“Lula tem direito de falar sobre meta fiscal, muito mais que a Folha”, diz Monica de Bolle ao GGN

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Economista Monica de Bolle rebate a fábula do discurso em torno da meta fiscal em entrevista a Luís Nassif. Assista à íntegra

Ricardo Stuckert – PR

Os discursos nacionais, em especial da imprensa, sobre a fatídica meta fiscal foi tema de bate-papo entre a economista e pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics, Monica de Bolle, e o jornalista Luís Nassif, no programa TVGGN 20 Horas, exibindo na noite desta segunda-feira (7), no Youtube. [Assista a íntegra abaixo]. 

Há um descolamento abissal do Brasil em relação ao resto do mundo, o que não é uma surpresa, mas o grau de fixação dos economistas no Brasil é assombroso. Como que as pessoas têm apenas um assunto com tanta coisa acontecendo ao nosso redor, com tantos temas para se analisar, principalmente como os temas internacionais podem podem vir afetar o Brasil? E o pessoal fica nessa fixação com a tal da meta fiscal, que – aliás – todo mundo esquece de dizer que nem meta”, declarou a economista. 

O tal do déficit zero para 2024 por enquanto é apenas uma intenção, ele não é uma meta, não foi fixado, não foi aprovado pelo Congresso. Eu cheguei a ver gente dizendo que o Lula estava falando em descumprir a meta. Como é possível descumprir uma meta que não é meta? É um grau de dissociação existente difícil de explicar”, acrescentou. 

De Bolle e Nassif chamaram ainda a atenção sobre o papel da mídia no endurecimento desse discurso recheado de críticas aos atores da política econômica quando se manifestam publicamente sobre o tema. “Lula é o presidente do país e pode dizer o que ele quiser sobre a meta fiscal. E  o que vai mudar a realidade do país se for 0,25%? Isso não muda nada e Lula tem todo o direito de falar sobre a meta fiscal ele foi eleito para falar e, inclusive,  tem muito mais direito que a Folha [de S. Paulo],  porque ele tem o respaldo dos eleitores”, declarou a especialista.  

 “Não à toa nos três principais jornais do país, O Globo, Estadão e a Folha de S. Paulo, as linhas editoriais são as mesmas, os colunistas são mais ou menos os mesmos, assim como as pessoas ouvidas e entrevistadas. É um discurso completamente uníssono. A imprensa controla quem quer ouvir e, ao controlar quem quer ouvir, controla quem é ouvido. Não há  variedade de opiniões ou opiniões divergentes, não é à toa que a gente tá nessa história de meta fiscal e déficit zero”, pontuou.

Os impactos da economia mundial

Em meio a esse embate nacional pouco proveitoso, a economista citou alguns possíveis cenários previstos para economia global que devem afetar, consequentemente, o Brasil. 

Na semana passada, no mesmo dia que teve decisão do COPOM no Brasil, teve a decisão de juros do FED [Federal Reserve Board], e o Banco Central americano destacou precisamente os riscos que estão no cenário internacional, inclusive os riscos que estão rodeando a própria economia americana”, explicou a pesquisadora, que hoje vive nos EUA.

Embora a inflação aqui tenha acedido, ela continua bem acima dos 2% anuais de meta do FED, que decidiu dar uma parada na elevação dos juros e esperar, por que existe uma uma preocupação grande com esse grau de incerteza elevado que tá marcando várias das análises, inclusive de dentro do próprio Banco Central americano”, continuou.

De Bolle citou alguns desses riscos. “O primeiro deles é que a economia americana deu uma escorregada e em 2024 talvez não consiga ter a sustentação que vem mantendo. Quer dizer, o Banco Central americano aumentou os juros bastante rápido (os juros longos, como a gente chama os juros de 10 anos) e nos mercados internacionais a curva de juros empinou nessas últimas semanas, o que provoca um encarecimento do crédito de um modo geral. Há uma preocupação com um desaquecimento mais forte da economia americana no ano que vem, inclusive existe risco de recessão. Há uma incerteza no ar, mas de todo modo é uma incerteza que indica um possível cenário ruim nos Estados Unidos”, apontou. 

Mas os desafios não param por aí. “Já o outro pilar de sustentação da economia mundial é a China, que também vem dando sinais muito ambíguos e difíceis de interpretar. Há alguns sinais de exaustão e tem vários temas complicados por lá, como o mercado imobiliário e uma série de outros problemas internos. Existe um risco da economia chinesa em 2024 dar uma uma boa desacelerada o que impacta o mundo inteiro e, evidentemente, impacta a América Latina muito dependente hoje da China e, lógico, impacta o Brasil”, afirmou de Bolle. 

E aí tem as guerras. De um lado a guerra Rússia-Ucrânia e agora o conflito no Oriente Médio, que é um conflito extremamente complexo e pode acabar envolvendo uma parte ainda maior da região, levando a uma alta nos preços do petróleo ou preços de energia, alta de preços mais generalizada. Portanto, a uma situação em que você tem partes da economia, Estados Unidos e China desacelerando, mas com pressões inflacionárias vindas de outros cantos e de outros problemas. É um cenário de extrema complexidade”, destacou a pesquisadora.  

Nesse cenário em que a economia mundial está parando de crescer e ao mesmo tempo a inflação voltando a subir, por conta da combinação desses desses fatores todos que eu mencionei, isso afeta o Brasil pela via do câmbio e afeta também pela via direta. Nesse contexto, estar amarrado a uma meta de déficit extremamente rígida não é recomendável, porque é preciso ter uma margem de flexibilidade para poder reagir caso o cenário seja danoso de qualquer natureza pro Brasil”, completou.

Assista a entrevista na íntegra:

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

1 Comentário

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  1. O objetivo da nossa imprensa livre de isenção é gerar futrica para desgastar o governo que eles não gostam, para os especuladores o importante é fazer marola para melhorar os ganhos com a especulação e para o BCB é apontar a lámina da guilhotina dos juros altos e assim continuar implementando o seu programa de transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos. A propósito você contrataria um centroavante de futebol altamente especializado e que durante toda a sua carreira, nunca fez gol? Pois bem, o BCB durante 23 anos do regime de metas, nunca acertou o centro da meta, mas cobra o rigor no cumprimento da meta fiscal pelo governo. Haja hipocrisia!

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