Nova Direita e falsificação genealógica, por Christian Lynch 

Vão parar na genealogia dos reacionários radicais que xingam dia e noite na rede social, agindo de um modo e advogando uma pauta que eles jamais defenderiam.

do Portal Disparada

Nova Direita e falsificação genealógica

por Christian Edward Cyril Lynch 

Nas últimas décadas houve um trabalho pesado de think tanks voltado para a ressignificação dos conceitos políticos, a fim de legitimar a nova direita contra os regimes social-democratas.

Os neoliberais lá atrás também passaram a monopolizar a etiqueta liberal para recuperar a expressão que havia sido jogada fora na década de 1920. Liberal de mercado passou a ser sinônimo de verdadeiro democrata, e o resto é autoritário, inclusive social democrata.

Para os reacionários radicais, por sua vez, nazismo e fascismo viraram regimes “de esquerda” para a nova direita radical, para que ele pudesse recuperar elementos nacionalistas facistas sem carregar o peso do passado. Ao mesmo tempo passaram a se chamar inocentemente de “conservadores”, como se gente que se orienta conforme Carl Schmitt e René Guenon tivesse alguma coisa a ver Churchill.

Nos dois casos, esses “novos conservadores” e “neoliberais” inventaram uma genealogia falsificada que faz com que Locke e Stuart Mill acabem em Hayek ou Milton Friedman; ou que Burke e Disraeli acabam em Steve Bannon ou Olavo de Carvalho. Ou seja, são “neoliberais” que querem selecionar seus antepassados e surrupiar a herança liberal clássica; e “reacionários”, às vezes fascistizantes, que querem surrupiar a herança do conservadorismo liberal.

No caso brasileiro, o mais estranho é a necessidade de replicar a fórmula, na qual absolutistas ilustrados intervencionistas, como José Bonifácio, e liberais moderados como Dom Pedro II, ou whigs como Joaquim Nabuco, vão parar na genealogia dos reacionários radicais que xingam dia e noite na rede social, agindo de um modo e advogando uma pauta que eles jamais defenderiam.

Porque não montam suas árvore com seus legítimos antepassados? Alberto Sales, Joaquim Murtinho, Otávio Bulhões, Roberto Campos, no campo neoliberal; e Brás Florentino, João Mendes, Jackson de Figueiredo, João Camilo de Oliveira Torres, no campo conservador reacionário?

Não é possível que essa turma deseje que até suas árvore genealógicas sejam fake.

 

Redação

1 Comentário

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  1. A afirmação final só pode ser retórica. No entanto, não dá pra ter certeza mais de coisa alguma.

    A facilidade com que neoliberais e fascistas se associam e se dissociam do que quiserem se deve a uma operação muito simples: o amor aa desigualdade. Assim sendo, qualquer um que denuncie o fato social mais gritante das sociedades contemporâneas é “comunista”. Ninguém deve perder de vista: pra conservadores a desigualdade é um fato, por assim dizer, natural, sempre foi assim e assim sempre será. Ou, em outros termos, é bom que seja assim porque assim sempre foi. Para os neoliberais a desigualdade é boa porque levaria aa competição e ao aumento da produtividade, etc.

    É obvio que são duas tolices. Tanto a desigualdade é criada socialmente quanto, em níveis absurdos como se vê, ela é até contraproducente, atrapalha a produtividade, pois os “de cima” se acomodam e os “de baixo” se desalentam. Portanto, toda essa defesa cada vez mais radical da desigualdade tem o objetivo (claramente contrário ao artigo 3° da CF) de ocultar, e até mesmo criminalizar aqueles que iluminam a realidade mais obvia. Não se pode, enfim, falar em sala de aula, na mídia, em lugar algum, pois seria coisa de “comunista”, “radical”…E por aí vai.

    E, por fim, sabemos que contra o “comunismo” e o “socialismo” vale tudo e qualquer coisa, inclusive a boçalidade e a mentira.

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