Partido da Educação x tirania da escola sem partido, por Fábio de Oliveira Ribeiro

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Tenho visto muita gente discutindo a questão da “escola sem partido”. Os defensores da mesma querem despolitizar a educação. Os adversários da mesma afirmam que a despolitização do processo de ensino é impossível ou inviável.

Os argumentos de uns e outros são relevantes. Mas os dois campos debatem uma questão que desapareceria se fosse colocada num contexto adequado.

Em princípio não existe e não pode existir sociedade despolitizada, pois a política é algo que distingue o homem dos outros animais. Viver na Polis (cidade-Estado) e debater as questões relativas a vida em comum produziu a civilização e a distinguiu da barbárie.

Entre os homens, portanto, o ensino sempre foi e sempre será uma atividade política e politizada. É impossível aprender história sem fazer uma distinção entre o mundo em que vivemos e o mundo em que os outros homens viveram.

Na antiguidade gregos e romanos justificavam a escravidão com base no direito de guerra. Há menos de dois séculos os brasileiros brancos tinham escravos e acreditavam que eram superiores aos negros. Na atualidade a escravidão é crime, o racismo também. É impossível não tomar partido nesta questão porque a própria sociedade brasileira a politizou ao elevar a liberdade e a igualdade racial à condição de princípios constitucionais imutáveis.

Ensinar que a escravidão é boa ou que o racismo é aceitável não seria tolerável. A partidarização desta questão é essencial, pois somente ela garante a preservação da estrutura constitucional que nós mesmos escolhemos.

O mesmo pode ser dito em relação às outras questões educacionais. Afinal, ninguém pode limitar a liberdade pedagógica do professor sem o transformar em escravo ou, pior, numa raça inferior aqueles que querem escolher o que deve ser ensinado e como deve ser ensinado.

É preciso levar em conta outras coisas ao considerar o tema. A escola não é a única fonte de educação. Os alunos são educados pelos pais, parentes e igrejas que frequentam. Eles também são doutrinados pelos meios de comunicação. Todos estes centros não estatais e informais de educação são extremamente politizados. Não adiantaria nada despolitizar a escola preservando a politização no ambiente familiar, religioso e jornalístico. Uma sociedade totalmente apolítica seria possível? Duvido muito que os defensores da escola sem partido aceitariam despolitizar seus lares, igrejas, jornais, revistas e redes de TV.  

De fato, a escola sem partido somente seria possível numa sociedade sem escolhas, sem liberdade, sem igualdade e, de fato, sem educação. Numa tirania os alunos poderiam ser ensinados a ser escravos porque foram derrotados na guerra política ou porque são racialmente inferiores. Nada disto seria possível sem revogar a Constituição e o Código Penal.

Uma coincidência importante também merece ser levada em consideração. A tese da escola sem partido surgiu no exato momento em que o governo provisório desmantela os programas educacionais que popularizavam a educação superior. Os mesmos que atacam a politização da escola defendem o fim do Prouni, do Enem, das cotas nas universidades e do Ciência sem Fronteiras. É evidente, portanto, que eles não querem apenas a despolitização da educação. O que eles querem é impedir que o povo seja educado.

Nesse sentido, o que os defensores da escola sem partido querem é um Estado diametralmente oposto àquele que estava sendo construído pelo PT.  Lula criou o partido da escola, Dilma Rousseff o amplificou ao possibilitar que milhares de universitários fossem estudar na Europa, nos EUA e na Ásia.  Que país queremos? Esta é a questão colocada pelo partido da destruição da educação que chegou ao poder com Michel Temer. Na parte que me toca, creio que o Brasil precisa de mais e não de menos educação e liberdade.

Fábio de Oliveira Ribeiro

9 Comentários

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  1. Este é simplesmente

    um dos principais argumentos de todo os educadores contra o escola sem partido. Ele não paira acima da discussão que vem ocorrendo até aqui, como o início do post quer indicar.

    1. Esta é a sua maneira de dizer
      Esta é a sua maneira de dizer que defende a nova tirania e que não é capaz de apresentar argumentos racionais em favor do tirano?

  2. Sóbrio e moderado, mas vai direto o ponto.

    Ultimamente Fábio de Oliveira Ribeiro estava postando artigos extremamente agressivos e contundentes. Mas este se mostra bem sóbrio e moderado, fazendo a crítica correta, sem exceder no tom. Aprecio textos objetivos e contundentes, mas não se pode exceder e atingir as raias da ofensa e da agressão, mesmo que o momento político coloque os nervos à flor da pele e desperte a ira.

    1. Errado. São justamente os
      Errado. São justamente os doutrinadores tirânicos do lar, das igrejas evangélicas e da imprensa que não desejam qualquer concorrência de uma escola politizada.

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