Os pioneiros da Eletrobrás

Arnaldo Carrilho, testemunha ocular da história

Sempre caro Luis,

não fosse Jesus Soares Pereira, nem Eletrobrás teríamos tido, você sabe. Mas a “linguagem” daquele grande brasileiro, assim como a de Ignacio Mourão Rangel, Domar Campos e outros era destinada a um Brasil que não mais existe. Neste mundo doido da mutação antropológica que o neo-capitalismo globalizante homologou em toda parte, em nome do consumo dirigido, as ondas oligomonopolizadoras impedem a superação de obstáculos. Já inundam o mercado, fadando-o a perdê-lo na incompetitividade, logo, ressecando-o e tornando-o mero antro de especulações.

Esses pontos em que você toca, brilhante e corajosamente como sempre, das majorações de PIS-COFINS e do criptocâmbio, unidos à campanha anti-hidreletricidade são absurdos. Num País de múltiplos gravames, sem moeda de fato conversível e rico em águas como o nosso, só podem ser enfrentados se as decisões técnicas e tenológicas não pertencerem a apenas grupos decisionais. Há que se criar uma “consciência multitudinária” sobre os dirigentes das instituições.

Os executivos não deveriam traçar políticas, mas “executá-las”; as instituições, controladas por todos, teriam de perder ares demiúrgicos sobre os interesses do PÚBLICO e COMUM; e a democracia não poderia ficar nas mãos de lideranças impostas ao Povo e, sim, nascidas espontânea e naturalmente. Cada palavra que exponho, no momento, foi pesada e sopesada para o que lhe digo, pode crer.

P.S.: não são, em geral, as hidrelétricas que destroem o meio ambiente. São o modo de produção e a exploração adotada em regiões e áreas que deveriam ser preservadas, como fontes da própria energia também. Uma hidrelétrica bem projetada até ajuda a defesa ecológica. Lembremos da “seca” amazônica de dois anos atrás, devida a reduzidíssimos níveis de pluviosidade.

Quanto à Política, vejam-se as Rússias, ex-soviéticas, dilapidadas pelo capitalismo de Estado até a sua queda, ridícula, porém necessária. Lá também faltava “mercado”. Faltavam o comum e o público democráticos em essência. Não há socialismo, sem democracia, e esta não surge do nada: tem de ser “construída” pela Multidão.

Luis Nassif

9 Comentários

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  1. Perfeito…
    gostaria de
    Perfeito…
    gostaria de acrescentar que a construção de relações sociais que permite o nascimento de lideranças éticas está mutilado pelo modo de vida (nas grandes capitais)…
    O contato entre cidadãos que permite gerar debate e dialética construção de lideranças está morto.
    Talvez minha geração (tenho 33) vai herdar um caus em que deverá se restaurar uma linha econômica interventiva, visto que no modelo liberal ortodoxo o Homo Sapiens Sapiens caminha para auto destruição…

  2. Prezado Nassif, uma coisa é a
    Prezado Nassif, uma coisa é a super taxação que a produção de energia sofre nesse país, como em todo o sistema produtivo, haja carga tributária! Outra coisa é a atual chantagem do setor (MNE, empreiteiras, mineradoras, etc) que se não construir as hidrelétricas no rio Madeira vamos caminhar para o caos, termoelétricas poluidoras, etc e tal. Essa visão chantagista é lamentável. Existem outras alternativas, como as centrais nucleares, co-geração, eólica, entre outras, que podem viabilizar o crescimento do país. Pergunto: porque não concentrar os esforços nas hidrelétricas no rio Tocantins, que é um rio de planalto, com baixa carga de sedimentos, já sofreu vários barramentos e tem uma produtividade biológica menor em relação ao rios do sistema amazônico, entre outros argumentos. O problema com as hidrelétricas do rio madeira é seu impacto desastroso a jusante. Diminuição da turbidez a jusante como citado no RIMA como impacto positivo. Uma estupidez! O desastre anunciado se deve a retenção da carga de sedimentos (50% do sistema Amazônico) que enriquece e sustenta a produtividade primária, e conseqüentemente a produção de proteína (pescado) e a agricultura das populações ribeirinhas que vivem nas várzeas e nas periferias das cidades. Para vc ter uma idéia a população marginalizada de Manaus teria desnutrição e fome se acabasse como o milagre dos peixes (Jesus já dizia e tinha razão), com destaque o Jaraquis do rio negro que são vendidos por “cambada” na periferia de Manaus.

  3. Nassif a Amazônia é uma
    Nassif a Amazônia é uma grande planicie diferente de São Paulo onde foi construido no Rio Tietê, várias pequenas usinas sem grandes alagamentos e impacto visual. Mas hoje não é possivel ver ou pescar peixes de minha infância: Lambaris, Piaus e Dourados, hoje temos Corvinas, Porquinho, Zóiudo e Tucunarés. Isto não faz nehum mal para economia, pelo contrario atrai turistas pescadores.
    O equilibrio vai sendo modificado e muito e a resposta da natureza pode ser uma surpresa nada agradavel.
    O Brasil tem o dever de investir no aumento de fontes de energia urgente, e nicho competente existe, mas falta a sempre vontade politica ( a velha lei de Gerson).
    Os norte americanos não utilizam suas reservas energéticas estratégicas importam o máximo.
    O Brasil continua vendendo materia prima e importando manufaturados, pagando serviços e patentes.
    Porque o Governo não utiliza os serviços e produtos de suas Universidades ( Linux, Open Office, etc…)

  4. Para as novas gerações
    Para as novas gerações perceberem a importância da ação dessa velha guarda no serviço da nação brasileira, basta constatar que temos hoje um dos maiores parques energéticos do mundo em bases renováveis.

  5. Nassif, veja: num país de uma
    Nassif, veja: num país de uma tradição na hidreletricidade como é o Brasil, como é que não conseguimos parâmetros mínimos que sustentem um licenciamento ambiental? Em algum lugar do passado se perdeu essa veia tecnológica, ou espírito tecnológico dentro do setor. Por nenhum estudo de impacto é possível botar a mão no fogo. Não há uma referência sequer que sustente discussões. Cadê a EPE?

  6. Precisa escrever um texto
    Precisa escrever um texto como se fosse advogado p/, no final, concluir, que as hidrelétricas podem ser benéficas sem impactar o meio ambiente??

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