A miséria da economia

O jornalista Ribamar de Oliveira, em sua coluna de hoje no “Estadão”:

“A inflação está em queda, os indicadores fiscais melhoraram, o crédito está em expansão, os riscos da economia mundial diminuíram, as exportações brasileiras estão em ritmo acelerado, as reservas internacionais nunca foram tão elevadas, o risco Brasil bateu recorde de queda e a cotação do dólar despencou, o que retira qualquer perspectiva de pressão inflacionária para os próximos meses. Em um cenário tão benigno como este, é difícil entender os motivos que levam o Banco Central (BC) a manter um ritmo tão lento de redução da taxa de juro”.

O economista-historiador Marcelo de Paiva Abreu:

“Os críticos mais radicais da política de juros insistem no mito de que a apreciação cambial decorre exclusivamente da diferença entre juros no Brasil e no resto mundo, a despeito dos maciços saldos na conta comercial. Dado que a política de juros decorre das metas inflacionárias fixadas, os críticos mais audaciosos sugerem que as metas inflacionárias poderiam ser flexibilizadas e que algum aumento da inflação seria mal menor, ‘perfeitamente tolerável’. Seria reconfortante se tais recomendações não tivessem partido exatamente daqueles que há quase 30 anos defendiam ‘um pouco mais de inflação’ e que se viram, logo em seguida, obrigados a defender a estabilidade da inflação de 200% como grande feito da política econômica”.

Marcelo é um historiador econômico respeitável, dos melhores que temos. Natan Blanche é um velho garimpeiro, que depois que entrou no mercado aprendeu, como um craque, a levantar argumentos econômicos (qualquer deles) em defesa dos ganhos do mercado. É uma arte. É capaz de citar David Ricardo com desenvoltura, dar aulas sobre déficit público, da mesma forma que um garimpeiro separando pepitas na bateia. Ouve a enorme balbúrdia econômica em volta dele, depois extrai dois ou três argumentos que, pimba!, viram lugar-comum, batem direto no pensamento monofásico da mídia e se tornam slogans.

Pois nas discussões do dia a dia, o professor-doutor Marcelo de Paiva Abreu se baseia no livrinho de slogans de Natan. Não é dado a sutilezas, como o exercício da dúvida sobre se a política monetária está correta ou não, como faz o jornalista Ribamar. Caricaturiza, para poder argumentar, porque ele não veio aqui para explicar, mas para duelar.

A maior parte das críticas consistentes à política monetária coloca que, dado o quadro atual, os juros deveriam ser reduzidos com mais vigor, porque os riscos de inflação são mínimos. Marcelo diz que os críticos querem a volta da inflação, e ponto final. Por dessas falsetas da edição, o crítico Ribamar ficou na mesma página de Marcelo levantando argumentos inteligentes. E Marcelo duelando com os neobobos imaginários que ele criou para poder bater.

Os críticos da apreciação cambial notam que haverá perda substancial de agregação de valor na indústria. O historiador Marcelo sabe bem o significado desses processos. Mas seu argumento é quem combate o câmbio apreciado são os hierarcas da FIESP, e ponto final.

Se colocasse os dois artigos para alguém ler, sem mencionar o autor, aliás, é possível que dissessem que o de Ribamar é o de um acadêmico rigoroso; e o de Marcelo o de um jornalista populista, querendo agradar seus leitores.

Mas, para um discípulo de Natan, o “gênio do senso comum”, até que Marcelo se sai bem.

Luis Nassif

16 Comentários

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  1. Luis, a frase do Marcelo
    Luis, a frase do Marcelo realmente esta uma m$%$#. Quem esta argumentando que a apreciacao se deveu “exclusivamente” aos juros altos? Neo-bobos imaginarios.. — Essa voce acertou na cabeca!

  2. Bom dia, Nassif. Uma das
    Bom dia, Nassif. Uma das coisas mais irritantes e canalhas do momento é o artifício de criar personagens ou argumentos imaginários para duelar. Por exemplo, ontem, na Folha, a respeito de um estudo da Tendências que afirma ser este o melhor momento da economia brasileira desde o milagre econômico da década dos 70. Pois bem, como o contraditório, por mais babaca que seja, precisa ser feito, lá vão os analistas a falar que não concordam, POIS AINDA FALTA MUITO A SER FEITO, REFORMA TRIBUTÁRIA, TRABALHISTA, ETC. Mas, Cristo, onde a Tendências disse que está tudo 100%, que nada precisa ser mudado? Em lugar nenhum, apenas comparou índices e conjunturas de um período e de outro, e concluiu. Um personagem fantasma, um argumento que não foi exposto, foram criados para um debate desnecessário.

  3. Nassif, podría comentar
    Nassif, podría comentar también a materia da folha de Sao Paulo. No blog entrelinhas do jornalista Luiz Antonio Magalhaes … ele (diga- se de pasagem “como sempre”) enaltece o governo Lula e a economia … podrías comentar sobre a investigaçao da folha … creo que seria interesante

    Blog Entrelinhas
    Deu na FSP: economia nunca esteve tão bem
    Pode parecer incrível, mas está na Folha de S. Paulo: Economia do país nunca esteve tão bem, diz estudo (só para assinantes). O estudo em questão é da consultoria Tendências e revela que o Brasil jamais teve os fundamentos de sua economia tão sólidos quanto agora, sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

  4. Divertido é que o fato
    Divertido é que o fato torna-se mito… em todo o mundo saldo comercial nunca ditou direção do movimento de moeda nenhuma… Todo mundo que tentou ganhar dinheiro com o mercado de moedas apostando em fundamentos foi à falência, e os “bobos” que passaram a vida apostando nas moedas que pagam mais juros, ficaram milionários… mas é tudo mito… é mito o fato de que aprecia-se a moeda que melhor rentabiliza o capital (quer via juros, quer via expectativa de crescimento, que por ganhos substantivos de produtividade) pouco importa o fluxo comercial. Fluxo comercial entra tão somente num balanço de riscos: um país deficitário tem somente que rentabilizar mais o capital do que um país superavitário. Mas é tudo mito: a realidade mesmo é que estamos na iminência de um processo inflacionário aqui no Brasil. Ninguém consegue ver, ninguém consegue ouvir, ninguem consegue tocar, mas que é realidade, ah isso é….
    Ruben

  5. Na Argentina de Menem, no seu
    Na Argentina de Menem, no seu apogeu, dizia-se que nunca economia esteve tão bem, a Argentina era a estrela dos emergentes, Soros e Benetton compravam estâncias magnificas, Eduardo Cosentino arrematava o mais caro quadro de um pintor brasileiro, O “Anapuru” de Tarsila do Amaral, por US$1,3 milhões, a luxuosa restauranção de Puerto Madero era o símbolo da nova Argentina, o Ministro da Economia e o Presidente Menem eram capas das revistas de negócios americanas e inglesas.
    As sementes do desastre, tal qual as celulas iniciais de um tumor, já estavam lá e ninguem via.
    A Fundacion Mediterranea, uma especie de Tendencia Consultoria, se encarregada de propagar a euforia, criada por seu diretor, Domingo Cavallo, Ministro da Economia da festa, muito apropriadamente denominada “Pizza con Champan”título de uma biografia de Menem.
    A causa do desastre : a sobrevalorização do Pêso, a moeda foi mantida super-valorizada por um conluio entre o Governo argentino e o mercado financeiro, o primeiro usufruia da popularidade do Peso-dolar e os mercados nadavam de braçadas nas arbitragens e manipulações da moeda artificial.
    Tudo ruiu porque tinha que ruir, a euforia não tinha base real, a grande diferença é que os argentinos escorraçam os pais do desastre, que tem que fugir ou se esconder. Aqui escrevem artigos na Folha, no Globo, dão palestras, fundam bancos e faturam alto com consultorias. O carater hispânico é geralmente mais duro com os vilões, aqui até o desastre tem torcida antes, durante e depois.
    Temos uma alta produção de basbaques, baba ovos, deslumbrados e bobo alegres por todo lado, na mídia, nas associações empresariais, nas Federações de Industria e do Comércio, na classe média alta globalizada. Tem gente que adora bater palmas para qualquer coisa e se encanta com o rufar de tambores da média euforizada.
    O último bastião crítico da grande imprensa, a FOLHA caiu de vez e hoje lidera as “cheerladers” do time titular da Casa das Garças, encastelados no Banco Central.
    Que pelo menos se registre para a história.

  6. São babacas quem falam que
    São babacas quem falam que nuncanestepaiz a economia esteve tão bem.

    Nós estamos apenas subindo na onda dos preços das comodities, que provocam uma enxurrada de dólares para o país, que fez o dólar cair e com isso a inflação está baixa.

    Mas a onda sobe, e depois desce.

    Ou surfamos na crista da onda com políticas industriais de desenvolvimento ou vamos descer inexoravelmente.

    Quanto ao dólar, ele não flutua, ele submerge.

  7. A constatação em tudo isso é
    A constatação em tudo isso é a perplexidade que os cérebros econômicos estão VIVENDO. Não há lógica no momento que consiga prever o dia seguinte , estavos num tunel de vento acelerando e sem saber o que há mais adiante. Esta falsa sensação de crescimento é apenas inchaço , como o vento , não se sabe de onde vem nem para onde vai , não fôra assim , já se teria delineado um Horizonte , não há um que se atreva fazê-lo todos especulam , tem palpites etc…De cotidiano apenas , juros altíssimos , carga tributária despótica , inércia governamental e agora negociatas mil no PAC que ainda nem do papel Saiu , algo me incomoda , porque os responsáveis pelo Ministério da previdência e assistência Social , não são responsabilizados juntamente com os membros do Governo pela transferência de Fortunas para outras finalidades e outras contas do Governo? Onde estão os Procuradores , os Promotores etc…Volumes enormes que poderiam suprir a falta de verba que deixa no Caos o Atendimento da Saúde , cancela auxílios doença de pessoas doentes , impede a fabricação e distribuição de muitos medicamentos necessários , só cobre cirurgias e tratamentos especiais após decisão judicial de segurados comuns que contribuiram como todo mundo , que já sugere alteração para pior no tempo , idade e forma de aposentadoria? Por falar em descalabro mais denúncias de corrupção e desta vêz mais alto ainda?
    .’. André

  8. Bem lembrada a analogia com a
    Bem lembrada a analogia com a Argentina. Câmbio errado, juros altos, ajuste fiscal mal feito e carga tributária estúpida não pode dar coisa boa.
    Curioso é que essas coisas são meio que recorrentes aqui na LA …
    E tem quem se encanta,

  9. Posso estar sendo mal
    Posso estar sendo mal informado,porem uma fonte muito próxima de um dos cardeais que ditam as regras do COPOM,acaba de me informar que na próxima reunião daquele órgão,a taxa cairá bem abaixo do que esperam os mais otimistas.Aproveitando esta dica(tomara que seja verdadeira)assumo a pergunta ao feita ao analista,pelo leitor Pedro Spineda:Será que o ilustre crítico,teria a humildade de admitir que nem só de “demonios”está composta aquela comissão,que têm o poder de decidir os rumos da Selic,assim como controlar(se podemos chamar a isso de contrôle)o cambio nacional ?Como diz o Dirceu,é esperar pra conferir,o resultado da próxima reunião,e os comentários a respeito dela.

  10. Um monte de posts criticou(a
    Um monte de posts criticou(a exemplo do signatário do mesmo)a declaração corajosa do Antonio Ermírio,na Folha de ontem,sobre a situação da nossa economia,que conforme aquele empresário,agora definitivamente cresce,sem alardes de “milagres”que pouco tempo depois viravam “pó”e creditam ao crescimento do seu grupo,as exportações de commodities,o que não procede por inteiro.O grupo Votorantim,como todo grande conglomerado brasileiro,sempre viveu debaixo das asas do governo federal,que “zerava”seus problemas com isenções fiscais,e incentivos,as suas choradeiras,noutros tempos.Agora com o novo conceito de governar,desta gestão,eles tiveram a sensibilidade de atuar em várias frentes e focar resultados de verdade,cortando gastos,sem despedir ninguem,e o resultado nem demorou a aparecer.O presidente deste grupo disse na Folha,que a mudança exige coragem e atitude,em vez de ficar chorando o “leite derramado”Com o dólar em baixa,ou com as exportações desinteressantes,é preciso migrar para o mercado interno e ter competencia para concorrer com os adversários,que na nossa falha,invadem a nossa praia.

  11. Nassif,se eu não tivesse o
    Nassif,se eu não tivesse o mais profundo respeito pessoal e profissional pela sua pessoa,responderia às suas provocações,com críticas a algumas contradições suas,que certamente você não acharia graça nenhuma,entretanto… Agora descontada a ironia,escrever que eu defendo a teoria economica-criminosa que foi praticada pelo Malan,é muito pra cabeça,meu amigo !Claro que na sua (dele)ortodoxia,ele em algumas ocasiões,acertava,o que é muito diferente da atual condução da política do atual governo,que tem um compromisso,e tenta cumpri-lo,de apagar o “incendio”que aquele catedrático deixou.Só isso.

  12. Nassif, esse tema do juros
    Nassif, esse tema do juros está gerando uma discussão estéril e desviando a atenção de outros problemas. Me explico, é lógico que os juros estão altos, mas no momento não são o maior entrave do país, embora o mais fácil e rápido de ser resolvido, pois basta alguns burocratas desistirem da sua teimosia messiânica, acho até mesmo que enquanto durar a pressão eles não vão abrir mão de seu “poder”. Hoje a economia não cresce devido a impostos obcenos, uma burocracia sufocante, um estado PACdérmico e uma ineficência administrativa. Chega a ser rídiculo num país com um quinto da renda per capita de um país rico pagar o dobro do preço por produtos similares ou inferiores aos importados. Creio que devemos bater forte nessas teclas, inclusive chegando aos limites contitucionais de uma revolta civil (sim por que não), pois anos de passividade e conversas insossas só geraram mais descaminhos e injustiças. No momento líderes de fancaria fingem que governam em benefício do país e o estado das coisas só piora. Creio que chegou a hora de falar mais alto para ser ouvido no meio da ignomia que se tornou a nação.

  13. Alcer, não sou contra idéias.
    Alcer, não sou contra idéias. Sou contra simplificações grosseiras. Quanto ao conceito de pátria, nação, não são conceitos bem vistos pelo Marcelo. O que me leva a crer que sua defesa dele tem muito mais caráter pessosal do que afinidade de idéias. Não faço patrulhamento ideológico nem acusações levianas.

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