O silogismo dos cabeções

Em seu artigo de quarta na “Folha”, Alexandre Schwartzan – ex-diretor do Banco Central – repisa a questão de juros versus competitividade. O ponto central é que, como a economia brasileira não é competitiva, não haveria como os investimentos acompanharem a demanda. Portanto, sempre que a economia começasse a se aquecer, o Banco Central teria que utilizar os juros para refrear o crescimento, para impedir que a falta de produção provocasse inflação.

É fantástico o raciocínio do Alexandre, a maneira como tira conclusões erradas de informações corretas. Nos meus tempos de aulas de lógica, se chamaria a isso de sofismar.

Confira seu raciocínio:

• Para atender a demanda, é necessário que se aumente o investimento. Correto.

• Tem-se hoje em dia uma economia pouco competitiva, com excesso de impostos, burocracia, carência de infra-estrutura, fatores que desestimulam o investimento. Correto.

• Logo a economia não pode crescer porque os empresários não investiriam para atender a nova demanda. Errado. Se os investimentos hoje em dia já correspondem a 20% do PIB, por quem estariam sendo feitos? Por marcianos?

O problema desses economistas é não avançarem seus conhecimentos além dos manuais. Não se pode entender a economia brasileira sem entender o comportamento de seus principais atores. Economia é ciência humana, n ciência exata.

O que leva uma empresa a investir são duas condições: rentabilidade do investimentos vis-a-vis o custo do dinheiro ou o custo de oportunidade (no caso de recursos próprios); perspectivas de crescimento da demanda.

Recentemente a Bristol-Meyers perdeu uma fábrica de fármacos para a Coréia. A razão alegada pela matriz foi a estagnação do mercado brasileiro. É evidente que seria muito melhor se houvesse um aumento competitivo. Mas se o mercado estivesse crescendo, a matriz investiria no Brasil, independentemente da carga de impostos, das cargas de remédio roubadas, do custo do dinheiro. Onde se aplica então o silogismo do Alexandre?

E não apenas a Bristol, mas a Siemens, a Caterpillar e tantas outras multinacionais, sem contar as grandes empresas brasileiras. Ao não permitir o crescimento, com medo da falta de investimentos, os cabeções do BC abortam o investimento.

O processo de tomada de decisão de investimento funciona mais ou menos assim:

1. O mercado de consumo começa a se recuperar. As empresas passam a vender mais.

2. Em determinado momento, a produção começa a bater na capacidade instalada. Nessa primeira rodada, existem várias formas de aumentar a produção sem investir: adoção do terceiro turno, uso de instalações pouco utilizadas, terceirização de parte da produção.

3. Quando, finalmente, se percebe que o crescimento é para valer, tomam-se as decisões de investimento, comparando a rentabilidade do investimento com o custo do financiamento.

Quando aumenta os juros, o BC mata duas vertentes fundamentais de investimento: o crescimento da demanda e o custo do financiamento. Depois alega que o Brasil não pode crescer porque não há investimento.

É evidente que no processo de crescimento podem ocorrer fricções, aumentos de preços localizados, problemas que deverão ser enfrentados à medida que forem surgindo. Há um desafio operacional para não produzir crescimento súbitos, que poderão ser abortados no momento seguinte.

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Luis Nassif

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