O passo maior que a perna da Bertin

Com dificuldades para tocar seus projetos, Bertin negocia venda de ativos Grupo ofereceu usinas termoelétricas a alguns investidores, entre eles a MPX, de Eike Batista 23 de fevereiro de 2011 | 0h 00

Com dificuldades para levar adiante os ambiciosos projetos em que se envolveu nos últimos anos, o grupo Bertin saiu a campo para vender parte de seus negócios. Na área elétrica, o Bertin ofereceu algumas termoelétricas à Cemig, que a princípio não se interessou. Agora, a empresa negocia com outros investidores, entre eles a MPX, do empresário Eike Batista.

Hélvio Romero/AE-1/4/2010

Hélvio Romero/AE-1/4/2010Injeção de recursos. Grupo procura investidores para parceria em grandes projetos de infraestrutura, como o trecho Sul do Rodoanel de São Paulo

O grupo desistiu na semana passada de seu lance mais audacioso, a hidrelétrica de Belo Monte, afirmando que pretendia priorizar outros empreendimentos. A decisão forçou o governo a correr atrás de um substituto para fechar o consórcio Norte Energia, que vai explorar a usina. Quatro empresas estão na mira do governo: Vale, CSN, Alcoa e Gerdau. A Vale já foi procurada.

Na semana passada, a mineradora recebeu de Valter Cardeal, executivo da Eletrobrás e homem de confiança da presidente Dilma Rousseff, convite para voltar ao empreendimento – a empresa era sócia do consórcio que perdeu a disputa por Belo Monte. Ontem, executivos da Vale se reuniram em Brasília para começar a avaliar as condições do negócio. O substituto do Bertin precisa ser definido logo, para que as obras comecem antes das cheias no Rio Xingu.

A desistência de Belo Monte criou um problema para o governo, mas não é suficiente para devolver o fôlego financeiro ao Bertin, que precisa de R$ 10 bilhões até 2014 para tirar seus projetos do papel – sendo R$ 7 bilhões para construção de 31 usinas. Seis delas atrasaram e estão inadimplentes na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). A empresa também foi multada, em R$ 1,2 milhão, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pelo atraso.

Para vender parte dos ativos elétricos, a empresa teria contratado o Banco Votorantim. Procurado, o banco não quis se pronunciar. As termoelétricas do Bertin se tornaram mais interessantes depois que o Congresso aprovou, dias atrás, uma regra que permite mudar o tipo de combustível que vai abastecer as usinas licitadas nos últimos anos.

As do Bertin foram projetadas para operar com óleo. Com a mudança, poderão se abastecer com gás natural, mais barato e limpo, o que torna as usinas mais competitivas. A alteração também seria vantajosa para a MPX, que detém uma grande reserva de gás natural no Maranhão. A empresa de Eike disse que não comenta rumores de mercado. O Bertin, por meio de sua assessoria, disse desconhecer o tema.

Rodoanel. A empresa confirmou, porém, ter contratado outros três bancos para procurar interessados em se associar aos ativos da divisão de infraestrutura. Essa área engloba grandes projetos, como os trechos Sul e Leste do Rodoanel de São Paulo, principais obras viárias do País atualmente. A ideia é capitalizar o braço de infraestrutura do grupo por meio de uma oferta privada de ações. A intenção é fechar a operação até o final do junho.

No início do mês, o consórcio SPMar, formado por duas empresas do Bertin, pediu prorrogação do prazo para o depósito de R$ 360 milhões para cumprir as regras do edital do Rodoanel. A empresa tem até 9 de março para pagar e assinar o contrato.

O Bertin era um dos mais importantes grupos frigoríficos do País até entrar em dificuldades financeiras anos atrás. Foi salvo pelo BNDES, que, com o apoio de bancos privados, convenceu seu rival JBS a absorver o grupo. Em troca, o BNDES apoiou o JBS na compra da americana Pilgrim”s. Desde então, o Bertin tornou-se um grupo com interesse em várias áreas de infraestrutura. Entrou nos dois projetos mais cobiçados do País – Belo Monte e o Rodoanel -, mas até agora não garantiu nenhum.

PARA LEMBRAR

Os problemas mais recentesdo Grupo Bertin começaram com as termoelétricas arrematadas, em 2008, em parceria com a Equipav. Com a crise financeira mundial, o consórcio vencedor atrasou em quatro meses a entrega das garantias exigidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em seguida veio a dificuldade para conseguir financiamento. Alguns deles só ocorreram semanas atrás, quando os projetos já deveriam estar em operação.

Apesar disso, nesse meio tempo, a empresa entrou em projetos de peso, como a Hidrelétrica de Belo Monte. O Bertin teve papel importante no consórcio original formado pelo governo federal, que venceu a disputa. Mas, na semana passada, a empresa decidiu deixar a sociedade na obra para conseguir levar adiante outros compromissos, que somam R$ 10 bilhões até 2014.

Esse volume inclui as obras dos trechos Sul e Leste do Rodoanel de São Paulo. No fim do ano passado, a empresa arrematou o empreendimento oferecendo deságio de 63% no preço do pedágio.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110223/not_imp683229,0.php

Luis Nassif

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