise do euro, no trimestre abril/junho, os investidores correm para o “refúgio seguro” do iene, apesar das taxas de retorno próximas de zero e da elevada dívida do governo do Japão.

Um terceiro fator ajuda o dólar a ter boa demanda, apesar da debilidade da economia dos EUA: seu status como moeda de reserva mundial. Isso é reforçado pelo quarto fator de distorção, a política da China de atrelar sua moeda ao dólar, o que gera um excesso de dólares e a necessidade de reinvesti-los em ativos norte-americanos.

No momento, não há muito que possa ser feito para corrigir as três primeiras distorções, mas a quarta poderia e deveria ser mudada. A China precisa fazer muito mais para valorizar o yuan da forma apropriada. Com o dólar voltando a se fortalecer diante do euro e o iene nas máximas dos últimos 15 anos, um mundo em desequilíbrio não pode se dar ao luxo de permitir que essa distorção perdure por muito mais tempo.As informações são da Dow Jones.

Luis Nassif

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