“Se a política fiscal permitir, os juros vão cair”

Do Valor Econômico

Para Dilma, juro baixo depende de ajuste

Cristiano Romero
De Brasília 

A decisão de aumentar o superávit primário das contas públicas este ano partiu de uma convicção da presidente Dilma Rousseff, revelada em conversas que ela vem tendo com economistas de dentro e fora do governo nas últimas semanas. Nessas conversas, Dilma tem afirmado que, “se a política fiscal permitir, os juros vão cair”.

Trata-se de uma visão nova do governo sobre a relação entre as políticas fiscal e monetária, em que a definição da segunda depende em grande medida do desempenho da primeira. Por esse raciocínio, para que o Banco Central (BC) possa baixar a taxa de juros (Selic), o governo tem que contribuir para a redução da demanda agregada da economia, contendo gastos públicos.

Na nova fase da gestão econômica, não deve haver dúvida: o Copom do BC baixará os juros quando a conjuntura permitir. A presidente afinou o discurso de sua equipe. “Reina a paz na equipe econômica, como há muito não ocorria”, assegurou uma fonte.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, soube da disposição do governo em reforçar o superávit primário há pouco menos de duas semanas, numa reunião no Palácio do Planalto, à qual foi convocado pela presidente fora da agenda. Aliás, é raro o presidente do BC ir ao palácio para reuniões previamente agendadas. Os encontros são sempre reservados. Dilma gosta de ouvi-lo.

A presidente respeita a autonomia do BC e não obrigaria Tombini a baixar os juros a qualquer preço. Dilma tem confiança no presidente do BC, porque compartilha com ele opiniões sobre o funcionamento da economia, ao contrário da experiência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, mesmo dando relativa autonomia ao BC, nutria desconfianças, criticava suas decisões e o pressionava a agir de forma diferente.

Dilma definiu a nova agenda fiscal com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que está cada vez mais próxima dela. A agenda, cujo objetivo principal é criar condições para o BC reduzir a taxa Selic, vai além de 2011. A ideia é gerar superávits primários anuais, em torno de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), até 2014. A presidente e sua equipe acreditam que, se fizer isso, o governo conseguirá zerar o déficit público em 2014 ou, no mais tardar, em 2015.

O acerto de Dilma com Mantega foi importante, porque o ministro comandou, na gestão anterior, o expansionismo da política fiscal. Mantega é, agora, o primeiro a defender a austeridade. Ele fez isso na reunião convocada por Dilma, há três semanas, para avaliar o impacto, no Brasil, do recrudescimento da crise financeira mundial.

O ministro da Fazenda é, hoje, o único ministro do governo autorizado a falar em nome da presidente Dilma. “Ele mudou de patamar”, diz uma fonte. Fala várias vezes por dia com a presidente, está totalmente afinado com ela e mudou, inclusive, atesta-se dentro do governo, a sua comunicação com a sociedade. A razão é que, agora, ele não verbaliza nada que não tenha sido acertado com a chefe.

No começo da gestão Dilma, a presença de Antônio Palocci na Casa Civil representava um contraponto ao ministro da Fazenda. Num dado momento, Mantega chegou a atribuir a Palocci movimento nos bastidores para desgastá-lo no cargo. O ministro da Fazenda também temia possível aproximação de Tombini com Palocci.

Curiosamente, Palocci deixou o governo em junho, desgastado por suspeita de enriquecimento injustificado, Mantega ganhou força internamente, mas, agora, estão prevalecendo na gestão da economia ideias defendidas pelo ex-ministro da Casa Civil. Palocci, desde a campanha eleitoral, propunha a adoção de medidas fiscais fortes para facilitar o combate à inflação e a redução da taxa Selic.

Além de Mantega e Tombini, a presidente Dilma tem ouvido, com frequência, um seleto grupo de pessoas. São elas: o ex-ministro Delfim Netto, os professores Luiz Gonzaga Belluzzo e João Manuel Cardoso de Mello, o empresário Jorge Gerdau e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

Luis Nassif

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