A necessidade de uma nova classe rica para a nova classe média

Sugerido por José Carlos Lima

Da Rede Brasil Atual

Falta uma ‘nova classe rica’ para atender à nova classe média
 
Há ainda um segmento empresarial arcaico, sobretudo ligado ao rentismo e pouco chegado ao trabalho, que fica apenas procurando números nas contas nacionais para criticar
 
por Helena Sthephanowitz
 
Entre a renda pela especulação e as duras penas do investimento produtivo, empresários querem a primeira
 
O colunista Joe Nocera, do jornal The New York Times, fez um rolezinho no Brasil, e gostou do que viu: uma classe média emergente na última década que, para ele, deveria ser modelo para os Estados Unidos, onde ocorre o inverso, com a classe média decaindo. Contou que ouviu de economistas brasileiros críticas sobre o crescimento menor do Produto Interno Bruto (PIB) e que faltariam ganhos em produtividade para sustentar a volta dos investimentos. Não saiu convencido destas críticas, já que a economia mundial nem se reergueu ainda, mas o Brasil continua ostentando um crescimento sólido, mesmo que em ritmo menor.
 
Em sua coluna escreveu elogios ao Brasil sobre a queda na desigualdade de renda, o baixo desemprego e mais de 40 milhões de pessoas saindo da pobreza. O artigo conclui que a prosperidade da classe média é mais importante do que o crescimento maior do PIB para poucos, como na era do “fazer o bolo crescer, para depois dividir as migalhas”.

 
O artigo é pertinente porque lembra também a questão: afinal quem é o verdadeiro “vilão” no crescimento menor do PIB?
 
Certamente a crise internacional tem seu peso, afinal quase todos os países estão importando menos, prejudicando o setor exportador. Por outro lado, houve também desova da produção encalhada em países em crise, aumentando a concorrência de importados no mercado interno. Mas não é só isso.
 
Qualquer empresário sabe que o principal fator de sobrevivência da empresa é ter clientes. Ele pode ter um excelente produto, bons preços, um ótimo estabelecimento, mas, sem clientes, as portas fecham. E a chamada nova classe média, aquela que teve maior aumento da renda nos últimos anos e passou a ter poder aquisitivo para consumir mais coisas, são os clientes que os empreendedores precisam.
 
Muitos empresários responderam bem aumentando a oferta para atender a demanda desta nova classe média que injeta mais de R$ 1 trilhão na economia por ano. O número de abertura de pequenas empresas, a maioria no setor de serviços, bate recordes. E como há clientes, elas têm sobrevivido. Em 2002 a taxa de mortalidade empresarial era de quase 50% até o segundo ano, de acordo com estudo do Sebrae. Caiu para 22% em 2005.
 
Vários grandes empresários também estão aproveitando as oportunidades. É o caso de Luiza Trajano, do Magazine Luiza. Convidada para o programa Manhattan Connection, do canal de TV Globonews, demoliu uma a uma as críticas rastaqueras à economia, comuns entre jornalistas da mídia tradicional, mostrando que setores da economia, como o varejo, estão bombando no Brasil.
 
Mas há ainda um segmento empresarial arcaico, sobretudo ligado ao rentismo e pouco chegado ao trabalho, que se enxergar pepitas de ouro ao lado de uma poça d’água, em vez de garimpar, prefere ficar reclamando do governo pela poça. É essa gente que é incapaz de oferecer à nova classe média o que ela quer, e fica apenas procurando números nas contas nacionais para criticar. Alguns chegam a sugerir aumento do desemprego, outros como os donos da Rede Globo, em editorial do jornal pedem o fim de ganhos reais no salário mínimo, o que levaria a renda de milhões de famílias a perder poder aquisitivo, e empresas a perder clientes.
 
No crescimento do PIB, desde a crise internacional, o consumo das famílias, quase sempre, tem contribuído mais do que a formação bruta de capital fixo, à exceção de 2013. Traduzindo: a nova classe média está fazendo sua parte pelo lado da demanda para o PIB crescer, já uma parte da classe rica empresarial não está correspondendo nem para aproveitar as oportunidades.
 
As políticas econômicas governamentais nos últimos dez anos levou ao crescimento do emprego, da renda das famílias e, consequentemente, do mercado interno. Essa nova classe média deu ao empresariado o principal fator de sobrevivência para a empresa, a clientela. Falta uma “nova classe rica”, mais empreendedora e menos rentista, para suprir essa nova classe média pelo lado da oferta, para o PIB crescer mais.
Redação

11 Comentários

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  1. O artigo é muito bom e tocou

    O artigo é muito bom e tocou num ponto pouco abordado: o perfil da nossa elite.

    De fato, nossa elite ainda tem uma forte inspiração ibérica. Gosta mesmo é de ganhar dinheiro com renda de imóveis e juros pagos pelo Governo. 

    Ou seja, nossa elite é tudo, menos capitalista. Ela é mercantilista, na pior acepção do termo.

    Precisamos, portanto, de uma elite mais capitalista, essa é a verdade. O autor nao disse, mas o que está por trás da “elite que gosta de trabalho” é o bom e vgelho capitalismo. É a “teoria da prosperidade” que os evangélicos abraçam com tanto furor.

    Precisamos, portanto, fazer a nossa “revolução liberal”. Para isso, precisamos incentivar o empreendedorismo, melhorar o ambiente produtivo e, principalmente, reformar o sistema tributário para deixar de penalizar que produz e consome e passar a tributar mais quem simplesmente acumula patrimônio e nao produz uma agulha.

    Mas a questao é essa: precisamos de um choque de capitalismo.

    Vocês vao dizer que estou errado, que isso, que aquilo. Mas o que o Nassif vem escrevendo há meses, o que o Governo vem tentando afzer há anos e que o Autor do post escreveu é exatamente isso. Precisamos de mais C-A-P-I-T-A-L-I-S-M-O.

    É isso que nos fará avançar. Num momento em que o modelo de consumo e transferência simples de renda passa a demonstrar esgotamento, é necessário fazer reformas que permitam a classe média emergente evoluir ainda mais. 

    Noutras palavras, dado que o “colchão” assistencial já está consolidado, é hora de avançar. E isso significa permitir que essa classe média –  que é, sim, liberal burguesa, por mais que vocês nao queiram admir – avançar.

    São essas pessoas, que cresceram com a força do seu trabalho e nao com herança, pensão, aluguel ou cargo público, que irão nos transformar numa nação próspera.

    São eles, os evangélicos que se orgulham de suas conquistas, os trabalhadores que ascenderam à classe média, a molecada que curte “ostentar” e etc que irão nos levar a outro patamar.

    Nao se enganem. Eles é que serão a nova elite. Sabem por que? Eles tem sangue no olho. Eles tem vontade, disposição. Querem crescer, conquistar, prosperar.

    Nao sao como a elite velha que vive a vida inteira com a renda de um apartamento alugado e acha que leva vida de fidalgo.

    Essa elite vai ser atropelada. Vai ser atropelada pela nova classe média capitalista. Isso já está ocorrendo. O rolezinho é apenas um indício desta mudança.

    Em breve o “rolezinho” será nas grandes empresas, no governo, nas universidade. É um processo que nao tem mais volta.

    Querem ver um exemplo: Zona Sul x Barra. A Zona sul é o típico reduto da elite mercantilista carioca, da “nobreza falida”. A Barra da tijuca, por sua vez, é o reduto do capitalismo emergente.

    Perguntem quem cresce mais rápido.  

    Escrevam o que estou dizendo. Nosso futuro está em criar condições para que o capitalismo aflore e permita que estas pessoas prosperem e nos transformem de uma socieade mercantilista-ibérica para uma sociedade capitalista e próspera.

    A ver.

    abs,

     

     

    1. Ok, mas eu vou dar um “choque

      Ok, mas eu vou dar um “choque de socialismo” nesse seu “choque de capitalismo”. Não o socialismo do tipo daquele velho, de almanaque. Outro.

      Veja bem, uma das razões do pouco investimento é que a economia oligopolizada como a brasileira instaurou o capitalismo sem risco no Brasil.

      Como se pode ler num post aqui mesmo no Nassif, são 20, as empresas, donas da economia brasileira. E o artigo deu nomes aos bois, quem controla. Pois exatamente por isso, essas poucas cabeças acabam decidindo se um país inteiro vai investir, aumentando a oferta, ou não.

      Lucrar eles sempre vão, pois sabem que para combater a inflação gerada pelo desequilíbrio demanda/oferta, o governo vai aumentar juros. E lá estará no mercado financeiro a grana deles esperando por isso.

      Uma das formas de desatar esse nó é colocar em questão a necessidade dos trabalhadores das empresas participarem das decisões de investimento.

      Aí o bicho pega! Pode até derrubar governo. Isso é muito mais revolucionário que quebrar vidaraça do Itaú. Mas é  a unica forma de superar o capitalismo sem risco em curso do Brasil desde priscas era

       

  2. Faz tempo que eu não escrevo

    Faz tempo que eu não escrevo no blog, e vou repetir meu comentário de sempre.

    Não precisamos de uma classe rica. Precisamos nos tornar um país de classe média.

    Num país de classe média — como na Holanda, onde moro — um desenvolvedor de softwares mora do lado do lixeiro.

    Todo mundo ganha entre 1 e 3 salários mínimos. Salários maiores do que isso são taxados em mais de 52%.

    ***

    Precisamos rever urgentemente o nosso sistema de impostos que coloca na mesma alíquota o sujeito que recebe R$ 4 mil e o que ganha R$ 40 mil.

    A minha sugestão para isso é criar duas novas alíquotas 40% e 50%.

    Estas alíquotas poderiam ser colocadas nas faixas de salário acima de R$ 12.5 mil e R$ 25 mil respectivamente.

    ***

    Note que estes patamares são muito maiores do que os holandeses, de forma que, por si só, não vão acabar com a desigualdade. Mas ajudarão a *reduzir* a desigualdade, particularmente as diferenças abissais entre os maiores e os menores salários.

    ***

    Entre outros benefícios, esta proposta reduzirá o prejuízo causado por super-salários no funcionalismo público. Se um auxiliar da câmara receber R$ 30 mil por mês, uma boa parte deste valor retornará para o governo na forma de impostos.

    ***

    É difícil aprovar uma proposta como esta? É.

    Mas o melhor momento para apresentá-la é na época das eleições para deputados e senadores. Ou seja: este ano.

    Os deputados poderão até mesmo rejeitar a proposta; mas serão responsabilizados eleitoralmente por isso.

    ***

    Que tal um projeto de lei de iniciativa popular? (Alguém sabe como fazer?)

     

    1. Se o modelo é do Welfare

      Se o modelo é do Welfare State visto na Holanda, Suécia, Noruega, ainda continuamos precisando de uma “nova classe rica”.

      Holanda sempre fez parte do clube dos países que tinham colônias ultramares. Sempre foi metrópole, gerando excedentes de capital que hoje vemos aí, na forma de diversas multinacionais que elevaram o PIB per Capita a níveis altíssimos e possibilitam o bem-estar do advogado, do médico, do lixeiro e do faxineiro holandês. Assim, eles possuem também uma elite riquíssima, que paga mais impostos que a nossa claro, mas ainda muito afortunados.

      Aqui, no Brasil, podemos e devemos distribuir melhor nossa renda não só elevando o Imposto de Renda (medida que, convenhamos, penaliza mais a classe média assalariada que nossa elite rentista), mas também tributando mais contundentemente os ganhos financeiros, a grande fortuna e a herança.

      Nós podemos e devemos distribuir melhor nossa renda, mas com o PIB per Capita nos patamares nossos, ficaríamos mais perto de Cuba do que Holanda, ou Suécia. Se queremos ser iguais aos europeus, nosso capitalismo ainda tem muito a se desenvolver.

      1. Muito bom comentário.
         

        Muito bom comentário.

         

        Só uma observação:

        > Aqui, no Brasil, podemos e devemos distribuir melhor nossa renda não só elevando
        > o Imposto de Renda (medida que, convenhamos, penaliza mais a classe média
        > assalariada que nossa elite rentista)…

         

        Minha proposta não consiste em elevar o imposto de renda de maneira genérica, mas apenas criar alíquotas para quem recebe está acima da linha de classe média.

         

        > … mas também tributando mais contundentemente os ganhos financeiros, a grande fortuna e a herança.

        Perfeito.

        Só um detalhe:

        Na Holanda não se taxa a “grande” fortuna, mas qualquer valor acima de 20 mil euros — o que está longe de ser uma grande riqueza.

        Trata-se de uma taxa de 30% sobre um ganho estimado de 4%aa (o que você poderia conseguir com uma boa aplicação). Ou seja: na prática, é um imposto de 1%aa.

         

    2. Na Holanda há outros impostos

      Na Holanda há outros impostos além do IR?

       

      CIDE da gasolina? CPMF? IOF?IPVA?DPVAT?IPTU? fora os impostos embutidos em todos produtos que compramos

       

      no Brasil para se ter ideia, 37%do preco da gasolina é composta por impostos

       

       

      1. > Na Holanda há outros
        > Na Holanda há outros impostos além do IR? Sim. Muitos. > CIDE da gasolina? CPMF? IOF?IPVA?DPVAT?IPTU? fora os impostos embutidos em todos produtos que compramos Existem impostos sobre combustíveis (fuel tax), carro (vehicle taxes), imóveis (property tax), valor agregado (VAT), etc. Além disso, toda a riqueza que você possui é taxada (wealth tax), além da herança (inheritance tax), lixo (waste tax) e até mesmo sobre cães (hondenbelasting). Gatos são isentos. Estes são apenas alguns exemplos. *** Não estou dizendo que o sistema tributário brasileiro não precise ser revisto; precisa. Mas também precisamos corrigir as alíquotas do imposto de renda, que atualmente fazem o ultra-rico entrar na mesma faixa de um cidadão de classe média. Se queremos nos tornar uma sociedade igualitária, de classe média, isso precisa ser revisto. E a única maneira de mudar isso seria com um projeto de lei de iniciativa popular. Alguém se habilita?

  3. Bem, diagnosticar que

    Bem, diagnosticar que precisamos de uma “nova elite” é fácil, difícil é tirar essa “velha elite” do poder.

    Na verdade, todo capitalismo é um pouco dependente do Estado, vide o que ocorreu nos EEUU (ajuda aos grandes bancos que estavam a beira da falência). Só que, a depender da elite econômica e política existente no país, é necessário uma forma determinada de Estado para adequar-se as necessidades dela.

    O Brasil possui a maior taxa de juros do mundo, câmbio aviltante, sistema tributário que pune o produtor e o comerciante, investimento em tecnologia e inovação eternamente insuficiente para quem deseja ser grande potência, tudo isso simplesmente porque nossa elite nunca se preocupou tanto em criar tecnologia, competir internacionalmente no mercado de bens de alto valor agregado.

    Então, este ambiente “anti-mercado”, a que muitos se referem, não deveria surpreender os que conhecem as atividades do “grande PIB nacional”. Tudo, ou quase tudo, em parceria com o Estado. É um tal de pegar obra daqui, concessão de uma estrada dali, financiamento do Bndes de cá, excedente com tributação quase nula de lá, ganhos financeiros pornográficos acolá, e assim vai caminhando a humanidade…

    A formação de uma “nova” classe rica é muito complicada pois, antes de tudo, é preciso ter “ambiente”.

    Se o Bill Gates tivesse nascido no Brasil, ou ele bancaria o Gurgel e naufragaria sob o boicote do Estado e da nossa elite, ou viraria empreiteiro para se enriquecer. Aliás, talvez no Brasil Bill Gates nem seria Bill Gates, porque provavelmente não teria tempo para ser criativo ou inovador, pois passaria o ensino fundamental e médio inteiro num Etapa da vida decorando fórmulas e informação inútil para passar no Ita ou na Poli.

    Não dá para se ver emergir um “novo capitalismo nacional” com o Brasil dando vexame no Pisa, ou com a Usp e Unicamp ficando pra lá do 300º lugar em rankings de universidades internacionais (como o THE). Para competir como potência, precisamos de centros de pesquisa e tecnologia nível primeiro mundo em todas as áreas, e para ter pesquisadores (e não só formuladores de teses) a educação básica precisa estar voltada a formar alunos que saibam pensar autonomamente, e não técnicos-decoradores-de-fórmulas que são despejados aos montes em nossas universidades, tanto pela escola pública, quanto pela privada.

    Então, sei lá. Me diz se alguém lá do andar de cima vai querer a chegada a elite de empresários que pressionem o governo a reduzir juros, promover uma reforma tributária que desonere quase que completamente o consumo e a produção, e a investir muito dinheiro na educação pública, bem como em pesquisa nas universidades e centros de tecnologia (algo completamente alheio a nossa elite rentista). 

    A briga aqui é política sobretudo. A Dilma, no começo do governo, achou que, COM ESSA ELITE, ia fazer ela investir reduzindo juros, conta de luz e isentando de impostos. Descobriu a crua realidade e agora está sem saber  muito bem o que fazer, enquanto a resposta óbvia é que, para realizar esta transição, teria que substituir a ideologia do consenso de classes do “lulismo” por outra, que inevitavelmente deixaria muita gente do andar de cima irritada.

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