Weber e a reforma do Estado

Enviado por: rubens goyatá campan

Nassif,

No início do século XX, Max Weber, comentando a respeito do Partido Social Democrata, uma das maiores forças políticas de esquerda da época, disse: “eles pensam que vão conquistar o Estado alemão e mudá-lo a partir de dentro, mas, uma vez que estejam no poder, é o Estado alemão que vai mudá-los”.

Essa análise de Weber fazia parte de uma ótica profundamente pessimista (ou realista) que ele tinha sobre a questão política alemã – o principal problema de sua nação era político, ele achava.

O mesmo vale para o Brasil: nosso principal problema é político: é esse padrão de Estado, particularista, não-transparente e tendencialmente corrupto, foi construído ao longo da nossa história. Mais que uma reforma política, uma reforma do Estado – que o torne mais eficiente em sentido público – é o nó górdio do Brasil. Mas duvido que esse nó será desatado.

Luis Nassif

17 Comentários

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  1. Deixa de ser pessimista!!!
    Deixa de ser pessimista!!! Claro que esse nó VAI ser desatado, simplesmente porque TEM que ser desatado, por uma questão de (nossa) sobrevivência.

  2. O primeiro passo está sendo
    O primeiro passo está sendo dado. Antes não se reconhecia o “nó górdio”, hoje sim. Um nó é um nó. Um pato não é galinha. Um cão não é um gato. Um leão não é um rato.
    Começa assim: primeiro ver aquilo que não se via. Depois vem o susto. Puxa como é feio!Puxa como é grande! Do jeito que é ou que está. Sem embromação. Parece simples não confundir um cão com um gato. Mas não foi até agora. Por exemplo, diziam “crescer o bolo e depois distribuir”. Que é isso!? É só um exemplo do nó górdio, gente…que causou outros nós górdios…que…e assim vai.

  3. Caros Nassif, Rubens,
    Caros Nassif, Rubens, leitores,

    Vejam a convergência de visão de um outro pensador:

    “Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso, não conhece a natureza humana”.

    Mikhail Bakunin (1.814-1.876) – anarquista russo, contestando os marxistas.

    A questão é difícil, quase desanimadora, trabalho de Sísifo.

    Abraços

  4. É uma boa discussão. Acho que
    É uma boa discussão. Acho que o pessimismo de Weber é com a submissão da política ao “poder” da burocracia, que retira da política sua capacidade de transformação (carisma). No caso brasileiro, a reforma política ou a redução da prerrogativa dos parlamentares de inteferir no orçamento vão no sentido justamente dessa destruição de capacidade.

  5. Há uma unica solução: Menos
    Há uma unica solução: Menos estado mais Nação. Nos ultimos anos foram criadas as agencias reguladoras, mais nenhum ministerio foi extinto, pelo contrario temos 35. Agora é o Instituto Chico Mendes, é engraçado se discute sobre ele, mais ninguem diz quanto vai custar, e se esse orçamento vai sair do Ministerio de Meio Ambiente ou vai precisar novas partidas de gasto público.

  6. Caro Nassif
    O atual Estado
    Caro Nassif
    O atual Estado ainda é fruto do mesmo dos anos 500, o que é ingênuo e não afeta o capital, pode ser mudado, porém, o que afeta o capital, eles saem das tocas e avançam de forma vampiresca, para exterminar, não deixar pedra sobre pedra. Considerando a conjuntura, mudanças radicais somente com organização radical, mudar o Estado radicalmente, depende do conjunto de forças organizadas.
    No momento eu vejo uma classe trabalhadora, ainda desativada, fruto da década de 80 e 90, tirando dai o período militar, e uma classe patronal, bem articulada, um governo petista que abandonou muito de suas propostas, para se unir a setores do capital. Portanto, mudanças, só ingênuas mesmo.
    Como por exemplo, uma escola para todos, porém, sem conteúdo.
    PT saudações

  7. O poder muda as pessoas.
    Quem
    O poder muda as pessoas.
    Quem viu o Lula a alguns anos atrás não o reconhece nos dias de hoje.
    Os ideais são postos de lado para o “bem” da nação.

  8. Nassif e demais
    Nassif e demais debatedores.
    Ser jovem não é problema, o problema é reconhecer que não se está preparado totalmente para a função que se desempenha.
    Começo o meu comentário desta forma, pois acho que estamos no meio de uma crise de juventude (e inexperiência) no setor de licenciamento ambiental. Estamos na primeira geração de técnicos tanto da parte do setor que elabora os estudos quanto da parte dos que analisam, devido a esta juventude é que temos problemas.
    Nos últimos vinte anos saímos da visão “Green Peace” (visão romântica e apaixonada) do problema ambiental e estamos passando para a fase técnico-científica. Muitos poderão dizer que já temos, tanto no setor privado como no setor público, técnicos de alto nível com graduação, mestrado e doutorado na área de gestão ambiental, essas pessoas não estarão mentindo, formamos, tanto em nossas Universidades como no exterior, técnicos capazes e qualificados para a fiscalização e gestão do meio ambiente, mas precisamos passar para a nova fase, a da maturidade.
    Todos os setores da atividade industrial, inclusive o setor de informática, já estão numa segunda ou terceira geração de técnicos atingindo um bom grau de maturidade. E quando se atinge esta maturidade? Simples, a maturidade de um setor só se atinge com o tempo e antes disto penamos com a inexperiência e falta de profissionalismo que setores jovens possuem.
    Sou professor de uma escola que forma Engenheiros Ambientais, participo inclusive da Comissão de Graduação da mesma. Nesta participação falando com técnicos da área, (Engenheiros, Biólogos, Geólogos e outros), tanto do setor público como do privado, vejo que uma série de coisas ainda não resolvidas.
    Os conceitos básicos que norteiam uma ciência são como dogmas de fé de uma religião, se não são perfeitamente estabelecidos ela não vai para frente. Na parte ambiental estamos neste ponto, à visão que tem um Engenheiro muitas vezes não é compatível com a visão que tem um Biólogo. Um químico ao analisar o grau de poluição de uma determinada substância no meio ambiente se concentrará em medidas pontuais, interessando-se mais na concentração desta do que qualquer outra coisa, um Engenheiro ao analisar a mesma coisa estará mais preocupado no fluxo de massa da substância do na concentração pontual. As duas visões que podem parecem antagônicas, na realidade são complementares, e enquanto não forem definidos com clareza os postulados básicos para a avaliação do impacto dessa de quaisquer ações do homem na natureza ficaremos sem padrões de comparação de diversas visões.
    Outra grande dificuldade está na própria formação dos técnicos não havendo um consenso sobre o currículo mínimo que deve ter um técnico na área. Se olharmos os programas de formação de Engenheiros Ambientais se vê que há grande variabilidade na formação básica desses profissionais, não se está falando da formação específica, que é e deve ser variada.
    Muitos acham que um técnico se qualifica para uma área de conflito, como a área ambiental, simplesmente pela formação acadêmica, e como acadêmico posso dizer que isto é um grande erro. A formação nos bancos escolares é imprescindível, mas esta não ensinará a gerenciar conflitos, esta gerência só será alcançada com o tempo e com os próprios conflitos.
    Esperar profissionais, graduados, mestrados e doutorados numa área técnica, consigam transcender seu conhecimento e administrar conflitos é esperar muito. Conhecer o problema é fácil, o difícil é saber qual das milhares de soluções tecnicamente viáveis que é a melhor. Um problema técnico não tem uma só solução e quando se está pressionado pelo tempo e por outras pessoas fica ainda mais difícil.
    Vejam o problema das Usinas hidrelétricas, se não aceitas serão substituídas por termoelétricas (nucleares ou a carvão), fica-se num imenso, se corre o bicho pega, se fica o bicho come.
    Daqui a vinte anos, quando as pessoas responsáveis por elaborar os projetos e os outros por fiscalizá-los tiverem maturidade suficiente para gerir os conflitos teremos rápidas e boas soluções, até lá ficamos com o que temos.

  9. A diferença entre o
    A diferença entre o pessimismo de Weber (guru do PSBD) e Bakunin está na proposta. Enquanto o primeiro militou em partidos muito conservadores, Bakunin propôs a descentralização do poder, mas não na forma dos neo-weberianos, em que o Estado deve ser reduzido e passar o poder para os conglomerados econômicos. Acho que a proposta da transparência é fundamental. Como diz o Cláudio, também Weber, mas Abramo, o problema não é moral, mas técnico, de desenvolvimento de mecanismos que impeçam (se isto é possível) a corrupção, porque os corruptores são protegidos neste país, e agora, com as ações da PF, estão começando a reagir. É só ver a entrevista do advogado de um dos presos na Operação Navalha, reclamando que seu cliente (parece que é um procurador do Maranhão) está recebe ndo o mesmo tratamento de “pobres, pretos e putas”. O problema do país é a elite, que submete qualquer governo que tome posse.

  10. Essa história de que é Estado
    Essa história de que é Estado que é o lugar da corrupção é mais um daqueles mitos que servem a “bons propósitos”: o mito neoliberal que tudo se resolve diminuindo o tamanho do Estado.

    Esses esquecem que a Gautama é uma empresa de iniciativa privada. E seu espírito corruptor irá agir com Estado grande ou pequeno, na escala federal, estadual ou municipal, executivo, legislativo ou judiciário, ou ainda em outras formas de prejuízo à sociedade.

    Nós temos muitos políticos de qualidade duvidosa, juízes pilantras e , O QUE NUNCA É COMENTADO, muitíssimos empresários de caráter temerário, e propineiros de guarda no plantão de cada esquina.

    A sociedade como um todo tem que se discutir. Visto que o Estado, e sua burocracia no sentido weberiano, é expressão da sociedade e de sua história.

    A propósito: a Polícia Federal é um agente do Estado. Zuleido é um agente dessa linda sociedade civil.

  11. Também já pensei muito a
    Também já pensei muito a respeito desta questão. Que força política poderia desatar esse nó? Obviamente, uma força que tivesse interesse e condições para tal. A conclusão a que cheguei é que esta força poderia ser composta pela classe média assalariada e contribuinte, em aliança com as universidades públicas (sobre o papel das universidades, vide meu artigo A Universidade Pública e os Desafios do Desenvolvimento, publicdo em Inteligência Empresarial. , v.22, p.18 – 23, 2005).

  12. A nacao brasileira ja deu
    A nacao brasileira ja deu provas de nao estar muito interessada no que max webber dizia. segundo o sociologo, o Estado moderno teria o “monopolio legitimo da violencia”…e ainda assim votamos a favor da comercializacao de armas no plebiscito, a fim de difundir a cultura do bang bang…no que diz respeito a reformas no Estado o conservadorismo nativo nao ‘e diferente

  13. Caro Daniel,
    Não se trata de
    Caro Daniel,
    Não se trata de mais ou menos Estado. Isso é uma questã religiosa e religião não se discute.
    Trata-se de mais ou menos eficiência.
    Exagerando, se vc colocar 70 ministérios ou 10 ministérios, vc não está me dizendo nada em princípio. Quero saber o que vai ser feito e a que custo. Todos nós sabemos que há ministérios e ministérios…
    Outra coisa: Muitas vezes custa mais não ter o trabalho feito do que gastar para fazê-lo. Deveríamos ter aprendido isso depois daquela estupidez que o Collor fez logo que entrou, proibindo obras e contratações e mandando que se fizesse um corte imbecil linear de 20% no pessoal. Lembra no que deu? Prejuízo.
    É PLANEJAMENTO o que falta, com metas a serem seguidas e caminhos traçados. Tão simples e trabalhoso quanto isso. Mas há economistas e políticos que não querem trabalhar e muito menos pensar…

  14. Edundância Reduntande!


    Edundância Reduntande!

    Já havia comentado isso em outra matéria, mas não custa nada repetir…

    Todos nós culpamos os políticos, como se só ELES fossem culpados, de fato são, mas não são sozinhos…

    Quem votou neles?

    Não quero ser pessimista -para frente Brasil, para frente!- mas tenho que ser realista…

    Quem já não deu, ou conhece alguém que já deu um “jeitinho”?
    Muitas vezes até somos obrigados devido á “maquina montada”.
    Para tirar uma CNH, para conseguir um RADAR, uma licença…

    A gente peca pelo ato ou pela omissão.

    Infelizmente cada povo tem o governo que merece…. se eles tivessem tomado o poder, mas não, foram eleitos…
    O que mais doi é que nós votamos nos ‘Malufes da vida’.

    Enquanto a população continuar discutindo ‘Saudações PT X Fora FHC’ -nós temos 3 poderes e não só o Executivo-, os verdadeiros canalhas perpetuam suas raizes no congresso fazem leis mal redigidas que dão margens a erros, a jeitinhos e emperram a máquina, emperram as leis, gastam milhões, vão trabalhar quando querem, não aprovam nada e assim o pais anda…-pra frente Brasil, para frente!-.

    O Judiciário é outro que não faz nada, NÓS não fazemos nada e assim o circo passa, a palhaço dança e nós ‘malabaristas’ vamos ‘tocando’.

    Precisamos de mais sites de jornalistas sérios mostrando o perfil dos nossos parlamentares, para que não seja cometido novos erros.
    A Internet é um ótimo meio de divulgação.

    Enquanto não houver punição REAL, não haverá democracia,
    pois não há equidade.

    Mudar esse quadro só depende de nós!

    Mas por onde começar? Pelas nossas atitudes?

  15. Cara Regina,
    se Weber é guru
    Cara Regina,
    se Weber é guru do PSDB, é problema do PSDB e não de Weber. A obra de Weber entrou no Brasil especialmente por uma temática que, no conjunto total de sua obra, é secundária, a temática do patrimonialismo, a partir de “os donos do poder”, de Raymundo Faoro – embora Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, também tivesse marcantes influências weberianas. Pois bem, embora seja verdade que o PSDB, e FHC e Bresser Pereira, entre outros, tenham se utilizado do conceito de patrimonialismo para alimentar políticas neo-liberais, que partiam do suposto de que o Estado brasileiro deveria ser reduzido e privatizado a qualquer custo, o conceito de patrimonialismo, no Brasil, levou muita água ao moinho da esquerda tb. A começar pelo mestre de FHC, o socialista Florestan Fernandes, que sofisiticou sua análise marxista da sociedade brasileira com o conceito de patrimonialismo. Marilena Chauí fala de patrimonialismo, Fernando Haddad tb, Francisco de Oliveira tb, e até mesmo um anarquista como Maurício Tragtenberg se baseia fortemente em Weber – embora nem tanto pelo patrimonialismo mas pelo conceito weberiano de burocracia, que para o mestre alemão era bem mais que uma questão político-administrativa, era o tipo específico de racionalidade e de padrão de dominação política do mundo moderno ocidental. A recepção do conceito weberiano de patrimonialismo no Brasil é muito complexa e interessante, e diz muito sobre o próprio cenário político-ideológico brasileiro nos últimos tempos. Publiquei um artigo na revista Dados, do Iuperj, falando um pouco sobre isso: “o patrimonialismo em Faoro e Weber e a sociologia brasileira”. Está disponível, gratuitamente, na internet. Qto à trajetória política de Weber, ele nunca foi, é certo, esquerdista ou socialista, mas nunca “militou em partidos muito conservadores”, até porque não militou propriamente em partido algum. Ele um liberal, autêntico, em uma sociedade cujo liberalismo não tinha vez, imprensado entre um estado elitista, autoritário, monárquico e militarista, de um lado, e as forças esquerdistas/socialistas do partido social-democrata e dos marxistas, de outro. Weber era crítico a ambas essas forças, nem por isso deixou de ter como aluno e amigo um esquerdista como Robert Michels. Ele participou ativamente da elaboração da Constituição de Weimar, que não tinha nada de conservadora – o artigo que cria e disciplina as CPIs é creditado a ele. Em suma, Weber foi uma figura complexa e sui generis, reduzí-lo a “conservador” e “guru do PSDB” é de um simplismo total.

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